Realidade

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Probre Clay, dizia meu subconsciente.
Além de perder sua mãe, ganhou um monstro.

Mas isso não vai ficar assim. Eu nunca vou me conformar com esta situação.
Merion me levou para a cozinha, me pôs no chão e começou a me olhar com aquela mesma expressão de antes. Eu estava com muita raiva por ele ter enganado Reyna.
Minha raiva já havia ultrapassado a barreira do limite, e tudo aconteceu rápido de mais...
Só me lembro de ver sangue, uma faca e Merion.
Quando retomei à minha sanidade, ou um pequeno resquício dela, foi que percebi o que acabara de fazer.
Vi vários policiais vindo em minha direção.
Sim, eu tentei matar Merion!
Isso é tudo muito louco. Muito confuso. Talvez tudo faça parte de um sonho...
Eu estava sangrando. Na resistência, Merion me acertou no braço deixando um corte profundo.
Depois disso perdi a consciência.

Abri os olhos lentamente. Minhas pálpebras pesavam. Consegui ver o teto branco e quatro paredes em azul claro.
Tentei me levantar devagar, tudo em mim doía. Notei que eu estava completamente sozinha, e não havia absolutamente nada no quarto além de uma enorme janela com grades. Havia também, várias mangueirinhas instaladas pelo meu corpo.
Me livrei de todas elas e fui caminhando até à porta. Tentei abri-la e estava trancada. Gritei.
_ALGUÉM POR FAVOR?
E nada.
_OLÁ? - gritei novamente.
Estava tudo silencioso.
Tentei inutilmente esmurrar a porta. Mas estava sem forças.
Resolvi me deitar, estava com uma puta dor na coluna, além da sonolência.
Mas algo estava errado. Cadê o corte em meu braço? Não havia nada, nem uma marquinha.
Fiquei pensando...

Não sei quantas horas se passaram desde então, até chegar uma moça usando trajes brancos.
_Até que enfim nossa bela adormecida despertou! - disse ela.
Eu não tinha noção do que estava acontecendo.
_Faz sentido que você esteja confusa meu docinho. Você ficou 95 dias em coma!
Quase engasguei.
_É o quê? - falei completamente chocada.
Ela me olhou com uma expressão quase melancólica.
_Tudo bem. Vou chamar o médico responsável e ele lhe dirá tudo.

Ela voltou em alguns minutos e me entregou uma bandeja com uma sopa.
_Trouxe essa sopinha caso você esteja com fome.
Aceitei e consegui ingerir lentamente.
Depois a moça saiu fechando a porta atrás de si.
Eu me perguntava o real motivo do meu coma. Como é possível uma coisa dessas? Queria muito ver Reyna, mas estava ciente de que não seria possível. Senti lágrimas escorrendo pelo meu rosto.
Após algumas horas a porta se abriu mostrando um belo rapaz de cabelo encaracolado, trajando vestes brancas e óculos de vista.
_Olá Clay! Bom vê-la acordada. Está se sentindo bem? - olhei para ele.
Pelo seu crachá, seu nome era Ren.
Eu tinha muitas perguntas, mas me contive.
_Apesar das dores pelo corpo, estou bem doutor Ren. Quero saber o que aconteceu?
Ele abriu um leve sorriso no canto esquerdo da boca.
_Me chame apenas de Ren. Sei que você está um pouco confusa, mas lhe explicarei tudo.
Concordei com a cabeça e ele continuou:   

_Você estava viajando com seus pais e sofreu um grave acidente de carro. Infelizmente seu pai, sua mãe e seu irmão não resistiram ao impacto. Você foi arremessada para fora do carro, caindo em uma vala, sendo a única sobrevivente.
Olhei confusa para ele.
_M-mas... Eu não estava em casa? M-merion... Um irmão?
O doutor Ren me analisou.. Por fim disse:
_Do que exatamente você se lembra?
_Eu estava em casa. Tinha uma comemoração e minha mãe, Reyna, estava morta... Merion, aquele cretino a matou! Eu tentei fujir... - não consegui terminar de dizer, já estava aos soluços.
_Vizinhos seus, relataram que vocês estavam voltando de viagem, passaram uma semana em Carolina do Norte. Eles estavam tomando conta da casa até saberem do acidente... Nada do que você disse aconteceu de fato. Vou fazer alguns exames, mas é certo que seu cérebro não conseguiu aceitar o que aconteceu, criando então uma ilusão na qual seria mais fácil acreditar - disse o médico - fique com a senhorita Lisa até eu voltar.
A moça que havia entrado após eu acordar, entrou novamente.

_Não me apresentei antes, mas sou Lisa. Pode me chamar de Lis. Vejo que você não se lembra do que aconteceu com o carro de vocês. É normal, no seu caso. Disseram que o acidente foi terrível... Ah me desculpe docinho! - ela viu a tristeza em meu rosto - Eu e minha boca grande!
Ela me abraçou.
Eu realmente precisava. Não conseguia me lembrar de nada, nem do meu próprio irmão!
_O Doutor Ren só vai fazer alguns exames em você e logo logo terá alta. Você ficará bem. - completou Lis.
Como posso ficar bem com tudo isso? Viver sozinha nesse mundo?
E ficamos ali durante alguns minutos até que adormeci.

Quando acordei novamente, Lis e uma outra enfermeira estavam conversando na porta. Elas me viram e Lis abriu um largo sorriso.
_Tenho boas notícias docinho! Doutor Ren lhe passou alguns remédios para ajudar na memória e disse que você terá alta assim que o dia clarear. Hoje era meu plantão, então eu também já posso ir para casa descansar. - ela disse toda alegre - Eu estive pensando... Você quer ficar em minha casa até se recuperar completamente?
Se a ocasião não fosse trágica, teria rido.
_É muita gentileza sua Lis. Muito obrigada pelo convite, mas acredito que ficar em minha casa me ajudará a recuperar a memória.
_Claro, mas pode me visitar quando quiser! - ela respondeu pegando um papel e uma caneta. Escreveu e me disse:
_Este é meu endereço, quando quiser é só bater.
Eu peguei o papel realmente agradecida.
_Será muito bom, obrigada mesmo Lisa. Você é muito gentil.
Ela me deu um longo abraço e então saiu.
Eu precisaria de alguém em quem confiar. Não será fácil ficar sozinha nesta situação, Lisa será de muita importância.

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