Descoberta

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Descubro toda a jogada. Lisa sempre trouxe uma certa desconfiança quanto à sua lealdade, mas agora tenho certeza de que posso confiar nela.

Quando eu tive o desmaio no restaurante, lis me levou para casa.
Esse desmaio súbito está relacionado com a minha memória. Ela se sobrecarregou com todas as informações reveladoras, que eu não quis acreditar. Me pareceu tudo muito absurdo. Agora sei que é a verdade.
Como saí de um coma há pouco tempo, esse foi um efeito colateral.
Lisa e eu tivemos uma conversa e eu fiz ela me dizer a verdade.
Foi difícil, mas agora compreendo tudo.
Meu pai era diferente. Ele tinha sentimentos. Ainda não se sabe como, ele era o único.
Na época em que meu pai estava se escondendo, me protegendo, ele conheceu Lisa. Reyna não gostava dela, mas Lisa ajudou muito a nós. Desde então ela virou uma grande amiga do meu pai. Com o falecimento dele, Reyna se mudou e nunca mais vimos Lisa.
Quando Lisa me contou tudo isso, fiquei pensando em como Reyna era difícil de agradar!
O tal comprador da casa, Christopher, é na verdade amigo de Lisa. Ela estava preocupada comigo, porém entendeu que quanto mais distante eu estivesse de Merion, mais segura eu estaria.
Ele realmente estava querendo se mudar de Washington. Lisa só fez, ainda não sei como, ele querer a minha casa.
E sim, toda aquela história realmente aconteceu.
Ela sabe o quão perigoso Merion é.
Lisa sabia sobre o mundo zirqui.
Quando soube que Merion havia sido expulso, logo pensou em segui-lo para não permitir que ele fizesse alguma atrocidade. Não foi muito eficaz em sua tarefa, por este motivo me protegia o tempo todo após minha saída do hospital.
Ela é realmente uma enfermeira formada, e por este motivo foi mais fácil conquistar a minha confiança.

Minha vida está parecendo um livro. - digo a mim mesma.

Com tudo já incluso dentro das malas, me falta apenas uma coisinha.
Corro em direção ao quarto. Procuro em cima da escrivaninha e não encontro. Abro o guarda roupas, olho nas gavetas, embaixo da cama e nada.
_Puxa vida! Onde coloquei meu cordão? - paro e penso um pouco.
Desço correndo em direção ao banheiro.
_Ah aí está você! - olho aliviada para a correntinha prata que tem um pingente de uma árvore envolta em um círculo.
Esse cordão foi deixado por meu pai. Eu não gosto de sair sem ele.
A sensação que ele me traz é inexplicável.
Coloco-o no pescoço e pego as malas.
Lisa já me aguardava no portão.
_Deixa eu te ajudar docinho. - disse ela pegando uma das malas e colocando no carro.
_Lisa, você pode ficar com o carro? - olho para o meu antigo Jeep.
_Claro que sim, não se preocupe com ele. Pronta?
_Estou. Vamos nessa. - dou um leve sorriso para ela entramos no carro e seguimos sentido aeroporto.

Conversamos pouco durante o caminho.
Quando chegamos, fomos direto fazer um lanche.
Quando deu 15:00 h eu me despedi de Lisa.
_Me manda notícias Clay!
_Sim senhora! - respondo rindo.
Acenei com a mão para Lisa uma última vez e fui embarcar no vôo com destino à Montana.

A sensação de estar indo embora é reconfortante. É como se eu estivesse me desprendendo de algo ruim.

Depois de me ajeitar no assento do avião, um homem de aproximadamente 20 anos sentou-se ao meu lado. Ele tinha cabelos negros e olhos claros. A pele levemente bronzeada e era pouco maior que eu.
Cumprimentou-me discretamente:
_Olá.
Retribuí:
_Olá!
Beleza! - pensei. - São só algumas horas de viagem... Algumas horas até chegar...
Ao pensar nisso, peguei o mapa que estava no bolso do meu casaco e uma caneta.
Começo a ver as opções. Vou para Montana e ainda não escolhi em qual cidade ficar.
Enquanto faço alguns círculos no mapa percebo o cara me observando.
Paro e olho, enquanto ele desvia o olhar.
Okay. Hmm.. Acho que vou para a capital. Helena me parece ser a melhor opção. Eu poderia ir para Sidney, mas é muito longe. Quero me estabilizar o mais rápido possível.
Faço um círculo em Helena e novamente noto que o homem está me observando.

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Alguns minutos depois começo a sentir frio. Pego a coberta que havia trazido juntamente com o livro "Ela, a feiticeira." Começo a ler e levo um susto com o homem falando:
_NOSSA! Não acredito que está lendo este livro?! É simplesmente fantástico!
Quando ele percebe a minha cara de assustada ele logo diz:
_Ah me perdoe, não queria lhe assustar!
_Está tudo bem...
_Meu nome é Ben, muito prazer.- ele diz estendendo a mão.
Pego em sua mão ainda meio assustada.
_O meu é Clay, prazer. - dou um sorriso forçado.
Que cara maluco!
Começo a ler novamente, ou pelo menos tento.

Perco completamente a noção do tempo. Acordo com a aeromoça me oferendo algo para comer.
Acabei dormindo enquanto lia.
_Obrigada. - agradeço a aeromoça.
Enquanto como, percebo que o livro não está por perto.
Procuro.
_Clay? Está procurando o livro?
Olho para Ben que segura meu livro.
_Me desculpe, peguei porque vi que você estava dormindo, algum problema?
_Nenhum. - ele me devolve.- Obrigada.
Guardo o livro e continuo comendo.
_Está bom? - ele pergunta olhando para o prato.
_Ah isso? Sim, está ótimo. - fico um pouco desconfortável com ele me olhando desta forma.
_Acho que vou pegar um também.
_Faça isso. Você vai gostar. - respondo e me repreendo na mesma hora.
O que estou pensando? Como vou saber se ele vai gostar ou não? Deveria ter ficado quieta.

Enquanto comemos, conversamos um pouco. Claro, ele puxou o assunto. Sou péssima nisso.
Até que ele é gente boa. Um cara legal.
Também está indo para a capital, aliás ele mora lá. Que coincidência!
Ele me fala um pouco sobre a cidade. Fico encantada com a descrição dos lugares. Deve ser realmente incrível.

Acho que já estamos quase chegando.
Ben diz:
_Clay, quando descermos no aeroporto, aceitaria uma carona minha? Posso te deixar no hotel.
_Bom.. Eu posso pegar um táxi, não se incomode.
_Não será nenhum incômodo. Faço questão de te levar.
_Está bem então. Muito obrigada.
Ben sorri.
Seu sorriso é lindo. Principalmente quando entra em contraste com sua pele bronzeada.
Ele deve ter percebido que eu fiquei olhando tempo de mais, pois sorri mais ainda.
Como eu sou burra! Mas como ele é lindo.
Ele passa a mão levemente em meu rosto.
Fico corada.
_Tinha um cisco. - diz ele.
Não respondo. Tenho medo das minhas palavras. Estou ficando nervosa.
Nesse momento a aeromoça anuncia que estamos descendo.
Que alívio.

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