A árvore presentava uma coloração roxa, como no líquido que encontrei na cabana de Merion. A sensação era indescritível. Tudo parecia girar. Era como estar em um carrossel. Eu me concentrava naquele momento. O formigamento em minhas veias, a visão turva, a sensação de elevação. Tudo era curiosamente novo.
Quando toquei na árvore, tive uma súbita visão. Meu pai apareceu em meus pensamentos e pediu que eu tomasse aquele líquido misterioso. Eu segurava o cordão enquanto ele falava comigo. Era muito surreal.
_Mas o que é esse líquido?
_Não há muito tempo querida. Você precisa confiar em mim. Merion irá te encontrar se você não fizer exatamente o que estou te pedindo.
_Onde você está e como está falando comigo? O que está acontecendo?
_Querida, eu sinto muito. Queria poder fazer mais... eu te amo.
E tudo se dissipou rapidamente.
_PAI? PAI?
E não houve resposta. Ele se foi novamente.
Não sabia explicar o que foi aquilo. Mas a presença do meu pai era quase tocável. Foi maravilhoso poder ouvir a sua voz. O líquido estava em meu bolso. Peguei e fiquei olhando para ele embaixo daquela árvore. Um pequeno frasco apenas. Uma única dose. O que haveria de acontecer se eu tomasse? Eu precisava confiar em meu pai, mas confesso que estava receosa.
Olhando ao redor avistei uma coruja em uma árvore alta. Ela olhava fixamente em minha direção. Um arrepio percorreu meu corpo. Destampei o frasco e ingeri todo aquele líquido. E então toda aquela sensação avassaladora. Eu estava em outro lugar. Era meio caótico, mas ainda se podia ver vida. O mato tinha um aspecto interessante. Mais asperoso, como se dissesse que não queria ser tocado. Aquela árvore ainda se encontrava ali, mas tudo ao redor era diferente. Havia ali uma neblina densa. Não dava para ver nada a frente, a menos que eu fosse caminhando. Cada passo parecia pesado. Me lembrou do pesadelo que tive. Um frio na barriga intenso persistia. Eu caminhava sem rumo, sem saber o que esperar e porquê fui parar ali.
Houve um barulho distante, quase intangível. Havia alguém ali?
_Olá? Alguém pode me ouvir?
Silêncio.
_Sou Clay Grífen. Meu pai me mandou aqui.
Uma movimentação mostrava que havia sim algo ou alguém ali.
_OLÁ?
E numa fração de segundos fui surpreendida. Colocaram algo em meu rosto para que eu não pudesse ver. Engraçado, porque eu já não estava vendo mesmo! E prenderam minhas mãos. Fui jogada tão forte em algo duro que senti uma dor profunda na cabeça. Senti gosto de sangue na boca.
_AH! - a dor era intensa.
E eu conseguia ouvir um murmurinho bem próximo. Não consegui distinguir o que era. Estava tudo escuro e gélido. Só conseguia pensar naquele maldito frasco. Ai como eu fui tola!
Só me resta esperar. Estou presa neste lugar. Há quatro paredes e uma porta, pelo que me parece. Estou tateando com o pé. É tão pequeno que nem preciso me levantar para sentir.
E as horas iam se passando. Ora ouvia movimentação do lado de fora, outra tudo era completamente silencioso. Ninguém entrou aqui desde então. Poderiam ter se passado dias ou apenas horas. Eu já não sabia identificar.
Minha barriga roncava, minha boca estava seca e eu já tinha feito xixi na calça. Ninguém entrava ali. Estava desesperada. Gritar não ajudava, eu só ficava deitada ouvindo o que acontecia. Conseguia ouvir animais se rastejando e insetos perambulando. Me sentia fraca. Até quando iam me deixar ali? Fechei meus olhos e adormeci.
_Oi querida! Como você está? - aquele sorriso me lembrava uma criança - Você tem que ser forte, falta muito pouco.
Lis me olhava com ar esperançoso. Ela sempre conseguia me deixar calma em situações ruins. Ela tinha uma energia tão boa, era como estar no único lugar seguro no mundo. A vibração que ela transmitia, exalava paz. Como poderia existir alguém assim? Parece até uma história contada de um livro qualquer...
O som de algo se abrindo me despertou. Senti alguém me pegando e me levando dali. Eu estava fraca de mais para dizer qualquer coisa.
_É ela! - uma voz distante disse.
_Como você pode ter certeza? Os pais morreram, ela também está morta! Pegaram a garota errada.
_Não há duvidas. É ela!
Eu não consegui aguentar. Tudo se tornou distante de mais...
_Ela está abrindo os olhos! Venham ver!
A luz doía meus olhos. Fui abrindo lentamente. Quando enfim consegui enxergar, vi que estava deitada em uma cama. Ao redor tinham muitas flores, de todos os tipos. Era tudo muito lindo. Eu gostava dessa vibe. Algumas ervas estavam espalhadas pelo meu corpo e ao meu lado tinham duas mulheres. Ambas tinham um cabelo muito branco e o olho extremamente amarelo. Era algo sobrenatural, mas eu gostava de olhar.
Uma delas notou que eu a encarava fixamente e disse:
_Clay Grífen? Esse é o seu nome?
_An... Sim. Onde estou?
_Esse é o mundo Zirqui. Então você realmente é a filha dele! Inacreditável.
_Todas achávamos que você estava morta.
_Quem são vocês?
_Esse é o mundo em que seu pai vivia, até descobrir o portal na árvore e encontrar o seu mundo. E lá encontrou sua mãe e se apaixonou. Você faz parte desse mundo agora.
_Sim! Você é a única que pode lutar contra Merion. Ele era irmão de seu pai, mas sempre tivera inveja. Queria mais que esse mundo. Nós fomos criados para destruir a raça humana da terra. Merion era uns dos poucos que se alimentava deles. Agr! Tenho pavor só de pensar. Mas aqui no nosso mundo cultivamos frutos e ervas que nos sustentam. E assim vivemos. Não queremos destruir o mundo de vocês.
_Quando Merion descobriu sobre sua existência ele foi atrás de seu pai. Não poderia deixá-lo sair impune e então o matou.
Toda essa história me deixou enjoada e eu me levantei as pressas e vomitei no chão. Meu estômago se revirava. Foi então que me ocorreu algo. Aquele episódio na cabana com Merion. Não, não, não. Não deve ser nada!
_Você está bem? - a mais nova me perguntou.
_Sim, estou. É que essa história ainda soa estranho na minha cabeça. Não me culpem. Eu vivia a minha vida normalmente como qualquer adolescente comum, até Merion aparecer e destruir tudo.
_Nós sabemos o quanto ele é ruim, e não irá parar até te encontrar.
_Mas como vou lutar contra ele? Eu não possuo super poderes!
_Clay, preste atenção. Você tem algo que pode usar, só não sabe ainda..
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O Vale Sombrio
Mystery / ThrillerClay Grífen é uma garota de 17 anos residente do interior de Oregon. Depois de um terrível acidente, ela tenta desesperadamente recuperar a memória. Tudo está confuso. Merion, um cara cheio de mistérios não é quem ela pensava ser e pode ser muito...