O Vale Sombrio

Sonho

Eu corria desesperadamente de alguém. O lugar era sombrio e desconhecido. Não conseguia ver o céu, apenas uma massa cinzenta que pairava acima da minha cabeça.
Tropecei e caí de cara no chão.
Eu suava e minha pele estava coberta por fuligem e terra.
Olhava para todos os lados em busca de um lugar seguro. Mas... Existia mesmo algum lugar que fosse seguro?
Me levantei.
Tremia feito louca.
Comecei a correr novamente, porém algo me prendeu impedindo que eu seguisse. Olhei para trás tentando identificar o que era.
Nesse exato momento eu acordei.
Estava molhada de suor. Olhei em volta. Estava completamente sozinha em meu quarto.
Tudo foi apenas um sonho... Havia uma bandeja com o café da manhã em cima do criado e um bilhete ao lado.

"Clay, saí logo pela manhã. Deixei seu café servido para que você não precise prepará-lo. Espero que goste.
Tenha um bom dia.
P.S. se cuida."

Lisa! Gentil como sempre.
Me levantei, peguei a bandeja e fui saborear minha refeição da manhã.
Após me deliciar com algumas torradas e uma bela vitamina, fui ver como estava o dia.
Com cautela me dirigi até a varanda do meu quarto.
Dei um longo suspiro.
Nada mal! Pensei.
O dia estava belo. Ótimo para empacotar meus pertences. Afinal, tenho 5 dias úteis para deixar a casa, quanto mais cedo melhor. O ferimento em meu braço já estava num melhor estado.

Ainda estava pensando sobre o pesadelo que tive. Tenho certeza que vi um homem. E, no entanto, ele me pareceu muito familiar...
Esforcei para me lembrar e de repente me veio a mente. Esse rosto, é claro! Merion! Aquele sujeito cretino e imbecil.
Como eu ainda não tinha recuperado totalmente a memória, resolvi que apenas uma pessoa poderia me ajudar.
Decidi então que eu iria procurar por Lisa. Ela sabia de alguma coisa e estava omitindo. Eu sentia.

Terminando de empacotar minhas coisas, fui me trocar. Havia ligado para Lis e marcado um almoço com ela.

Aproximadamente 30 minutos depois, eu estava adentrando o restaurante Andina à procura de Lis.
Assim que a encontrei, me sentei. Lisa perguntou apressada:
_Meu docinho, houve alguma coisa? Estou preocupada com sua ligação! - a preocupação estampava em seu rosto.
_Lis, é o seguinte. Esta noite tive um pesadelo. E nesse pesadelo vi um homem, tenho absoluta convicção de que o conheço... - avaliei suas feições. - Lis eu sei que você sabe de alguma coisa e não quer me contar. Não aguento mais ficar no escuro sem saber de nada. Por favor, te peço, me diz o que é. Eu vi Merion, sei que ele é real...
_Minha querida, infelizmente não posso ajuda-la. Tudo que sei é o que você já sabe. Esse homem que você tanto fala não existe. -Mas eu poderia jurar ter visto um leve tremor em seus lábios.
Ela estava mentindo.
_Lisa... - um garçom me interrompeu abruptamente, trazendo duas refeições. Era como se fosse premeditado.
_Ah minha querida, antes de você chegar tomei a liberdade de pedir seu prato por você. Espero que não se incomode quanto a isso.
O.k. Pensei comigo mesma. Ela sempre dava um jeitinho de se desviar do assunto. Deixa ela achar que sairá daqui sem me dizer a verdade!

O almoço estava maravilhoso. Não tinha notado que eu estava com tanto apetite.
Terminei e bebi um pouco de água. Lisa terminou sua refeição também.
_Podemos ir agora? - Lisa perguntou.
_Não sem antes você me dizer toda a verdade. Não sairemos daqui enquanto eu não souber de tudo. - ela começou a me olhar de uma forma, como se eu fosse sua presa. Ficou me encarando por uns 10 segundos. Como não desviei o olhar ela disse:
_Certo Clay. Sei que não vai sossegar, então é melhor eu lhe dizer logo o que precisa saber. Serei bem objetiva. Espero que realmente esteja preparada para isso.
Acenei positivamente com a cabeça.
"_Há aproximadamente 17 anos atrás, Reyna se apaixonou por um homem. Disse que havia encontrado seu grande amor. Com esse homem ela teve uma menina.
Porém, havia algo ruim que impedia essa união. Esse homem não pertencia ao seu mundo. Seu pai Clay, na verdade, pertencia ao mesmo mundo de Merion. Ele não podia procriar com uma humana. Isso era totalmente contra as leis de seu povo. Por este motivo ele foi banido e sentenciado à morte. No entanto, ele deu um jeito de se esconder e fez o mesmo com sua filha. Durante muito tempo tudo ficou calmo, até seu irmão Merion aparecer.
Segundo a história de seu povo, a primeira criança gerada através da união dos dois mundos será a responsável pela destruição do mundo zirqui. Você é a escolhida Clay, e é exatamente por isso que está sendo procurada. Infelizmente sua família não sobreviveu.
_Então o acidente foi real? - eu já estava ficando louca com tudo aquilo.
_Não Clay. Realmente você presenciou toda a cena com sua mãe, mas o que você não sabe é que a raça zirqui tem o poder de manipular a mente humana. É assim que eles conseguem se alimentar. Merion conseguiu manipular você e à todos os outros. - eu achei que não poderia piorar, até ouvir o resto. - Seu irmão não existe, você não tem. As lembranças foram coisa do Merion para confundir você ainda mais, ele está por perto...
_Calma ai Lisa! - eu ri. - Isso me parece muito absurdo para ser a verdade. Como isso é possível?

O pior era que Lisa estava séria. Não demonstrou um pingo de graça. Será verdade? E por que ela estaria mentindo? Não poderia ter inventado tudo aquilo!

_Se meu pai realmente pertence a essa tal raça zirqui, como se explica a paixão por Reyna? Merion me disse que eles eram desprovidos de qualquer tipo de sentimento...

Minha cabeça girava. Estava a mil por hora. Era uma coisa tão desconexa que chegava a ser engraçado.
Me levantei e fui andando em direção à saída, precisava urgentemente respirar ar fresco. Estava sufocada.

_Clay espere! - parecia ser Lisa gritando, mas estava distante. Quando coloquei o pé pra fora do restaurante, tudo ficou escuro.
Desmaiei.