Colina

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Estava chovendo muito. Aquele breve instante pareceu uma eternidade. Eu corria pelas calçadas molhadas debaixo da tempestade que caía. Meu coração parecia querer saltar pela boca, a adrenalina consumia cada membro do meu corpo.
Ele está se aproximando.
Não pare!
Entrei em uma viela mal iluminada e corri o máximo que pude. Para minha infelicidade a via não tinha saída. Corri para a parede e bati com as mãos.
_Não é possível! SOCORRO!!!
A criatura se aproximava cada vez mais. Eu estava sem saída e não sabia o que iria fazer diante daquela situação.
Pensa Clay. Você precisa pensar em alguma coisa rápido.
Clay avistou algo no chão a sua esquerda. Pegou o objeto gélido o mais depressa que conseguiu.
_AGRR - berrou quando a criatura a atacou.
Cravou aquele pedaço de ferro o mais fundo que conseguiu. Ela urrou e soltou Clay. Então conseguiu sair dali.
Clay acordou, estava molhada de suor. Tivera mais um pesadelo. 

Estou com uma sensação estranha, como se algo estivesse errado - pensou.

Olhou ao redor reconhecendo o lugar. Pensou que tudo tivesse sido um sonho, mas ainda se encontrava na cabana de Merion. Estava muito silencioso, então decidiu dar uma espiada na casa. Estava descalça, começou a descer a escada bem sutilmente, para não fazer nenhum barulho. Olhou na sala e estava vazia. Foi em direção aos outros cômodos, e não havia nenhum sinal de Merion. Subiu novamente ao quarto e notou algo perto da cama. Um bilhete. Com um pouco de receio, Clay abriu lentamente. 

               "Bom dia docinho!
Espero que esteja se sentindo bem. Em breve terá respostas, mas não se aflija. Está tudo correndo como planejei. Nada de mal te ocorrerá. Até breve.
                                                       Merion"

_Como assim nada de mal me ocorrerá? - disse Clay - Você já é o meu mal!
Clay estava com muita raiva de Merion, precisava sair dali.
Vestiu uma camisa de frio que estava pendurada ao lado, calçou seu sapato e começou a procurar um jeito de sair dali. As portas e janelas estavam trancadas, era óbvio, então Clay foi até ao quarto de Merion. Sentia repulsa pelo simples fato de ter tido algum tipo de relação com ele. Ainda não compreendia como tudo tivera acontecido. Parece que já se passaram dias desde de então.
Em baixo da cama, Clay avistou algo. Empurrou a cama para longe, podendo assim, ver o que era aquilo. Uma espécie de baú compactado grudado ao chão. Era bem menor que uma gaveta, tão pequeno que poderia passar despercebido. Estava trancado, então Clay teve uma ideia. Desceu correndo pelas escadas em direção à cozinha. Revirou os armários e as gavetas até achar algo que desse para quebrar aquele baú. Não achou um martelo, mas havia uma picareta em cima do armário.
_Vai ter que servir - disse.
Agachou de frente para o baú e começou a bater com o instrumento. A madeira do baú era um pouco resistente, mas Clay estava com muita raiva e não iria desistir tão facilmente. Começou a pensar em tudo de ruim, criando assim, mais forças para conseguir quebrar a madeira. Bateu várias e várias vezes, até que, por fim, conseguiu quebrar um pedaço considerável. Espiou pelo buraco. Encontrou um símbolo que era igual ao pingente de seu cordão, e perto havia um mini frasco com um líquido translúcido roxo. Não havia nenhuma informação no frasco, então enfiou no bolso e vasculhou o restante das coisas. Não tinha muito o que fazer, o buraco não era tão grande e havia muitos papéis dentro. Clay resolveu deixar o resto pra lá. Pegou a picareta e tentou quebrar a janela. Impossível, tinha que pensar em outra coisa.
Pensa Clay, pensa!
Teve uma ideia meio estranha, iria se esconder atrás da porta de entrada e assim que Merion aparecesse, iria atacá-lo com a ferramenta e se mandar daquele lugar.
Desceu até a sala e sentou ao lado direito da porta, esperando o momento chegar. Os pensamentos iam e vinham. As horas se passavam. Parecia interminável.
Será que ele vai voltar? E se eu estiver esperando aqui atoa?
Clay ficou um pouco mais apreensiva, com medo do seu plano não dar certo. Ela estava com fome, mas não queria comer nada daquele lugar. Esperou mais um pouco, parece que havia se passado muitas horas. Cansada, Clay resolveu se sentar no sofá para pensar um pouco.
É isso!
Bem no canto da sala, havia um flor pendurada. Essa flor estava bem cuidada e era aguada com frequência. Clay notou que a madeira onde a planta se encontrava pendurada, estava encharcada com água. Então ela correu para aquele canto e começou a tentar quebrar a madeira com a picareta. Mesmo encharcada, a madeira não era fácil de ser quebrada. Muito determinada a sair daquele lugar, Clay bateu com toda a força que lhe restava. Estava difícil, mas conseguiu notar que a madeira estava cedendo. Ela tinha que conseguir, se Merion aparecesse, seria o fim. Suas mãos estavam vermelhas, seu rosto pingava suor. Um pedaço de madeira caiu no chão. Depois mais outro. O buraco era pequeno, então Clay teria que se esforçar para quebrar o suficiente ou tentar passar naquele assim mesmo. Ela optou por tentar. Seus braços e pernas não seriam problema, mas a cabeça sim. Se espremeu pelo buraco, usando força para passar. Os pedaços mal cortados de madeira cortavam o seu rosto. Ela estava tão desesperada para sair que não sentiu os cortes, fez ainda mais força. Até finalmente cair do outro lado.
Não acredito, eu consegui!
Imediatamente ela saiu correndo pela montanha. Não iria pela estrada, poderia cruzar com Merion. Estava livre! Não sabia onde se encontrava, só conseguia pensar em correr o mais rápido possível para bem longe dali. Corria como um lobo atrás de uma presa.
Estava escuro, Clay não sabia para onde estava indo. Acabou tropeçando em alguma coisa no chão e caiu em uma ribanceira. Saiu rolando tentando agarrar alguma coisa, mas estava pegando velocidade e não conseguia segurar nada pelo caminho. Galhos arranhavam seus braços e se emaranhavam nos seus cabelos. Estava ficando tonta, até que bateu em uma árvore. Olhou meio zonza e percebeu estar no fim da colina. Todo o seu corpo doía. Seu rosto estava molhado, devia ser sangue. Tentou se levantar, mas não conseguiu de primeira. Sua perna estava fraturada. Se agarrou a alguma coisa à sua esquerda e se levantou novamente, com mais calma dessa vez. Com muita dor ela começou a caminhar.
Se passaram alguns minutos ou horas. Não tinha como saber. Continuou andando e andando, parecia não ter fim. Escutava o barulho dos insetos e bichos noturnos. Precisava descansar um pouco, ela não iria conseguir desse jeito. Estava mancando por causa da fratura em sua perna.
Parecia estar a uma distância considerável da cabana, mas insistiu em caminhar mais alguns metros.
A lua clareava um pouco, ela estava no meio de muitas árvores. Suas pernas já estavam no automático, apenas se moviam. Ela precisava andar só mais um pouco. Cada membro do seu corpo doía. Sua cabeça latejava. Andou até não aguentar mais. Se dando por vencida, resolveu deitar ali mesmo. Embaixo da árvore. Pegou alguns galhos ali por perto para conseguir se esconder um pouco. Talvez se estivesse camuflada, ninguém iria vê-la. Passou um pouco de terra no rosto para tirar o sangue que estava molhado. Deitou em baixo dos galhos com folhas, olhou para a lua e adormeceu.

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