Destino

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Fazem exatamente 16 dias que estou em Helena.
Foram 4 noites tendo pesadelos intensos.
Ben tem sido um cara legal, saímos algumas vezes para que eu pudesse conhecer a capital.
Ele é um pouco desajeitado diz coisas sem pensar, as vezes acho estranho, mas na maior parte das nossas conversas ele foi muito divertido.
Hoje a noite marcamos de sair para distrair um pouco.

Faltando uma hora para às 22h vou tomar um banho e me arrumar.
Ben chegará logo.
Tomo meu banho aproveitando para lavar meus cabelos.
Assim que saio do chuveiro enrolada na toalha vou ao guarda roupas para pegar algo para vestir.
Escolho uma calça, camisa e casaco, afinal está frio.
Passo uma maquiagem sutil e quando estou acabando de me calçar dou uma conferida no relógio. Está na hora.
Dou uma rápida olhada no espelho e desco.
Ben já está me esperando.

No caminho ele diz que me levará ao Miller's Crossing.
O.K. Penso. Sair um pouco é bom.
Apesar de eu ainda ficar um pouco desconfortável perto dele, ele parece muito à vontade.
Tento relaxar.

Descemos em poucos minutos. O lugar tem uma aparência bastante aconchegante e fico encantada ao entrar.
Noto que as cores neutras combinam perfeitamente com o lugar.
Nos acomodamos em uma das mesas e Ben pega algumas bebidas para nós.
_Você vem sempre aqui? - pergunto.
_Já vim algumas vezes, mas não é constante. Está gostando?
Apesar de não estarmos nem 5 minutos ainda, concordo e sorrio gentilmente.
Ben não tem namorada então não há problema em sairmos.
Ele é 3 anos mais velho que eu.
Eu nunca fui de sair muito com homens. Algumas poucas vezes, quando eu morava em Portland, eu saí com um amigo meu.
Sidie era da minha turma no colégio e tínhamos bastante coisas em comum. Depois de alguns dos nossos passeios ele me confessou que estava apaixonado por mim. Eu gostava dele, porém não podia corresponder seus sentimentos.

Enquanto estou conversando com Ben, lembro de Merion. Nos últimos dias escrevi para Lisa e ela disse que não sabe sobre ele, espero estar segura aqui.

_... Você concorda? - Ben sorria.
_Claro! Vinho é bem melhor que Jin. - rimos.

Sou uma pessoa bastante suscetível a bebida. E parece que Ben também, pois no pouco tempo que estamos aqui, já bebemos bastante.
O nosso prato logo chega.
E continuamos nossos assuntos nada a ver.
É sinistro a forma como conversamos.

Horas se passaram até ficarmos cansados o suficiente para irmos embora.

Acho que acabei bebendo além do esperado.
No caminho de volta para o carro torci o tornozelo ao descer o degrau da calçada e caí como uma manga madura no chão.
Sim! Isso é ridículo.
_Ai! - olho para meu tornozelo.
_Consegue andar?
Tento me levantar, mas ao tentar firmar o pé quase caio novamente.
_Que droga!
_Espera, eu te pego no colo.
_Você está tão tonto quanto eu. - rimos.
_Que ótimo! - falei ironicamente.
Ben riu de mim.
_Para! Não tem graça.
_Desculpe, mas é que... Tem mato no seu cabelo.
Passei a mão pelos fios e tirei o que pude.
_Muito engraçado, agora me ajude a chegar no hotel. Estávamos há poucos metros quando um homem veio em nossa direção.
_Clay?
Olhei para o rosto desconhecido.
_Sou eu... - respondi.
_Isso é para você. - me entregou um bilhete e saiu.
Achei estranho. Dei uma olhada para Ben.
_Não sabia que a moça tinha um admirador secreto! - falou debochando.
_Deixa de ser ridículo Ben, vamos logo.

Subimos para meu quarto e despedi de Ben.
_Até logo, foi uma noite muito divertida. Apesar do imprevisto... - falei.
Bem se despediu com um beijo no rosto e se foi.
UAU! Foi tudo o que consegui pensar.

Estava exausta, tonta e com dor. Me joguei na cama e abri o bilhete.
"Linda como sempre" estava escrito.
Não quis me preocupar com isso, meus pensamentos estavam lentos... Adormeci.

No dia seguinte eu estava com um sentimentalismo mórbido. Um pouco de dor de cabeça foi suficiente para me deixar em casa. São nesses dias que meus pensamentos se tornam eloquentes.
A vida é uma coisa muito inexplicável! Quando eu perdi Reyna, minha convicção de que a vida é apenas uma caminhada em direção a morte se tornou mais sólida. Não compreendo o motivo da nossa existência. Nascemos, somos obrigados a aprender sobre tudo, ficamos adultos e trabalhamos com o objetivo de termos dinheiro, envelhecemos e paramos de trabalhar para, alguns anos depois, morrermos! Claro que existem muitas coisas entre uma vírgula e outra, mas isso é uma indagação minha. Há quem acredite que a vida é um privilégio concedida por uma força superior e tudo o mais. Particularmente não acredito nessa teoria. Acredito que quando a pessoa morre, acabou. Não há um "lugar melhor" do outro lado ou nada do gênero. Não existe uma força superior que comanda tudo. Talvez eu esteja sendo ignorante nesse ponto, no entanto é um pensamento meu.

Mais tarde achei o bilhete que recebi na noite anterior. Havia me esquecido dele.
Quem poderia me reconhecer em Helena? Será que Merion está aqui? Devo estar insegura de mais. Meu medo não pode me limitar. Talvez seja Ben fazendo brincadeira. Mesmo se Merion vier atrás de mim, não posso temê-lo para todo o sempre.
Hora ou outra terei de lidar, estando preparada ou não. O quanto antes isso acontecer, melhor. O importante é que tenho Ben ao meu lado.

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