09. Passado

9.5K 666 88
                                    

Arthur saltou do ônibus por volta das seis da tarde

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Arthur saltou do ônibus por volta das seis da tarde. Esticou as pernas, soltando um grunhido de alívio após uma viagem de mais de cinco horas e sentiu o ar bucólico e abafado lhe dar as boas-vindas. Ribeirão continuava quente e seca, em especial naquela época do ano, mas isso até que tinha seu lado positivo. Por causa do verão, o céu ainda estava iluminado em tons de dourado, quase sem nuvens. Olhou em volta, na expectativa de encontrar seus avós, e quando os viu, próximos da área de desembarque, não conseguiu conter um sorriso. Eles o esperavam com os olhos ansiosos e os pescoços inquietos, procurando-o na multidão. Andou com mais pressa do que o necessário até eles, se esquecendo, mesmo que brevemente, os motivos pelos quais ele evitava voltar para casa, especialmente na época de seu aniversário.

— Arthur, que bom ter você em casa. — Cecília disse, puxando o neto para um abraço longo e receptivo. 

— O bom neto à casa torna. — Disse Walter, dispensando a impessoalidade heteronormativa em reencontros como esse e deixando o coração falar mais alto.

— Oi, vô. Oi, vó. Eu estava com saudade de vocês.

— Besteira, se tivesse, viria pra cá com mais frequência. Nos últimos anos, só te vemos na Páscoa e no Natal.

— Vocês sabem como era corrido pra mim, por conta da faculdade. Agora que eu me formei, as coisas vão desacelerar um pouco, eu espero.

— Você está com fome? Eu preparei o jantar. Fiz sua comida preferida, macarronada. E pudim de sobremesa.

— Sua avó está na cozinha desde o meio da tarde, preparando tudo para quando você chegasse.

— Não precisava, vó. — Arthur disse, puxando Cecilia para um abraço desengonçado enquanto Walter levava sua mochila. Andavam em direção ao estacionamento da rodoviária, onde a picape antiga de Walter os aguardava.

No caminho para a casa dos avós, Arthur interagia quase que no modo automático, observando as paisagens de chão avermelhado por conta da terra característica da região. Se viu mergulhado em uma nostalgia inevitável ao passar em frente à Biblioteca Sinhá Junqueira, ao Centro Cultural Palace, curvando o pescoço para ver parte do histórico prédio da Choperia Pinguim... pontos tão presentes em um momento de sua vida, agora já tão longe, mas que ainda lhe causava grande impacto. Havia tantos lugares ali que se tornaram vagas lembranças de uma época feliz. Uma época em que Arthur se sentia completo, antes do dia em que sua vida virou de cabeça para baixo.

— Você fica até quando, filho? — Cecília perguntou, arrancando Arthur de seus pensamentos.

— Acho que até o fim de semana, vó. Peguei alguns dias de folga no trabalho.

— Mas você disse que acabou de começar. — Walter disse, em um tom questionador.

— Pois é. Eles foram muito generosos comigo. — Arthur respondeu, a voz apologética, encolhendo os ombros.

Proibido (Capítulos Atualizados)Onde histórias criam vida. Descubra agora