A primeira vez que Keith ficou bêbado foi aos treze anos. Ele estava na frente de casa, jogando a bola, escutando os berros dentro de casa.
— Ei — ele escutou a voz de Sawyer e olhou para trás. O garoto maior estava com as mãos nas costas, encarando Keith. O olho roxo de sempre — quer algo melhor que essa bola para esquecer os problemas? — Sawyer ergueu uma sobrancelha para Keith, que o encarou com o cenho franzido enquanto mostrava uma garrava de vodca pela metade.
— Sawyer! — Keith correu até Sawyer, escondendo a garrafa dentro do casaco dele — onde você achou isso? A gente nem tem idade pra beber!
— Sim, na nossa idade deveríamos ainda tomar leite na mamadeira — Sawyer revirou os olhos — para de se comportar como criança — ele riu — eu já bebi antes e foi bem tranquilo — Sawyer deu de ombros.
A primeira vez que Sawyer ficou bêbado foi quando completou doze anos. Seth fez uma festa para ele. Com cigarros e bebida. E depois bateu tanto em Sawyer que ele nem lembrava da sensação da bebida. Só dos chutes e os socos do irmão.
— Você não é bem um bom modelo a ser seguido — Keith murmurou e Sawyer riu — ninguém pode saber, tudo bem? — ele fez uma careta e Sawyer só balançou a cabeça. "Claro, sim!".
Eles foram para um beco perto da casa de Sawyer. O cheiro de podre não pareceu incomodá-los. Estavam acostumados a estarem no meio de cacos e merda.
Keith sabia que era muito novo para fazer aquilo. Mas ele também era novo demais para escutar seus pais brigando ou sua mãe apanhando. Eram novos demais para lidarem com tudo aquilo. Deveriam brincar, se divertir. E não beber em um beco fedido.
Sawyer estava tão acostumado. Seth lhe deixou tomar um gole de cerveja pela primeira vez quando ele tinha nove anos. O primeiro cigarro aos onze. Seth já lhe disse que o ajudaria na sua primeira transa, mas Sawyer lhe deu um tapa fraco no braço. E recebeu um soco no rosto como resposta.
Keith apreciou o gosto da vodca. Queimou sua garganta e quase podia senti-la descendo goela abaixo. Sawyer tomou um gole mais generoso, acostumado com a sensação de ardência. Acostumado com tanta coisa em sua vida que nada mais o surpreenderia.
Eles ficaram um tempo naquele beco. Observaram o céu escurecer acima deles. Acabaram com o pouco que tinha na garrafa e Keith já estava vendo tudo de um jeito diferente. Suas pálpebras permaneciam abertas com muito esforço, o chão em que estava sentado parecia instável e sua língua estava pronunciando palavras que ele nem queria dizer.
Sawyer não estava melhor que isso, mas conseguia apurar os sentidos e cuidar com o que falava ou deixava de falar. Mas ele lembra do momento que uma figura pequena e familiar apareceu no beco. Com o cenho franzido de preocupação. A única pessoa que se preocupava daquele jeito com eles.
— Sawyer! De novo? — Aiden perguntou, sem paciência para todas as besteiras de Sawyer. As besteiras que ele metia os amigos. Aiden já o encontrou jogado perto do beco com uma garrafa vazia ao lado. Presente de Seth, provavelmente. Ótimo irmão.
— Aiden — Sawyer disse, enquanto Aiden segurava o garoto pela cintura, colocando o seu braço ao redor de seus ombros. Keith estava escorado na parede, assistindo aquela cena. Um sorriso estampado no rosto.
— Eu não quero ir para a casa — ele disse, desfazendo o sorriso e fazendo uma cara de choro. Aiden ficou o encarando, com medo que começasse a chorar. Ele não poderia cuidar de dois bêbados! Duas crianças bêbadas. Quando sua vida ficou tão fodida assim?
— Vamos para a casa do Sawyer.
— Não — Sawyer levantou a cabeça. O seu hálito atingiu Aiden em cheio, que fez uma careta — vamos para a casa do Aiden — ele sorriu, tocando o dedo na bochecha de Aiden, que tirou sua mão dali.
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BADLANDS | ✓
Fiksi RemajaInseparáveis, talvez pela característica em comum da péssima relação com suas famílias, os jovens Keith, Aiden, Sawyer e Tristan cresceram juntos. Sobreviventes, encontraram entre si refúgios de suas realidades cruéis, ainda se tratando de suas próp...