Prólogo.

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Liam Payne estava esparramado em sua grande cama e tinha os olhos abertos fixos no teto de gesso de seu quarto. Mesmo sob efeito de analgésicos ainda sentia sua fronte latejar em pura dor, e tudo parecia girar. O dia fora cansativo ao extremo, e como se não pudesse ficar pior, fora acordado por uma gritaria no apartamento ao lado.

Tudo o que Liam mais queria era uma boa noite de sono depois do último plantão no hospital, porém, pelo visto, falhara miseravelmente em sua intenção de descansar.

Ele virou na cama com cuidado, procurando não fazer movimentos bruscos de pescoço e cabeça, e verificou as horas no relógio: 05:20 da manhã. "Porra! Que tipo de pessoa fazia escândalo àquela hora? Era melhor há uma semana, quando aquele apartamento não era ocupado." Pensou.

Payne então se levantou com o mesmo cuidado de antes, se sentando na cama enquanto massageava sua fronte antes de  vestir uma camisa de malha para protegê-lo do frio da madrugada londrina, acompanhado da calça de moletom que já usava. O homem estava decidido a comer algo, tomar mais um comprimido para a dor e esperar que a confusão no apartamento ao lado acabasse para que pudesse finalmente voltar para a cama.

Seus planos, entretanto falharam tanto quanto o plano de ter uma boa noite de sono quando chegou do trabalho, uma vez que já eram seis da manhã e a confusão não dava indícios de acabar. Da sala de seu apartamento, onde agora se encontrava sentado no sofá com a cabeça repousada em suas mãos grandes, podia ouvir melhor o que acontecia. Aparentemente, seu novo vizinho não queria deixar que um homem entrasse em seu apartamento, ao que este insistia em querer entrar de qualquer jeito para que conversassem.

Liam revirou os olhos e bufou com raiva. Ele não costumava fazer esse tipo de coisa, mas as circunstâncias pediam para que ele tomasse alguma atitude em relação àquele escândalo. Afinal, precisava de suas horas de sono, "ao menos o restante delas", pensou com desânimo. Sendo assim, Payne se levantou do sofá e abriu a porta do seu apartamento, decidido a acabar com aquele circo.

A primeira visão que Liam teve foi a de uma quantidade enorme de quadros posicionados pelo chão e de um homem jovem encostado no batente da porta em frente vestido num robe negro de seda que lhe batia no meio das coxas desnudas. O traje, que parecia o único a cobrir o corpo magro, estava mal amarrado, de modo que escorria em um dos ombros e mostrava mais pele do que devia, revelando algumas tatuagens em seu peito. Ele tinha cabelos negros e um pouco compridos que brilhavam desarrumados jogados para trás, embora uma mecha insistisse em lhe cair na testa e seus traços eram exóticos e harmoniosos.

- Os quadros já estão aí, conforme o combinado. Se você não for embora agora eu vou ligar para a segurança do prédio! – O homem magro dizia a plenos pulmões, tinha os olhos estreitos e ameaçadores.

O outro apenas riu.

- Não brinque comigo, Malik. Esqueceu o que aconteceu da última vez? – O homem devolveu a ameaça.

- Você não ousaria!

Em resposta, o homem apenas avançou passos para frente do dono do apartamento, que recuou assustado. Era hora de interferir.

- Não ousaria mesmo! – Sua voz grossa e rouca devido ao sono foi ouvida.

O homem em frente ao seu vizinho se virou assustado em direção à sua voz, assim como seu próprio vizinho. Foi como se tivessem percebido a sua presença pela primeira vez, e de fato o era. Tão acalorados em sua discussão que não perceberam nenhuma movimentação no corredor.

- E quem é você para me dizer o que fazer? – Desafiou.

- Sou Liam Payne, o vizinho desse desgraçado que você está ameaçando e se você não sair daqui agora, eu mesmo o tiro daqui. – Respondeu com calma e firmeza, embora sua vontade fosse de calar aqueles dois no soco.

O outro engoliu em seco com a ameaça, mas ergueu o queixo mesmo assim, como se desafiasse Liam. Da porta do apartamento em frente à sua, pôde ver que seu vizinho segurava o riso comprimindo os lábios numa expressão debochada.

O ameaçado então desviou seu olhar de Liam e voltou a encarar o jovem parado no batente da porta.

- Nós não acabamos aqui, Malik. – Ele disse orgulhoso.

Mas o jovem não respondeu, se limitando a entrar em seu apartamento e fechar a porta do mesmo. Isso sem ao menos dizer um obrigado ao seu vizinho e salvador. Liam viu o outro homem pegar os quadros com cuidado e levá-los para o elevador, e tendo sua missão cumprida, imitou o ato do vizinho e entrou em seu próprio apartamento, pronto para tirar o restante do seu sono e sem se incomodar com a ingratidão alheia, afinal, tudo o que queria agora era silêncio. E conseguira, graças ao bom Deus!

Exótico. (Ziam Mayne)Onde histórias criam vida. Descubra agora