KateJá estava dentro do comboio, acenava uma última vez pela janela do mesmo aos meus pais que com uma expressão facial estranha sorriam e tentavam deixar-me segura. Sentei-me no meu lugar, coloquei os meus fones e tirei o livro da minha mochila, cheia por sinal. As últimas páginas do livro que lia à apenas três dias iria-me acompanhar neste caminho de Harrisburgo até Nova Iorque. Viajar sozinha era quase como uma tortura, teria de encarar pessoas desconhecidas e quem sabe falar com elas para saber qualquer tipo de informação. Como eu odeio isso, como eu odeio a iteração humana e a socialização, considero-me uma antissocial, por razões desconhecidas não gosto de conviver muito é apenas a minha natureza, a minha personalidade. Contudo por vezes estrangulo a minha mente por ser assim quando devia ser mais social apenas para obter melhores resultados. Na escola, nunca fui participativa por não gostar de falar e isso prejudicou-me sempre muito, parecendo-me isso a mim alguma forma estranha de chamar à atenção.
Será a primeira vez em toda a minha vida que ficarei longe dos meus pais durante tanto tempo, seria em princípio três meses, iria passar apenas o natal a casa e antes do ano novo já estaria de volta.
Quase involuntariamente que estou neste comboio a caminho de Nova Iorque para seguir o sonho dos meus pais, para seguir o objectivo de vida que eles traçaram para mim, estudar na universidade de Nova Iorque literatura. Uma vocação tão admirada pelo meu pai e não tanto por mim. - "És ótima devias seguir isto"- eram os comentários de professores depois de trabalhos em literatura deixando o meu pai orgulhoso demais. Não que odeie isto, adoro ler e escrever também mas não é a minha vocação não é isto que quero fazer para toda a vida.
Descanso a cabeça para relaxar. Um pouco depois de lidas as últimas frases do livro, fecho os olhos por segundos e a minha tentativa de relaxar foi falhada quando oiço - Bilhete por favor. - Porque ainda pedem bilhete assim? Não pedem logo antes de entrarmos para comboio? Vasculhei a mochila mas não se encontrava lá o bilhete, onde é que o pus? Vi a cara do revisor nada contente e abri a minha mala de viagem até encontrar o bilhete no bolso das calças. Depois de uns longos mas poucos minutos o revisor passou o bilhete na máquina e foi embora, senti a minha cara queimar depois do ato de três minutos que por norma demora apenas uns segundos.
Ao fim de uma hora e trinta minutos estou numa das mais movimentadas estações da América do Norte, Penn Stantion. Respiro fundo e tento ficar calma no meio da multidão que passava por mim como se eu nem ali estivesse, dando-me encontrões. Sozinha e rodeada de gente que não conheço, começo a entrar em pânico sem saber por onde ir. Ando pelo multidão até uma zona mais calma, encontrando aí uma sinal da saída. Ao menos não precisava de perguntar a ninguém...
Não iria apanhar mais nenhum transporte, metros deixam-me confusa e táxis em Nova Iorque? Era uma boa piada. Seriam dez minutos até à NYU a caminhar de mochila cheia de pertences e uma mala de viagem igualmente cheia. Não me senti deslocada a passar pelas tão movimentadas ruas com tanta "tralha", o que não faltam aqui eram turistas exatamente na mesma figura que eu ou bem piores. Observava todos aqueles prédios altos e com arquitetura tão singular, na minha cabeça não passavam apenas as imagens das ruas mas também como seria assim que chegasse à casa alugada antecipadamente. Demorei tanto a decidir se vinha que perdi o meu direito ao quarto nos dormitórios do campus, fiquei um tanto ou quanto feliz ao saber que já não teria de partilhar o quarto com alguém mas devido ao exorbitante valor do aluguer tive de escolher uma casa partilhada também.
Encarava o prédio de apenas 3 andares à minha frente as suas paredes revestidas de tijoleira laranja chamaram a minha atenção e o seu estilo americano antigo uma mistura de estilo industrial. A rua parecia simpática algumas árvores faziam sombra ao passeio que pouca luz apanhava devido à altitude dos prédios da frente. Havia um bar e um pequeno hotel dois prédios ao lado. Com dificuldade subi as escadas que existiam ainda no exterior com a mala e abri a porta de entrada do prédio, suspirei ao ver mais escadas e nenhum elevador, teria de subir até ao último andar com esta mala cheia e pesada.
A minha respiração estava tão acelerada como se tivesse corrido durante uns vinte minutos, respirei fundo e coloquei a chave na fechadura rodando a chave destrancando a porta. Assim que abri a porta um cheiro a produtos de limpeza fez-se sentir intensamente.
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Tell me your lies (Portuguese Book)
RandomQuando dois mundos distintos colidem não é pura coincidência. Uma viagem pode mudar a forma como vemos o mundo.A verdade é que não sei bem como tudo mudou tão rapidamente, pensei que estava apenas a viver uma nova fase da minha vida, com altos e bai...