Capítulo 1

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Toc, Toc.



- Quem é? - Digo aos berros.


- Renata! Sua amiga linda, loira, de olhos azuis, de sapatos novos e com um batom vermelho que vai lhe causar inveja, é claro.


- Só um minuto, estou me vestindo.


- Abre logo. Até parece que eu nunca vi isso ai.



Eu abro a porta e sim, ela veio me chamar para mais uma festa, não sei como ela aguenta. Renata vem de uma família de classe média baixa, o seu pai morreu quando ela tinha 6 anos e ela presenciou todo o ocorrido, ela fez terapia por dois anos e no seu retorno, nos conhecemos. Sua mãe, Rita, é extremamente obcecada pelo trabalho, se dessem a ela um ultimato entre a sua filha e o seu trabalho, coitada de Renata, não teria chances, porém nada disso a impediu de ser a pessoa que ela é hoje: minha melhor amiga. Mesmo sendo uma má influência, eu a amo. Voltando a sua aptidão por baladas... São 72 horas sem dormir. Sem ressaca. Sem descanso. Sem paz. Claro que eu amo muito ela, e essas coisas tudo de amizade, mas se ela não quer descansar, tem quem queira. EU. E a propósito, eu sou Melissa, mais conhecida como "Mel", 1,67 de altura, cabelos pretos, olhos castanhos, boca um pouco carnuda e um nariz que deixa no chão a "Narizinho" do Sitio do Pica-Pau amarelo, sou uma menina de 17 anos que mora na cobertura, em um apartamento, no centro de São Paulo com meus país e minha irmã. Sou um pouco desequilibrada, com uma família instável, um namorado(Pietro) que não me procura há dois dias, um amigo indiscreto e uma amiga bêbada. Tenho a vida perfeita.



- Preparada para mais uma noite, amiga? - Ela fala em uma felicidade que dá medo.


- Você não descansa?


- Descansar pra quê? Na morte a gente tem tempo de sobra para isso. E graças a saída daquele diretor gato, estamos sem aula por um bom tempo. - Ela se joga no meu sofá empoeirado que a cobre com uma névoa amarelada.


- Renata, O Srº Thadeu era pedófilo e estuprador. - Falo com desdém.


- Ele podia me estuprar, eu gostaria muito. - Ela levanta uma das pernas.


- Meu Deus, me livra de todo mal. E a partir de agora Renata, seu nome é mal.


- Para amiga, estamos sem aula por causa dele, então eu o amo. E você deveria também.


- Como se aula lhe impedisse de ir para baladas. E sabe quando eu vou gostar dele? Nunca.


- E é por isso que eu te amo. Você me entende. Lembra do nosso tempo de criança, a gente ia pra escola juntas, comia juntas, tomava banho juntas...


- Pode parar por ai.


- Ih, como você gosta de ser estraga prazeres. Vai se vestir que hoje tem a festa do ano, tirando seu aniversário, que está sendo mais esperado do que a chuva no Nordeste. - Ela solta uma risada estridente.



Depois de muita insistência cedo ao seu pedido e decido ir. Vou tomar banho enquanto ela mexe nos meus CD's. Não sou uma pessoa que os compra, muito menos atualiza a sua lista, a internet está ai para isso, então me preparo para as "atualidades" que ela irá encontrar na prateleira abaixo da televisão.



- Melissaaa, o que é isso? - Ela grita.


- É o mais novo que você vai encontrar.


- Restart, Rebelde... a coletânea do "R" é interminável. Eles nem são mais banda.


- Um dia foram. - Respondo com força na voz.



Talvez eu possa ter ficado com eles por tempo demais, mas eles são bons, apenas Renata não vê isso. Estressada com a difamação da minha coletânea infanto-juvenil advirto ela.

Rosa De SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora