Capítulo 3

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  Acordo em minha cama no dia seguinte, não sei que entidade me puxou, mas aqui estou e por um instante tudo parecia ser apenas um sonho, mas o pesadelo estava por vir. Ao me virar e olhar para o meu criado mudo, vejo a rosa em um lindo jarro de vidro que, provavelmente, minha mãe botara. Mas porque isso? Ninguém sabe do que eu passei, e porque eu tenho aversão a rosa. E com certeza uma rosa molhada de sangue, não é uma brincadeira, nem de perto. Meu passado pode esperar mais um pouco antes de ser exposto pra toda a minha família. Meu aniversário está chegando e essa surpresa seria um presente pra eles e não para mim, mas esses não são meus planos. Cortando o meu raciocínio, Laura abre a porta do meu quarto.
– Irmã! – ela fala em um tom dócil.
– Oi, meu amor. – Me viro pra ela.
– Como você está? – Ela senta na beira da cama e começa a fazer cafuné em mim, o que me deixa rendida a ela.
– Agora estou bem melhor.
– E como foi que isso aconteceu?
– Eu tive um mal-estar e desmaiei.

  Se para meus pais, seria difícil contar, quem dera para minha irmã, então me contenho e minto para ela, o que eu sei que me deixará mal depois, pois eu nunca o faço. No meio da nossa conversa, minha mãe a chama e ela desce correndo. Assim é melhor, pois eu não precisarei ficar olhando-a e sabendo que estou a enganando. Após tomar coragem, me levanto e vou tomar uma ducha. Ponho meu celular para tocar uma playlist velha, com músicas de todos os ritmos possíveis. Talvez isso me acalme, mas não me fará esquecer tudo o que passei e espero nunca mais passar. Após me recompor, vou para o fundo da casa, pra jogar as rosas fora, junto com o jarro e a carta. Pensei que iria deixar aquilo no lixo, mas minha mãe sempre acaba com toda a minha satisfação.

– O que é que você está fazendo com essas rosas lindas? – Ela fala grosso o suficiente para eu tomar um susto e cair no chão.
– Pra quê você vai querer essas flores? – Respondo em um tom tão ríspido quanto o que ela havia disparado contra mim.
– Você está louca, se você não quer eu quero. – Ela toma as rosas da minha mão.

  Quero ao máximo tirar aquilo não só da minha casa, mas da minha vida, então insisto esperando em algum momento conseguir êxito.

– Por favor mãe, isso é tudo o que eu te peço. – Ainda no chão.
– Eu quero que você me explique o porquê de não querer essas rosas em casa.
– Sou alérgica. – Tento esconder a verdade.
– Eu saberia se você fosse alérgica.

  Antes que eu pudesse me explicar, o telefone dela toca dentro de casa e ela sai correndo deixando escapar uma última frase:

– Essa conversa ainda não acabou.

  Mesmo se ela não tivesse dito, eu sei que isso está longe de acabar, então, antes que ela possa usar as rosas contra mim, amasso tudo e com o fechar da tampa, selo o ocorrido ali. Quando eu entro em casa, vou ligar para Renata, pois por algum motivo um sentimento de saudade se aloja em mim. Na ligação eu peço que ela venha me ver, estou muito sozinha, e depois do que aconteceu com Pietro, tenho certeza que nós vamos demorar para voltar, se um dia nós voltarmos. Ao chegar, vejo que ela trouxe Fred, e no meu pensamento dois são melhores do que um.

– Amigos, que saudade de vocês. – Tento abraçá-los.
– Quem é você? E o que fez com a Mel? – Renata rebate minha fala com hostilidade.
– Para de brincadeira e me abraça. – Nós damos um abraço coletivo com muito amor.
– Ok, já chega de tanto amor. – Fred hoje está mais frio do que o iceberg que afundou o “Titanic”.
– Vocês estão impossíveis. Sim, vamos logo ao assunto. Quero dar uma festa aqui em casa, de preparação para a real festa que acontecerá daqui a 30 dias.
– Eu acho válido. – Fred hoje pegou um pouco do amor platônico por baladas de Renata.
– Eu super apoio. – Renata acabara de se encontrar.
– Então daqui a 5 dias tudo ocorrerá. E já que é no dia do aniversário de casado dos meus pais... Está tudo liberado.

  Continuamos a conversar, rimos, gritamos, organizamos os detalhes da festa, convidados, bebidas, comidas, atrações... Tudo parece mais fácil e divertido quando estou com eles, o tempo passa voando e já são 17:30. Olho espantada e percebo como as coisas boas acabam rápido. Infelizmente tenho que dizer “adeus” a eles. Renata vai sair para mais uma festa, cuja não estou afim de ir e Fred vai jantar com a mãe. Há muito tempo eu não faço isso, então respeito-o e lhe dou total liberdade de ir. Na saída, me despeço deles com muitos mimos e beijos, e ao abrir a porta, me espanto com um homem de costas, alto, com cabelos lisos, e ao virar percebo que eu o conheço mais do que deveria. É Pietro, e ele carrega, em suas mãos, um buquê enorme de flores variadas e um urso que fala “I Love You” quando é pressionado o dispositivo que fica localizado onde seria o seu coração. Fico totalmente encantada por todo o conjunto de amor e brilho, e percebo o poder que Pietro exerce sobre mim, e não é pouco.

– Oi Mel! – A sua voz penetra no meu corpo como uma bala.
– Pare ai mesmo. – gesticúlo com a mão deixando-o imóvel – Não pense que você virá na minha casa, trazendo todas essas coisas maravilhosas pra mim e eu me derreterei para você. Você já me fez muito de trouxa. Já cheg... –Sou interrompida com um beijo que com certeza me deixa louca.

  Pietro sabe dos meus pontos fracos. Nós nos beijamos não somente com a boca, mas a nossa alma está em completa conexão. Os seus braços passam por mim e seguram firmemente minha cintura, ao mesmo tempo em que sua língua invade minha boca, num caminho já tão conhecido por ele. As rosas caem em meu pé, o urso também, soltando a sua cantoria do “I love you” e todo esse cenário está do jeito que eu sempre sonhei. Ele me carrega com uma grande facilidade, me jogando contra a parede, eu tento afastá-lo, mas o meu desejo é maior, e ao invés de repulsa, minha atração por ele aumenta, entrelaço meus dedos no seu cabelo e agora nossa boca é apenas uma. Ele me leva até o quarto aos beijos e começa tirar a roupa. Primeiro sua camisa jeans dá lugar a um abdômen sarado e com contornos definidos. Depois a sua calça dá lugar a uma cueca box com a estampa dos “EUA”, penso estar entregue a ele, porém ao começar a abrir os botões da minha blusa, eu crio forças e empurro-o, fazendo-o cair ao lado da minha cama, e a sua indignação é notória.

– Se você não está pronta, tudo bem, mas não precisava disso.
– Não é que eu não esteja pronta pra isso, eu não estou pronta para você, Pietro. – Falo séria o bastante para ele perder o seu semblante.
– Como assim, amor? – Ele põe as mãos em minhas pernas, acariciando-as.
– Você aprontou muitas comigo, não sei se estou disposta a passar por tudo de novo. – Empurro as suas mãos e levanto as minhas pernas, cruzando-as em cima da cama.
– Mel, entenda uma coisa, nós estamos juntos a 2 anos e 3 meses, e já lhe provei todo o meu amor. No início você poderia falar todas essas coisas, de que não me queria por isso e por aquilo, mas agora eu e você, somos um. Quando eu lhe vi naquela fila, você me encantou, tentei negar isso no momento em que eu vi, mas meu coração foi insistente o bastante para me fazer falhar no meu feito. Nossa ligação é maior que o destino, vai muito além do que qualquer coisa. Vai muito além do que eu e você. Vai muito além do que um amor no colégio.  Nós somos vivos para ficarmos juntos. Por favor, fale que eu não estou sozinho nessa viagem. Nesse amor incalculável.  Me diga, por favor. – Uma lágrima escorre do seu rosto.

  Tudo o que ele me diz, parece ser tirado do meu coração. Das minhas páginas do meu diário. Eu o amo, não posso negar, mas até quando eu irei amar e sofrer por causa desse amor? Pietro não mudará agora. Será um processo longo e eu sei que sem mim, vai demorar muito mais pra ele conseguir, mas comigo eu irei sofrer o dobro que ele irá para mudar o seu jeito, ou pelo menos, moderá-lo. Digo rapidamente sem pensar nas consequências.

– Você está só.

Pietro se levanta e veste a roupa sem dizer nada, sua feição mostra derrota, mostra tristeza, mostra o fim. Ele sai pela porta do quarto e antes de fechá-la os nossos olhos se cruzam e percebo que o que eu fiz foi uma burrada, que eu o amo e que eu não posso ficar sem ele, talvez o meu propósito seja mudá-lo e com isso conseguir a minha felicidade. Talvez esteja sendo idiota, mas isso eu já sou a muito tempo. Sem pensar, abro a porta e desço as escadas o mais rápido que eu consigo, ao chegar na porta principal, encontro-o e minha reação é inimaginável nesse momento. Beijo-o e agora sinto o seu amor em mim. Mordo os seus lábios e com um contato visual infindável revelo a ele:

– Por favor, não me deixe. Eu te amo. – Volto a beijá-lo.

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