Capítulo 9

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"Trimm". O alarme toca e o meu mau humor se destaca sob todos os outros sentimentos. Hoje as aulas voltam, não acredito que o paraíso já acabou. Passei esses nove dias, desde a minha festa, em cima da cama, só levantei para tomar banho, chorei muito nos três primeiros dias depois de todo o ocorrido na festa. Agora já estou "melhor", mas não estou pronta, ainda, para ir para o colégio. É muito para digerir, um diretor novo, uma escola bem desunida, um ex-melhor amigo na minha sala e uma amiga que está aprimorando a sua sexualidade. Mas eu sei que esse é o momento para encarar tudo de frente, só não tenho coragem para isso.


- Acorda Mel! Você vai chegar atrasada. - Minha mãe bate na porta.


- Já estou indo.



Não tenho forças para me levantar, mas arranjo e consigo ficar de pé. Vou para o banheiro e me olho no espelho. Estou terminantemente horrível. Meus cabelos desgrenhados, juntamente com as olheiras profundas me dão um aspecto de zumbi que é indescritível. Tomo banho e com o cair da água, sinto toda a sujeira do corpo e da alma indo embora pelo ralo. Saio e visto a roupa. Não tenho ânimo, nem para me vestir. São 6:47 e minha mãe me chama, novamente.



- Vamos Mel, vou deixar você ai. - Ela quase arromba a porta.


- Já estou indo.



Pego a minha mochila e desço as escadas. Minha mãe está esperando na porta, e assim que ela me avista, abre a porta e entra no carro. Acelero o passo e entro no carro, já em movimento. O percurso até o colégio é pequeno, são apenas 20 minutos, mal dá tempo de tirar mais uma soneca e minha mãe já me acorda, para o pesadelo que vem a seguir. Entro no colégio e falo com algumas conhecidas e com algumas pessoas que estavam na festa. Vou direto para sala, sento no fundo (uma coisa que nunca fiz antes) e ponho meus fones de ouvido. Alguns alunos chegam depois de mim e finalmente o professor. Ele é alto, ruivo, tem olhos azuis, alguns músculos e um maxilar bem saliente. Ele põe a mochila em cima da mesa e se apresenta.



- Olá! Meu nome é Ricardo e serei seu novo professor de Literatura. Por motivos desconhecidos por mim, o antigo professor apenas irá se ausentar por alguns dias, então evitaremos relações, afim de não sofrermos com isso. - Ele sorri.



Todos riem, menos eu; no meio das gargalhadas, Fred chega e eu percebo um contato visual entre ele e o professor que vai além de uma relação entre professor e aluno. Já não bastava pegar Pietro, ainda quer pegar o novo professor. É muita audácia. Após as olhadas com o tal bonito intelectual, ele me olha e é como se ele me desse uma facada no meu coração. Tudo vem à tona na minha mente, como um filme já assistido antes. A raiva toma conta do meu corpo novamente. Aperto o braço da cadeira, e antes que eu possa soltar um grito, Renata põe a mão no meu ombro.



- Amiga, você está bem?


- Na medida do possível - Olho para ela.


- Imaginei, fiquei sabendo do que aconteceu e não fique assim, as coisas vão melhorar. - Ela me abraça.


- Obrigado amiga. Espero mesmo.


- Eu tenho que te contar um babado. Estou ficando sério com a Julia.


- Desde quando você pega meninas? - Tento parecer surpresa.


- Desde quando cansei de ficar com homens.



Eu solto um sorrisinho para ela e o professor olha pra nós e aponta para cadeira de Renata.



- Depois a gente conversa - Ela fala movimentando as mãos em um sentido giratório.



Eu apenas assento com a cabeça. Fred passa a aula toda me olhando e na hora da saída sinto ele me seguindo, como uma agente secreta, me escondo no banheiro, onde ele desiste de procurar, fico lá por algum tempo até escutar o temporário professor chamando-o. Isso me intriga. Inverto os papéis e agora eu estou seguindo-o. Saio do banheiro e vejo ele parando na sala onde acabamos de sair e entra olhando para os lados. Ele não me vê, pois estou escondida atrás de uma pilastra. Assim que a porta se fecha, vou para frente e presencio uma cena que era normal para mim até alguns dias atrás. O professor agarra na cintura de Fred com uma de suas mãos e com a outra, passa os dedos pelos lábios de Fred e depois pela nuca, onde para, aperta e impulsiona o pescoço até a sua boca. Eles se beijam e Ricardo começa a tirar sua camisa, com essa cena pego o meu celular e começo a gravar. A cena só melhora. O professor pega a mão de Fred e põe dentro da calça dele, fazendo eles pararem de se beijar. Fred olha para baixo ao mesmo tempo que abre o zíper da calça de Ricardo. Então se inicia um sexo oral. Eu fico abismada, pois nunca tinha presenciado de fato, e penso se isso aconteceu quando Pietro estava com Fred. Meu olho enche de lágrima novamente, mas paro de pensar quando vejo o novo diretor vindo na minha direção. Guardo o celular e saio correndo. Com a minha correria os dois na sala despertam e se vestem novamente. Vou para frente do colégio, e fico à espera de minha mãe, mas por algum motivo parece que ela esqueceu de mim. Vou para o ponto do ônibus e enfrento uma chuva horrível. Pra fechar a manhã com chave de ouro, um ônibus passa e me encharca com água empossada da chuva e lama. Fico com muita raiva, podia invocar todos os espíritos malignos agora. Lúcifer seria meu amigo do mortal jeito como me encontro.

Rosa De SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora