“Esses dois dias foram os melhores da minha vida. Sem brigas com minha mãe; Meu pai está tão radiante que contagia; Minha irmã está se preparando para a volta às aulas (uma coisa que eu não estou fazendo) que acontecerá daqui a 10 dias e muito feliz para reencontrar os amigos. Estou mais próxima do que nunca de Renata e Frederico. Pietro e eu estamos realmente nos amando novamente, como no início da nossa relação e até agora, nenhum outro presente de nenhum “desconhecido”. Minha vida, finalmente, começou a tomar seu rumo. Obrigada, querido Diário, e até amanhã.”
Minha felicidade é notória. Quero gritar aos quatro cantos do mundo que eu estou feliz, satisfeita e com a minha vida de volta. A manhã foi muito agitada com a arrumação da festa e todos os outros preparativos, mas até isso me deixa feliz. Às 15:00, tudo já está arrumado, mesmo faltando três dias para a festa. Sou um pouco precavida e preocupada com essas coisas. Tenho muito medo de não dar certo e tudo mais. Não por eu ser pessimista, ou algo do tipo, só que eu vejo muito isso acontecer e isso acaba caindo sobre mim com uma carga muito grande. Mas essa vai ser a pré-festa de 18 anos mais animada de todos os tempos. Isso agora fica claro. Pego a agenda de minha mãe e procuro alguma atração para tocar na festa. A Primeira que eu vejo é Jason Derulo. Quem seria sexy, cantor, bonito, sexy e sexy ao mesmo tempo? Essa é a minha melhor escolha. Sem demora, ligo para o assessor dele e tudo já está marcado. O nome da minha família é reconhecido por todos, e como é de costume de minha mãe contratar cantores internacionais, conseguir um fica muito mais fácil. Meio caminho andado, agora só faltam as bebidas. Depois de umas ligações aqui e outras ali, consigo um fornecedor que cobra barato e ainda vai fornecer dois barman’s para a festa. Tudo está saindo melhor do que o planejado. Vou para o quarto passo: convidar o pessoal. Faço um evento no Facebook e 400 pessoas são convidadas, de todos os ambientes possíveis: baladas, colégio, vizinhança..., de todas as etnias, de todas as cores, de todos os gostos.
Depois de tudo estar quase pronto, me lembro de uma coisa: Dinheiro. Não tenho como pagar isso, a minha festa de 18 anos vai levar todo o meu dinheiro guardado. Dois gastos são demais, mesmo para uma família rica, e acentuando o período de recessão que estamos vivendo, com certeza isso é uma má ideia. A única maneira é pegar o cartão da minha mãe. Como vou fazer isso, se ela não tira essa bolsa de perto dela? Parece até que ela anda com toda a nossa fortuna naquela bolsa dourada da Channel. Penso alguns minutos em um jeito de fazer isso e ponho em prática. Ela está no quarto. Subo as escadas delicadamente, como uma pessoa que não quer nada, passando a mão pelo corrimão de marfim, e entro no quarto.
– Mãe? – Abro a porta e a vejo sentada no baú que fica na ponta da cama, concentrada, olhando para um pedaço de papel em suas mãos. Ela não me escuta, chamo novamente – Mãe!
– Oi, querida. – Ela levanta o rosto.
– Onde está aquele seu perfume, que você comprou no mês passado? – Olho para os quatro cantos do quarto à procura da bolsa, vejo que está ao seu lado.
– Está onde estão todos os outros. No banheiro, na parte de cima da pia, em uma mini prateleira.
Pego o perfume e aproveito o momento. Talvez essa seja minha última chance de conseguir a realização da minha festa. Então não hesito ao dizer:
– Ah, esqueci de avisar que o telefone está tocando lá em baixo e é pra você, eu acho. – Falo ofegante.
– Já era hora, demorou muito para me ligar. – Ela fala irritada.
Não sei ao que ou a quem minha mãe se refere, só sei que eu tive sorte que ela não leva a bolsa e agora a agente 007 entra em ação. Vasculho a sua bolsa que está em cima da cama, vejo vários papéis, muitas moedas e algumas notas de baixo valor. Nem dá pra dar entrada nas bebidas, e é ai que me desespero. Depois de ter organizado, planejado e articulado todo o meu “projeto verão”, tudo vai por água abaixo. Escuto minha mãe vindo em direção ao quarto e ao entrar, me levanto da cama.
– O que é que você ainda está fazendo aqui? – Ela me pergunta franzindo o cenho.
– Estou apenas vendo as suas roupas. – Procuro alguma peça de roupa em cima da cama e não acho nada.
– Ao lado da minha cama? – Ela cruza os braços.
Saio e deixo ela falando sozinha, não sou mal educada, mas as vezes as situações extremas pedem atitudes extremas. Começo a tramar um novo plano. Pra esse, vou precisar de Fred e Renatinha. Eles são mais espertos do que eu, não posso negar, e como eu quero conseguir êxito na minha tarefa, toda ajuda é bem-vinda. Ligo para eles tão desesperada que em 20 minutos os dois estão aqui.
– Preciso da ajuda de vocês, agora! – Falo olhando fixamente pra eles.
– Calma mocinha, o fim do mundo ainda não é hoje. – Fred fala com um grande sorriso no rosto.
– Não estou brincando Fred.
– Fala logo o que é. – Renata fala impaciente.
– Vocês sabem de toda a organização da festa e tal, o problema é que o valor total foi muito alto e não tenho esse dinheiro para tirar de vez. Resumindo, precisamos pegar o cartão da minha mãe que está em uma carteira que eu achava que ficava na bolsa dela, mas não está. Provavelmente ela deve guardar no bolso ou em algum canto do quarto.
– Para. Deixa eu ver se entendi. Então quer dizer que você chamou eu e o Fred para pegarmos o cartão da sua mãe que está tão escondido quanto o dinheiro do presidente, com uma hipótese que esteja no quarto dela, que é do tamanho da minha casa, ou ainda que está junto a ela, que talvez se tentarmos isso estaríamos mexendo com um ninho de cobra, e com certeza uma picada três dias antes da sua festa não está na minha agenda. E só pra deixar claro, eu não sou James Bond.
– Isso se ainda houver festa... – Esnobo-a.
– Concordo com Renata. Isso é loucura. – Fred fala com propriedade.
Depois de 30 minutos de muita insistência e muita explicação da enorme importância que isso tem na vida de todos, e principalmente na minha, eles se convencem e tramamos um plano. Isso é mais difícil do que qualquer coisa que eu já fiz na vida. Tudo se inicia com uma simples distração de Renata com minha mãe, enquanto eu e Fred iremos revistar o quarto. Se não estiver lá, a segunda parte do plano é a pior. Vamos mexer com a chefona do covil, e eu estou rezando para que isso não aconteça.
O plano se inicia. Renata chama minha mãe e elas conversam sobre minha vida, minhas paqueras, sobre tudo. Minha mãe parece estar bem entretida e então Renata pisca o olho direito, dando sinal que essa é a nossa deixa. Subimos as escadas sorrateiramente e abrimos a porta do quarto, a qual faz um rangido bem chato. Vasculhamos tudo. Gaveta, tapete, atrás de quadros, guarda roupa, frigobar, até no lustre a gente olha pra não restar dúvidas, e sim, não está em nenhum lugar. O que sobra é a segunda opção: minha mãe está com a carteira no bolso, ou escondida dentro dela. Eu e Fred descemos as escadas e vamos direto para a cozinha, onde minha mãe está dando gargalhadas com Renata, e no momento que eu olho pra ela, vejo a ponta da carteira pra fora do bolso. Um calafrio percorre todo o meu corpo. Estou perto da minha festa. Sem nada programado, me esbarro nela e puxo discretamente a carteira. Ela não percebe nada. Ficamos conversando, e com a carteira fora da visão dela, nas minhas costas, fica fácil para Fred pegar e sair com a carteira, sem dar nenhuma pista.
– Fred já vai pra casa? – Ela pergunta curiosa.
– Não. Foi ao banheiro. – Respondo evasivamente.
– Ah, tudo bem.
Fred demora, e minha mãe já perguntara por ele três vezes. Aproveitando a situação, falo que vou vê-lo. Quando chego ao banheiro, ele está desesperado na porta.
– Demorou demais. Sua mãe tem 32 cartões. Complica um pouco pra mim. Não sei qual eu pego.
– Deixa eu ver. – Pego a carteira da mão de Fred.
Olho os cartões e pego um que já vi minha mãe usando. Um totalmente preto com as informações douradas, grifadas nele. Mas tem mais uma coisa na carteira dela. Não são papéis, não são cartões, não é dinheiro... É uma chave. Pego-a, e o modelo não parece ser de nenhuma fechadura que temos aqui em casa. Observo-a novamente e ao virá-la, percebo que a chave não é daqui de casa, pois tem nela o nome de um famoso motel: “Motel Palmeiras”. Penso imediatamente: minha mãe está chegando tarde em casa porque está indo para o motel com o meu pai! Mas então penso novamente: se eles estão indo juntos, porque ela chega sozinha? Será que minha mãe está traindo meu pai ou será apenas uma ilusão da minha cabeça? Depois dessas perguntas, chego a uma conclusão: Nunca terei paz na vida.

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Rosa De Sangue
Mystery / ThrillerMelissa é uma garota de 17 anos que tem tudo que uma menina da sua idade poderia querer; uma casa na cobertura, pais ricos, amigos inseparáveis e um namorado dos sonhos, porém a vida não é só feita de rosas, e os seus espinhos lhe espetam de todos o...