Capítulo 6- Estranha indiferença

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Segunda-feira, voltavam as aulas e com elas voltava a rotina das semanas...
Mas eu sabia que qualquer coisa iria mudar, o que tinha acontecido sábado ainda estava demasiado presente na minha memória.
Como faço todas as semanas levanto-me, faço a minha higiene, tomo o pequeno-almoço e apanho o autocarro que me leva à escola.
As aulas começam às 8:15, mas antes de entrar na aula vou (como sempre) ao cacifo e fico à conversa com as minhas amigas. E se querem saber, não ainda não o tinha visto...
Toca e todos entram na aula é (infelizmente) Matemática... A aula decorre normalmente e (para não variar) está a ser entediante.
Quando toca para o segundo tempo alguém bate à porta, era ele.
-Posso entrar professora?- pergunta ele, reparei que ainda tinha as marcas de sábado...
-Entra William, mas vais ter falta ao primeiro tempo.
Ele senta-se (como já tinha referido) atrás de mim e começa a tirar as suas coisas, estava a desconcentrar-me, a sua respiração, os movimentos. Queria falar com ele mas não podia, passei o resto da aula a lutar contra mim própria para não me virar para trás.
Nunca me senti tão aliviada quando oiço lá fora o toque. Agora era o tudo ou nada. Ele arruma as suas coisas rapidamente e sai também rapidamente. Saio a seguir dele, mas uma multidão que está concentrada no corredor faz-me perdê-lo do alcance.
Quando passo essa zona, começo a correr.
-William! William! Esperaaa!!!- grito eu, ele não abranda-WILLIAM HALE!
Ele pára e olha-me com os olhos muito arregalados.
-O que é queres Miller?- pergunta ele num tom rude que me surpreendeu.
-Não precisas de falar assim, só queria saber como estavas?-respondi-lhe.
-Estou bem, obrigado. Mais alguma coisa?
-Sim, tirares essa cara de enjoado que tens hoje.- disse-lhe e ele virou costas.
Eu voltei para junto das minhas amigas, mas não conseguia deixar de pensar na atitude dele, que bicho é que lhe tinha mordido?
Estava com as minhas amigas, elas falavam mas eu não prestava muita atenção.
-Mack! Mack!- chamou a atenção Sarah- Também achas que eu devia comprar aquela camisola amarela?
-Sim, também gosto muito de Nutella!-disse eu sem fazer a mais pequena ideia do que estavam a falar.
-Meu Deus! Em que planeta estavas? Eu perguntei-te da camisola...- chamou-me a atenção Sarah ao mesmo tempo que tínhamos um ataque de riso conjunto.
-Desculpem! Estava a pensar numas coisas...- justifiquei eu quando finalmente parámos de rir.
-Estavas em pensar em algo ou em alguém...-alfinetou Kathy que era a mais atrevida das 4.
-Oh... Eram umas coisas... Nada de importante.-afirmei eu começando a ficar nervosa e a corar.
-Olha ela a corar!- gozou Summer. - Vá lá diz... Quem é ele?
-Não é ninguém!-menti eu, não queria admitir.
-É o Hale! Só pode, cada vez que ele chega ela fica toda nervosa, eu bem vejo!- atirou Sarah, ela tinha tocado no meu ponto fraco.
-Olhem, eu tenho de ir ao cacifo antes da aula.-disse eu para evitar mais situações assim... Já chegava de William Hale por hoje.
-Claro, vai vai! Foge de nós! Se o teu querido William passar aqui nós damos-lhe o recado.-brincou Kathy e eu virei costas.
Fui ao cacifo e entretanto tocou para a aula, era Inglês.
Entrámos e cada um se sentou no seu lugar. A professora estava voltada para o quadro a escrever o sumário, quando acabou virou-se para nós e disse:
-Hoje vamos dar poesia, quero que os alunos da primeira e da terceira fila se virem para trás porque vamos fazer o trabalho a pares.- Fogo! Pensei eu vou ter de fazer o trabalho com o "Sr. Acordei com cara de enjoado na segunda-feira"...- Vão ter de ler este poema e interpretá-lo. Bom trabalho!
Virei-me para trás e olhei para ele. Ele não tirava os olhos do livro, será que me queria evitar?!
-William?-chamei e ele continuava sem olhar para mim- William?! (continuava a mesma coisa) Nunca te ensinaram a olhar para as pessoas quando falam contigo?
Ele endireitou-se na cadeira e olhou-me nos olhos (confesso que me senti um pouco intimidada com o olhar dele).
-Sim, ensinaram-me mas neste momento não me apetece usar a minha educação contigo!-respondeu ele.
-Olha, sr. Cara de Enjoado, eu fiz-te alguma coisa?-atirei eu já me estava a fartar aquela conversa.
-Fizeste e por causa disso estragaste tudo-acusou-me ele, eu não fazia a mais pequena ideia do que ele falava.
-Eu não sei que bicho te mordeu hoje, mas se continuas assim eu começo a ignorar-te!-ok, acho que fui um pouco impulsiva, mas naquele momento o sangue estava a subir-me à cabeça e eu não conseguia controlar o que dizia.
-Faz isso, é para o lado que eu durmo melhor Miller!-quando ele disse aquilo senti o coração a desfazer-se no meu peito, senti-me usada, como um trapo. Só me apetecia chorar e gritar com ele.
Engoli o choro, disse para mim mesma "ele não merece o teu choro", fui até à mesa da professora e pedi-lhe para ir à casa de banho porque não me estava a sentir muito bem, ela autorizou.
Corri até à casa de banho e lá não consegui conter-me e comecei a chorar. Chorei porque me sentia usada, senti que tudo o que havia feito por ele se tinha perdido, todos os momentos, os segredos, os olhares, os sorrisos, os abraços tudo isso se tinha perdido... Senti um vazio tão grande cá dentro que só me apetecia voltar à sala e começar a bater-lhe e a gritar com ele, mas como é óbvio eu não ia fazer isso (apesar de naquele momento me apetecer mesmo muito). Limpei a cara e tentei que não se notasse que tinha estado a chorar, pus o melhor sorriso falso de sempre e voltei para a sala. Antes de bater à porta respirei fundo, não sei como seria encará-lo de novo. Bati à porta e perguntei se podia entrar, ao que a professora respondeu afirmativamente. Entrei e todos olhavam para mim de uma forma estranha, como se eu tivesse uma doença contagiosa. Bem, nem todos, a Rosemary e o seu "squad" olhavam para mim quase com um sorriso de satisfação por me ver naquele estado.
Sentei-me no meu lugar para continuar o trabalho e só aí reparei que ele tinha mudado de par. (Não sei se foi melhor ou pior para mim, mas pronto)
Acabei por fazer o trabalho com o Mike (outro dos meus colegas- grupo dos normais) e até correu bem (tivemos 5/7 respostas bem), mas nem assim consegui tirar o que se tinha passado da cabeça. Quando tocou senti uma lufada de ar fresco. Saímos e eu voltei ao cacifo, o meu pequeno mundo e abri o meu caderno para escrever sobre aquela estranha indiferença...

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