Capítulo 20- Duo Dinâmico

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  -Mackenzie, pelo amor a Deus! Tens de parar de bater na mesma tecla!- exclamou Kathy em desespero.
  -Não consigo K! Eu simplesmente não consigo parar de pensar na mesma coisa!- disse quase explodindo- Isto está fora do meu controlo e isso deixa-me fora de mim.
  -A Kathy tem razão. Tu tens de te acalmar para puderes pensar com clareza. No entanto não podemos deixar de notar que é uma situação realmente grave.- interveio Summer, tentando pôr alguma água na fervura.
Kathy contrapôs algo mas não prestei muita atenção. Mantive-me em silêncio enquanto escutava a sua troca de argumentos. Kathy era da opinião de que não me devia preocupar em excesso. Afinal, que podia eu fazer naquele momento? Já Summer tinha um ponto de vista mais neutro. Ela considerava que Kathy tinha razão no facto de não termos muita margem de manobra naquela situação, no entanto, também estava preocupada com as consequências  do facto de R.L. possuir uma parte do meu diário pudesse provocar.
Decidi intervir:
-Eu sei que vocês acham que eu estou demasiado preocupada mas a verdade é que, para mim, isto é algo com que eu deva ficar demasiado preocupada. R.L. dispõe de informações muito pessoais a meu respeito. Coisas a que nem a minha própria família ou amigos mais chegados têm acesso. Não sei exatamente a quantidade ou há quanto tempo a adquiriu mas o que é de sublinhar é que a tem neste momento e pode usá-la com bem entender.
  Ambas permaneceram de boca fechada como se tivessem levado um "choque de realidade".
  -Sarah, o que achas?- perguntei na tentativa de fazê-la entrar na conversa também.
  -Hã?- disse apenas num tom surpreso, desviando a atenção do seu livro.
  -Estava a perguntar-te qual a tua opinião em relação a esta situação.- repeti.
   Sarah refletiu por breves momentos antes de declarar algo:
  -Tendo em conta o histórico imprevisível de R.L. acho que devemos estar alerta. Não é que já não o estejamos mas agora ainda mais. Temos de ser prudentes mas ao mesmo tempo temos sempre de estar um passo à frente dele/dela. A meu ver, acho que devemos provocar um confronto!
  -Um confronto?!- perguntámos em uníssono tal era a incredulidade.
——
  -Nunca sei para que lado é porcaria do acento!- vociferei um pouco alto de mais, atraindo alguns olhares reprovadores de quem estava na biblioteca. Murmurei um "desculpem" que acho que dificilmente escutaram. Abri desajeitadamente o manual de francês para verificar (novamente) as listas de verbos.
  Estava a fazer os trabalhos de casa enquanto esperava por Kathy, que estava no treino das cheerleaders. Assim que ela chegasse, íamos para minha casa fazer um trabalho de grupo.
  Voltei a concentrar-me na minha tarefa até que ouvi uma voz familiar chamar-me:
  -Olá Mackenzie!- era o William. Poderia ser impressão minha mas parecia estar com um ar diferente do habitual, mais estranho.
  -Olá William!- cumprimentei.- Está tudo bem?
  -Sim, sim tudo ótimo! Eu... bem eu... queria perguntar-te uma coisa.- disse. Ele aparentava estar cada vez mais estranho. Arriscava mesmo a dizer que estava nervoso. Cruzou os braços em cima do peito e e começou a balançar o corpo sem sair do mesmo sítio.
  -Sim...- incentivei-o a continuar.
  Ele respirou fundo e declarou de rajada:
  -Eu gostava de te convidar para sair.
  Deixei cair o lápis ao chão. Olhei-o surpresa.
  -Sair? Quer dizer... sair sozinhos?- interroguei-o. Agora entendia a razão do seu nervosismo porque agora era eu que o estava a sentir.
  -Sim...- respondeu ele um pouco relutante. Calou-se por uns segundos, talvez à espera que eu dissesse algo, e depois prosseguiu.- Eu entendo se não te sentires confortável... não te vou pressionar se  ainda não tiveres uma resposta...
  Pensei por alguns momentos em tudo o que poderia correr mal quer aceitasse ou não. Decidi não seguir o que a cabeça me dizia, pelo menos uma vez.
  -Eu gostava muito!- declarei convicta. Ele sorriu abertamente, provavelmente não esperava por aquilo. Sorri de volta.
  -Então, para quando fica a saída?- acabei por perguntar.
  -Vejamos... hoje é quinta. Domingo parece-te bem?
  -Acho que sim. Depois digo-te algo, afinal de contas, ainda tenho de ter autorização dos meus pais. Mas... onde é que vamos mesmo?
  -Não te posso dizer muito. Domingo, às 11h eu passo por tua casa para te ir buscar.- informou apenas deixando algum mistério no ar. Anotei mentalmente.
  -Ok! Eu...
  -Ai! Vê por onde andas, Andrew!-queixou-se alguém. Olhámos para onde vinha o som e, por isso, deixei a meio o que ia a dizer.
  -Kathy?!- exclamei.
  -Oops...!- proferiu apenas. Ela encontrava-se parada perto da porta da biblioteca, não sabia exatamente há quanto tempo mas muito possivelmente ouvira a conversa toda.
  -Primeiro que tudo, há quanto tempo estás aí? E, segundo que parte da conversa é que ouviste?- questionei-a enquanto se aproximava da mesa e se sentava.
  -Há para aí 5 minutos. Vi o William a entrar e decidi ficar à porta à espera que ele acabasse de falar contigo e, pronto acabei por ouvir a parte toda da conversa.- admitiu Kathy.
  Lancei-lhe um olhar de reprovação mas acabei por sorrir. De qualquer das formas mais tarde iria contar-lhe.
  -Mack, se não nos despacharmos perdemos o autocarro das 16h.- alertou Kathy.
  -É verdade! Temos de ir!- concordei. Arrumei as coisas na mochila e levantei-me.- Eu depois digo-te alguma coisa William!
  -Fico à espera!- respondeu ele sorrindo.
——
  -Queres mais arroz Kathy?
-Não, obrigada! Já estou cheia srª. Miller!
Kathy cruzou os talheres, em sinal de que já havia concluído a refeição. Deu-me um toque no pé que quase me fez engasgar com a comida que tinha na boca.
"Qual é a tua?" perguntei com o olhar. Ela olhou para mim, olhou para os meus pais e voltou a olhar para mim. Entendi a mensagem.
-Achas que é a melhor altura?- sussurrei-lhe. Ela acenou afirmativamente com a cabeça. Lancei-lhe um olhar de descrença.
Passado cerca de um quarto de hora, a mãe de Kathy tocou à campainha. Vinha buscá-la. Antes de Kathy se ir embora disse-lhe:
-Vou falar agora com eles.
Ela sorriu muito abertamente. Estava visivelmente mais animada do que eu própria.
Dirigi-me à sala. Os meus pais estavam sentados no sofá. A minha mãe estava a ler um livro. O meu pai estava concentrado no monitor do seu computador. Cheguei-me perto deles.
-Mãe... Pai... tenho de falar convosco.- disse hesitante. A minha mãe fechou o livro, o meu pai tirou os óculos e desviou os olhos do computador.- Eu...hum.. fui... hum... convidada para sair.
  Em vez da reação de surpresa que eu esperava, os meus pais sorriram um para o outro e o meu pai declarou:
-Nós sabemos filha. E nós deixamos-te ir. Aliás, já deixámos.
-Como assim?- perguntei pasmada. Eles voltaram a olhar um para o outro e fizeram uma pequena pausa antes de prosseguir.
-O William Hale ligou-me esta manhã, antes de as aulas começarem. Estava uma pilha de nervos o coitado. Parecia que me queria pedir para casar contigo.- pausa para risos. Eu ri mas nervosamente ao imaginar a cena. O meu pai continuou.- E pronto, ao fim de um bocado lá me perguntou se podiam sair juntos. Deu-me todos os detalhes, até me queria dar a morada e o telefone de casa para o caso de ser preciso alguma coisa. Eu disse-lhe que não era preciso, que tenho o número dos pais. Basicamente foi isto. Ele agradeceu-me muito e desligou. Suponho que depois deve ter falado contigo.
  -Eu estou pasmada. Pasmada por ele ter feito isso, e ainda mais pasmada por vocês terem deixado.
  -Ele é bom miúdo, e os pais deles são pessoas de confiança. O pai dele já foi cliente do teu pai. Para além do mais, ele garantiu-nos que vocês são apenas amigos... perdão, melhores amigos.- justificou a minha mãe. -Escuta filha, é normal pensares que talvez não te autorizássemos a ires sair com ele, nós até estivemos um pouco reticentes ao início, mas acima de tudo achamos que deves aproveitar estes momentos. Tu passaste por tanto nos últimos dois anos, só queremos ver-te feliz e com pessoas que te fazem bem!
  Aproximei-me deles e abracei-os.
  -Vocês são os melhores pais do mundo!
  Ficámos alguns segundos assim até o David chegar e juntar-se ao "abraço de família", deixando-me praticamente esmagada.
  Antes de me deitar enviei uma mensagem ao William: "Acho que adivinhas a resposta..." escrevi "Que pena que não tenham deixado!" respondeu ele uns segundos depois. Trocámos mais um par de mensagens. Quando estava a pensar desligar o telemóvel recebo outra mensagem ";)- R.L.".
  "Hoje não" pensei.
——
  -... e quando o treino acabou o treinador virou-se para o Sean completamente passado e disse-lhe "Olsen, a correres a essa velocidade até uma tartaruga chega mais rápido que tu ao cesto!"- contou William bastante animado. Eu ri e ele também. Estávamos a caminho da estação de metro. Até ao momento ainda não tinha a menor ideia de onde iria ser a nossa saída. Esperava sinceramente que não nos ficássemos pela estação de metro, mas a avaliar pelo tamanho considerável da mochila que William transportava era pouco provável.
  Entrámos na estação de metro, descemos nas escadas rolantes, passámos os cartões pelas máquinas e descemos novamente para a plataforma. Esperámos 2/3 minutos até ouvirmos o barulho do metro a aproximar-se vindo do escuro túnel.
  Entrámos na primeira carruagem que parou à nossa frente. Estava bastante gente para uma manhã de domingo. Não haviam lugares desocupados, por isso, ficámos em pé em frente às portas.
  O metro ia parando nas diversas estações mas William não demonstrava qualquer reação. Parámos na estação terminal Santa Monica Downtown.
  -Chegámos!- anunciou ele. Saímos da carruagem.- Eu costumo vir muitas vezes aqui. Com os meus irmãos e com os meus pais, e já vim duas ou três vezes com o Sean e, sinceramente, é um dos meus sítios preferidos do mundo.
  -Também gosto muito de vir cá! E já não vinha há imenso tempo.- disse eu. Subíamos agora as escadas que davam acesso ao exterior. Passámos novamente os cartões nas máquinas e subimos os últimos lances de escadas.
  Já à superfície, admirei por momentos a bela paisagem. Uma grande avenida que terminava numa outra paralela à linha de costa. Lá ao fundo vislumbrava a roda gigante e as montanhas russas do Santa Monica Pier, o parque de diversões. E, por último mas não menos importante, a paradisíaca Santa Monica State Beach.
  -Eu planeei uma série de coisas para fazermos mas antes disso temos de ir a um lugar buscar uma coisa.- explicou William.
  -Vais continuar a fazer segredo em relação a tudo o que vamos fazer hoje ou tencionas contar-me algum detalhe?
  -O segredo, é a alma do negócio, minha cara.- respondeu com o ar mais sério do mundo.
  Caminhámos um pouco até chegarmos à Third Street Promenade, outra grande avenida mas cheia de comércio e restaurantes. Entrámos numa pequena loja em cujo letreiro estava escrito "Souvenirs/Rent-a-car/Rent-a-bike".  Dirigimo-nos ao balcão.
  -Bom dia! Em que posso ajudá-los?- perguntou um rapaz que aparentava estar na casa dos 20 anos.
  -Bom dia! Eu tenho uma reserva em nome de William Hale de duas bicicletas, agora às 11h30.
O rapaz baixou-se e tirou uma prancheta de dentro do balcão. Olhou atentamente para a primeira folha.
-William... Hale... exatamente! Vou só pedir-te que assines aqui. É o Termo de Responsabilidade.- passou-lhe outra folha que William assinou. -Agora venham, vamos buscar as bicicletas.
Levou-nos para o exterior da loja e retirou duas bicicletas azuis-escuras do suporte.
-Têm até às 19:30 para as devolver. Bom passeio!- declarou o rapaz da loja.
Subimos para as bicicletas e começámos a pedalar. Estive quase a perguntar onde é que iríamos mas William parecia querer fazer mistério sobre tudo naquele dia por isso não valia a pena o esforço. Limitei-me a segui-lo e a ir com atenção à estrada.
Saímos da Third Street Promenade e fomos pela Ocean Ave, a avenida paralela à praia. Entrámos num parque, o Palisades Park. Levámos as bicicletas pela mão até chegarmos a um miradouro. Encostámo-las à vedação.
-Gostas?- questionou o William quando me aproximei da vedação para apreciar a paisagem.
-É lindo... realmente lindo!- exclamei.- Já me tinham dito tantas vezes que a vista daqui é fantástica e agora estou aqui a ver com os meus próprios olhos que é mesmo, mesmo incrível!
Retirei o telemóvel da mochila e tirei algumas fotos à paisagem. Uma senhora de meia-idade passou por nós. Observou o horizonte durante os momentos e depois reparou que estávamos a fotografar.
-Querem que vos tire uma foto?- perguntou ela. Olhei para o William e ele olhou para mim.
-Hum... sim, por favor.- disse ele. E entregou-lhe a máquina fotográfica.
Colocámo-nos junto à vedação. Pus o meu braço em redor dos ombros dele e ele fez o mesmo. Sorrimos para a câmara.
-Já está! Tirei várias para o caso de alguma não estar tão boa.- informou ela.
-Muito obrigada!- agradeci.
-Fazem um bonito par!- comentou a senhora. Corei instantaneamente.
-Nós não...- preparei-me para a corrigir. No entanto, fui travada pelo William que colocou a sua mão em cima da minha boca impedindo-me de continuar.
-Obrigado!- respondeu ele. Fiquei espantada.
Antes de subirmos novamente para as bicicletas, já após a senhora ter seguido o seu caminho, tive de o questionar.
-Para que é que foi aquilo? Eu só ia dizer que nós não namoramos.
-Mackenzie, as pessoas não precisam de saber tudo.- disse simplesmente e subiu para a sua bicicleta. Eu fiquei especada por instantes, confusa, bastante confusa.
Ainda estivemos mais algum tempo no parque, antes de regressarmos à Ocean Ave. Já era quase hora do almoço. William disse-me que conhecia ali um bom restaurante vegetariano. Eu já lhe tinha dito várias vezes que estava a tentar comer melhor e isso passava, em parte, por apostar mais na comida vegetariana. Achei muito atencioso da parte dele ter-se lembrado desse detalhe.
O restaurante era ótimo! Era buffet então podíamos experimentar uma grande variedade de pratos.
Assim que acabámos de almoçar pusemo-nos ao caminho novamente. E desta vez fomos a uma das imagens de marca de Santa Monica, aquela que aparece sempre nos postais e nas imagens da net, o Santa Monica Pier.
Como seria de esperar, o tamanho das filas era considerável em grande parte das diversões. Decidimos ir a algumas mais simples , depois encaminhámo-nos para a fila da montanha-russa. Surpreendentemente a espera foi mais curta do que pensava, cerca de 10 minutos.
Foi bastante divertido! Saí de lá um pouco zonza e com a cabeça a andar à roda mas isso já era previsível.
William disse-me para ir andando para a fila da roda gigante enquanto ele ia comprar algodão-doce para ambos. Ocupei, por alguns momentos, o último posto da fila. Estava a olhar em redor, quando vejo um rosto que me era familiar. Demorei algum tempo a reconhecer quem era mas, quando o fiz, chamei sem hesitar:
-Lydia!- ela virou-se para mim e, pela sua expressão, reconheceu-me também. Fui ter com ela, abandonando o meu posto. -Olá! Há quanto tempo! Como é que estás?
-Olá.- respondeu. E imediatamente a seguir encaminhou-se para junto de um grupo de pessoas que ali estava perto. Eu sabia que a Lydia não ia muito com a minha cara mas nunca pensei que chegasse a este ponto. Estava em choque mas continuava a olhar para ela. Notei algo estranho nela. Estava a sorrir. Eu nunca tinha visto a Lydia sorrir.
-Quem era aquela?- perguntou William despertando-me do meu transe.
-Oh... era uma rapariga que eu conhecia... ou achava que conhecia.
-Parecia simpática.- comentou ele sarcasticamente.
——
O sol já se começava a deslocar lentamente em direção ao horizonte. O céu ia adquirindo gradualmente o tom alaranjado do entardecer.
Estávamos sentados no areal fazia algum tempo. William tocava o seu ukelele que havia desencantado da avantajada mochila (sabe-se lá o que mais poderia tirar daquela mala). Tocámos e cantámos imensas canções. Naquele momento era a "Fix You", dos Coldplay (a pedido meu). Quando a acabámos William disse:
-Tens uma boa voz!
-Hum... obrigada! Mas eu não a acho nada de especial. Aliás, nada comparada com a da Summer.
-Acho que estás a ser demasiado modesta.- corrigiu-me ele e depois com um ar sonhador acrescentou.- Nós faríamos um duo musical fantástico... um autêntico sucesso! O "Duo Dinâmico".
Não consegui evitar rir.
-Isso é a coisa mais louca que ouvi nos últimos tempos.
-Eu estou a falar a sério! Não é brincadeira nenhuma.- respondeu-me com um ar solene. Depois riu-se também.- A propósito... já sabes o que vais fazer na apresentação de final de ano?
O espetáculo de final de ano... todos os anos no último dia de aulas, a escola organizava um espetáculo em que os alunos demonstravam os seus talentos. Alguns cantavam, outros dançavam ou tocavam algum instrumento. Havia também quem encenasse uma peça de teatro ou quem escrevesse um texto ou poema e o lesse para a plateia. Existiam ainda, alunos que faziam comédia, imitações ou até acrobacias. O evento tinha início entre as 15h30 e as 16h30, sendo que nas primeiras horas eram realizados jogos amigáveis de diversas modalidades, e prolongava-se pela tarde fora chegando, por vezes, a acabar por volta das 21h. No dia seguinte (sábado) realizava-se o baile para os finalistas da Middle School (o meu caso)* e no domingo o baile de finalistas do High School.
  -Kenzie? Ouviste-me?- perguntou William vendo que estava a demorar algum tempo a responder.
   -Ah! Sim! Provavelmente vou tocar piano ou se calhar, se a criatividade vier, escrevo alguma coisa. Mas ainda tenho de pensar bem nisso.
  -Nós podíamos fazer alguma coisa juntos... ainda não desisti da ideia de que dávamos uma ótima dupla!
  Não disse nada, apenas sorri. Inclinei-me para trás e fiquei deitada de barriga para cima. Fechei os olhos durante alguns segundos. Senti a brisa fresca vinda do mar e o som das ondas. Abri-os ligeiramente para olhar pelo canto do olho para William, que me observava fixamente. Voltei a fechá-los e repeti a mesma ação. Ele continuava a fitar-me.
  -Importas-te de não me olhar tão fixamente enquanto tento descansar?- inquiri com um olhar reprovador.
  -Não consigo.
  -Não consegues? Porquê?
  Ele ficou calado, como se estivesse a tentar criar algum tipo de suspense. Depois, olhou-me nos olhos de uma forma tão penetrante que senti que ele conseguia vislumbrar a minha alma através deles.
  -Porque és fascinante... e és a rapariga mais bonita que eu já vi na vida.
   Esperei para confirmar que o meu cérebro tinha processado a informação correta. Fiquei sem reação por momentos. No entanto, surgiu-me uma ótima resposta:
  -Não digas isso muito alto.- declarei inexpressivamente.
  -Posso saber porquê?- perguntou-me ele confuso.
  -Porque podem ouvir-te.- respondi divertida. Esperei que ele entendesse a piada e quando o fez soltou uma gargalhada e depois outra e mais outra, enquanto dirigia o seu olhar a mim. Fiz o mesmo, ligeiramente corada. Por momentos senti que tinha novamente 8 anos e que alguém me tinha contado a piada mais engraçada de sempre.
Após algum tempo em silêncio, William puxou um novo tópico de conversa:
  -E então, tens novidades de R.L.?
  -Não tem acontecido grande coisa. Depois daquele incidente no meu aniversário R.L. não provocou mais estragos, ainda. Quer dizer, ontem ele/ela mandou-me uma mensagem um smile a piscar o olho. Não entendi o que aquilo significou mas também não dei muita importância.- contei-lhe.- Ele/ela parece ter um mecanismo que causa um grande dano e a seguir fica quieto/a à espera de uma reação.
  -Ele ou ela ou o que seja é doentio... completamente louco. Pensava que este tipo de coisas só acontecia nos livros.- disse William.
  -R.L. pode ser louco/a mas as minhas amigas são ainda mais. A Sarah acha que devemos provocar um confronto.
  -Um confronto?!- exclamou ele com o mesmo tom de incredulidade que nós usámos quando Sarah nos contou a ideia.
  -Não esse tipo de confronto. Ela explicou-nos que a ideia dela é atraí-lo/a até nós para lhe tirar informação. Não podemos estar sempre à espera de que seja ele/ela a dar um passo.
  -É arriscado, porém pode resultar.- admitiu William.
  -Acho que já está mais do que na altura de corrermos alguns riscos.- confessei, encarando apenas o oceano.
——
  Corria uma brisa fresca. A luz do alpendre era a única fonte de iluminação. William e eu conversávamos à porta de minha casa. Estávamos já na fase das despedidas.
  -Obrigada por tudo! Foi um dia inesquecível! Não tenho palavras para descrever o quão bom foi!
  -Não tens nada que agradecer. Espero que tenho sido o primeiro de muitos!- respondeu ele.- Bom, acho que vou andando. Vemo-nos amanhã na escola!
  Disse isto e abraçou-me. Quando nos separámos virou-me as costas, encaminhando-se para o portão.  Fui mais rápida e puxei-o pelo braço.
  -William, espera! Eu preciso de te perguntar uma coisa. Algo que tem andado na minha cabeça o dia todo e teima em não sair.
  -Claro, diz-me.- declarou e reaproximou-se.
  -O que é que nós somos?- inquiri sem rodeios.
  Ele hesitou antes de responder.
  -Muito sinceramente, não sei. Só sei que és especial para mim e eu não quero perder aquilo que temos, sim?
  "Se eu estiver a sonhar por favor não me acordem" teria pensado o meu eu de há 1 ano atrás. No entanto, o meu eu atual encarou aquela resposta com uma maior naturalidade. A nossa relação tinha dado uma volta de 180° nos últimos meses. Murmurei um "sim". Ele foi embora e eu voltei para casa. Viviam um bom momento como há muito tempo não vivia. Um ótimo momento, sem dúvida.

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*Quando comecei a escrever este livro não fiz pesquisa alguma sobre o sistema escolar americano e "inventei" o meu próprio sistema escolar. No entanto, recentemente fiz essa tal pesquisa e reparei que tinha um erro gigante na história, porque sendo a escola da história uma escola estatal não faria sentido nenhum ter o sistema escolar "inventado" mas sim o verdadeiro. Originalmente as personagens principais estão no 2° ano da Middle School porém segundo a sua idade o ano correspondente é o 3° (mais corretamente 8th grade). Por isso, eles estão no último ano da Middle School, sendo assim, o 3° ano do grupo das raparigas naquela escola. Peço, desde já, desculpa por este erro que se deveu realmente à falta de pesquisa antes de começar a escrever (o que nunca mais irá acontecer).

Agora sim...
  Oláaaaa Queridos Leitores,
  Espero que estejam a ter um verão (ou inverno, depende de onde estiverem a ler) fantástico!! Espero que tenham gostado de mais este capítulo! Eu sei que não foi muito rico em mistério mas acreditem que isso não vai faltar nos próximos! Adorei imenso escrever este capítulo (apesar de ter demorado imenso tempo, eu sei),  a Mackenzie e o William são duas das minhas crias preferidas e poder fazer um capítulo a explorar mais a relação deles foi ótimo para mim!!
Obrigada por continuarem a ler e a apoiar a "Dear Diary"!! Significa o mundo para mim!! Estamos quase quase a entrar na reta final da história por isso muitas surpresas estão a caminho!
Como sempre vejo-vos na próxima!
iTwelve

Dear DiaryOnde histórias criam vida. Descubra agora