Capítulo 21- American Dream

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  Começava a tornar-se rotina, eu parada à porta dele à espera que alguém abrisse. E quando isso aconteceu, uma senhora de idade, com uns grandes e brilhantes olhos cor de safira estava do lado de dentro da casa. Nunca a tinha visto.
  -Olá... é amiiga de Villiam? Noah?- percebi imediatamente pela forma de falar que não era americana.
  -William!- informei e logo após ter dito isto, este surgiu ao fundo das escadas.
  -Mackenzie, olá! Entra!- saudou William, acabou de descer as escadas e dirigiu-se à senhora que me recebeu. Disse-lhe algo numa língua super esquisita da qual eu entendia absolutamente nada.- Esta é a minha tia-avó, ela é da Suécia e não fala muito bem inglês.
  -Encantada!- cumprimentei-a, estendendo a mão. Ela apertou-a e sorriu-me.
  -Igualmente menína!- respondeu ela numa voz doce.
  -Vamos!- disse William. Segui-o escadas acima e entrámos no seu quarto.- Podes pousar as tuas coisas em cima da cama. Põe-te à vontade, como se estivesses em casa. Eu vou lá abaixo buscar uma coisa, já volto.
Larguei a mochila em cima de uma cadeira e retirei de lá o material de estudo. Olhei para a janela ao fundo da divisão. Reparei que na pequena varanda se encontravam duas poltronas e uma mesinha. Fui até lá e aí deixei os meus pertences. Voltei para o interior do quarto e fiquei a observá-lo. A mobília de cores escuras contrastava com o branco das paredes, nas quais estavam colados vários pósteres de jogadores de basket, fotos e símbolos dos LA Lakers e, um pouco espalhadas por toda a divisão, imensas fotografias, de paisagens, sozinho, com a família, com os amigos. Umas penduradas na parede, outras emolduradas e pousadas onde havia lugar. Mas estavam, literalmente, por todo o lado. Já havia estado naquele quarto mas nunca havia reparado na quantidade real de fotografias que nele existiam.
  Num dos cantos do quarto encontrava-se uma estante com várias divisões. Nesse mesmo móvel estavam arrumados vários livros, troféus, medalhas e (como seria de esperar) fotografias. Aproximei-me para ver melhor. Reparei num grande troféu e, ao lado deste, uma moldura. Podia ser mais outra fotografia de família, ou outra qualquer, mas não era. Com a sweatshirt grená da escola e o equipamento desportivo estávamos eu e ele. Não olhávamos para a câmara mas dois largos sorrisos estavam estampados nos nossos lábios, e era isso que a tornava uma foto muito bonita.
  -Voltei! Desculpa ter-te feito esperar tanto tempo mas a minha mãe estava a tirar o bolo do forno e...- William entrou na divisão. Carregava um tabuleiro com dois copos de sumo e várias fatias de bolo num prato. Pô-lo em cima da mesinha da varanda e veio ter comigo.- O que é isso?
  Mostrei-lhe a moldura que, sem me aperceber, retirei da estante.
-Essa foto... foi no dia da Escola Aberta. O meu irmão foi "contratado" como um dos fotógrafos e apanhou esta, mesmo no momento certo. Já agora, desculpa pela quantidade de fotografias que estão por aqui. O Noah já encheu o quarto dele e agora decidiu invadir o meu... ele é completamente louco por fotografia.
  Voltei a colocar a moldura no seu lugar. Continuava surpreendida pelo facto de ele ter uma foto nossa no seu quarto (apesar de ter fotos de quase tudo). William e eu fomos lá para fora e sentámo-nos nas cadeiras.
  -Deves ter ficado um bocado confusa, com a história da minha tia. Não cheguei a explicar bem. Um segundo...- levantou-se repentinamente, entrou na divisão e quando voltou trazia uma caixa com ar antigo. Abriu-a e tirou de lá, imagine-se, uma fotografia a preto e branco um pouco danificada pelo tempo. Nela podia ver-se um jovem de cabelo e olhos  claro, que devia ter cerca de 16 ou 17 anos, a sorrir para a câmara e atrás deste o que parecia ser um pequeno porto com embarcações de pequena dimensão.- Este é o meu avô, Vincent Åberg, aos 17 anos na sua cidade natal, Trosa. Trosa é uma pequena cidade costeira a cerca de 1 hora de distância de Estocolmo, a capital da Suécia. Segundo o meu avô, naquele tempo as pessoas dedicavam-se principalmente à pesca, ao comércio e quando ele era pequeno o turismo aumentou bastante. Os pais dele, como muitas famílias da cidade, tinham uma pequena pensão onde recebiam turistas. No início a maioria eram suecos que iam a Trosa passar férias ou fim-de-semanas, mas com o passar do tempo, a cidade foi também descoberta pelos estrangeiros e, claro, incluídos nestes estavam os americanos. O meu avô estudava, e escrevia e falava fluentemente em inglês, em parte devido à escola, outra parte devido aos turistas e uma última parte devido à sua grande paixão (a seguir à sua amada esposa): o cinema.
  Parou de falar, pegou no copo de sumo e deu um gole, calmamente, no mesmo. Em seguida, remexeu novamente na caixa e retirou um par de fotografias que colocou sobre as seu colo sem antes mas mostrar. Prosseguiu com a história:
  -No verão de 1973, um americano, à semelhança de vários outros, ficou hospedado na pensão dos meus bisavós. O nome dele era Hugh Johnson.- passou-me a foto para a mão. Nesta estava um homem que aparentava estar na casa dos 40. Usava uma camisa às riscas e umas jeans largas. Reparei que o plano de fundo era o mesmo do da foto do avô de William, por isso, constatei que devem ter sido tiradas no mesmo dia.-Hugh era um empresário no ramo do cinema, em Hollywood. E esse facto mudou completamente o destino do meu avô. Durante a sua estadia em Trosa, além de lhe mostrar a cidade e fazer as atividades que eram habituais fazerem com os turistas, o meu avô e Hugh discutiam muito sobre cinema, sobre os filmes, os atores, os Óscares. Até hoje ele fica horas a falar sobre os Óscares connosco. Mas voltando à história. O meu avô é fascinado por cinema desde os seus 12/13 anos quando fizeram a primeira projeção em Trosa. Já antes disso ele apreciava bastante o teatro e até participava nos projetos da escola. No entanto, com o cinema foi algo completamente diferente e ele tentou aprender o máximo que conseguia. E com a chegada de Hugh esse fascínio só aumentou mais. Hugh viu nele um grande talento e potencial mas, principalmente, um jovem com uma enorme determinação em alcançar os seus sonhos. Então, Hugh fez-lhe uma proposta: mudar-se para Los Angeles para se tornar ator.
O meu queixo caiu ligeiramente devido à surpresa. Eu previa que alguém teria de vir para os Estados Unidos, só não estava à espera que fosse daquela forma.
-E o que é que o teu avô disse? O que é que ele fez?- perguntei deixando-me levar pela curiosidade.
  -Ao início ele ficou pasmado. Depois, ficou também um pouco assustado, porque a América era sinónimo de desconhecido e ele sabia que era um mundo completamente novo e que existiam muitas pessoas talentosas a lutar pelo mesmo sonho que ele. Ele sabia também que, apesar de ter o apoio de Hugh, podia ser um enorme fracasso e ter de voltar para a Suécia com uma mão atrás da outra.- explicou William.- Quando Hugh e o meu avô falaram sobre a proposta com os meus bisavós, eles não quiseram aceitar. Afinal, tinham investido na educação do filho com o objetivo de ele ir para Estocolmo estudar para ser médico ou advogado e, no final de contas, ele queria era ser ator e ainda para mais nos Estados Unidos, que ficam a milhares de quilómetros. Pior que isso tudo, eles achavam que Hugh estava a ser uma péssima influência e que só estava a pôr-lhe ideias fantasiosas na cabeça. Na verdade, eles reconheciam talento no filho e não se importavam que ele demostrasse interesse pelo cinema mas, apenas como hobby. Hugh não desistiu facilmente e fez de tudo para convencer o senhor e a senhora Åberg. Ele prometeu que acolheria e trataria Vincent tal como se fosse da sua família e além disso ajudaria-o no máximo que pudesse em relação à sua carreira.
  Parou novamente a história. Deu, novamente, um gole no sumo e continuou.
  -Então, no dia 17 de outubro 1973, no dia do seu 18° aniversário, o jovem Vincent Åberg embarcou na viagem que mudaria a sua vida por completo. Os seus pais levaram-no, a ele e a Hugh, de carro até Estocolmo. E daí apanharam o avião que os levaria para Nova Iorque. Aí ficaram durante 2 dias e depois partiram para Chicago onde começaram a sua jornada de 7 dias pela Route 66 que só terminou aqui, em Los Angeles.
  William passou-me para a mão uma fotografia onde estavam o avô dele e o tal Hugh a sorrirem, com o Grand Canyon ao fundo.
-Hugh não tinha filhos e por isso o meu avô ficou confortavelmente instalado na sua casa. Ao início ele inscreveu o meu avô em diversos cursos de representação e ligados ao cinema para ele ter alguma formação. Passado algum tempo foram a castings para filmes na sua maioria independentes e de menor orçamento para o meu avô ganhar alguma experiência. Apesar de Hugh ser empresário no ramo ele não poderia tentar lançá-lo para as luzes da ribalta imediatamente. Tinha de amadurecer, como o vinho. No entanto, as coisas não estavam a correr bem. O meu avô não estava a conseguir muitos papéis e os que conseguia eram, na maior parte das vezes, para personagens pouco relevantes. Além disso, nessa mesma altura, ele recebera um telefonema da sua namorada (que estava em Trosa) em que esta dizia que os pais lhe estavam a tentar arranjar um casamento sem o consentimento dela. O meu avô ficou fulo. Falou com Hugh e ambos concordaram em trazer Sophie para os Estados Unidos. Como fariam isso? Bem, foi simples e podemos dizer... rápido. Enviaram-lhe num envelope dinheiro e uma passagem aérea de Estocolmo para Nova Iorque. E um mês antes do seu casamento arranjado, Sophie apanhou o comboio até Estocolmo, fugindo de uma vida que não era a que ela escolhera. Em Nova Iorque tinha à sua espera Vincent e Hugh. Em seguida apanharam todos um avião que os levou de volta a Los Angeles. Sophie foi viver com ambos mas não queria estar dependente financeiramente deles por isso decidiu começar o seu próprio negócio de venda de pratos e doces suecos caseiros. Foi um verdadeiro sucesso pois não havia concorrência naquela área. E a comida dela é mesmo boa na verdade.
-Isso foi ótimo para ela! Mas como é que ficou a situação com os pais dela e com o suposto futuro-marido?- perguntei curiosa por mais detalhes da história.
-Ao início ficaram bastante sentidos porque ela apenas lhes deixou uma carta a explicar tudo porque sabia que se lhes pedisse eles nunca a deixariam ir. Além disso tinham feito um acordo com a família do tal jovem e, para os compensar por não ter havido casamento, tiveram de lhes dar... hum... dinheiro. No final acabou tudo em bem e, hoje em dia, Vincent e Sophie têm 2 filhos e quase 7 netos (os meus tios estão à espera de um bebé). No entanto, quando vão a Trosa e se cruzam com o senhor que era suposto ser marido da minha avó ainda há um certo atrito. Há muita gente lá que gosta muito do meu avô e da nossa família, mas também há pessoas, especialmente da geração dele, que o criticam e que dizem que ele se "vendeu aos americanos". Invejosa é o que aquela gente é.
Parou novamente. Finalizou o sumo.
-Mas continuando... a carreira do meu avô enquanto ator não estava a dar muito certo, então Hugh teve uma ideia e, aproveitando o espírito criativo e visionário do jovem Vincent, aconselhou-o a investir na área do argumento e produção dos filmes. E foi o que ele fez. Escreveu o seu primeiro argumento, totalmente em inglês, e conseguiu com uma pequena ajuda de Hugh que ele fosse transformado em filme, o qual ele ajudou a produzir. Daí para a frente foi só crescer. Pelo meio fez um documentário sobre a sua querida terra natal. E sabes qual foi o nome que ele deu a esse documentário?- perguntou-me. Acenei negativamente com a cabeça.- Sophie. A minha avó aparece em imensas cenas e a minha mãe e o meu tio em algumas. Mas o ponto mais alto da carreira dele não foi este. Conheces o Titanic? O filme, claro que conheces!
-Sim claro. É um clássico.- disse. Ele passou-me outra fotografia para a mão.
  -É a minha mãe. Tinha 20 anos. Acho que conheces quem está ao lado.- a mãe de William sorria ao lado de um jovem Leonardo DiCaprio. Na margem branca da foto podia ler-se "To the lovely Maja... from Leo".
-Eu e o meu irmão gozamos imenso com ela porque ela parece uma autêntica fangirl a posar com o seu ídolo. E ele é só dois anos mais velho que ela. O meu pai também não gosta muito desta foto, nós estamos sempre a dizer que na verdade somos filhos do Leonardo DiCaprio e ele é só fachada. Na verdade isso seria impossível, o Noah é a cara do meu pai.
-E a Sophie sai à tua mãe. E tu... és uma espécie de mistura dos dois. O teu cabelo é mais claro do que o do teu pai mas também não é loiro como o da tua mãe. E os teus olhos não são castanhos como os do teu pai. São mais esverdeados mas têm algumas nuances de castanho.
  -Eu sei... as pessoas costumam dizer que eu sou muito parecido com o meu avô. Não em termos físicos ou coisa que se pareça. Mas, quando eu vou a Trosa e as pessoas perguntam o que eu quero fazer no futuro, e eu digo que quero ser jogador profissional de basket, elas lembram-se imediatamente do meu avô. O seu sonho louco de ser ator e, que no final, não da forma exata que ele esperava, conseguiu concretizar. Isso inspira-me tanto!
Já tinha perdido a conta à quantidade de vezes que William havia remexido na caixa de madeira. Ele fê-lo novamente.
-Só para terminar a história... os meus avós homenagearam Hugh duas vezes. A primeira, escolhendo-o para ser padrinho da minha mãe. E a outra foi chamarem o seu segundo filho Hugh.- mostrou-me a fotografia que tinha tirado. Nela estavam três adultos, uma criança e um bebé.- Bem, aqui no meio estão os meus avós. Ao colo da minha avó está o meu tio Hugh e ao lado do meu avô está o próprio Hugh com a minha mãe nos seus ombros.
  -É uma foto adorável!- disse eu.
  -É mesmo! Calma, já volto.
  Dito isto, levantou-se, saiu da varanda e depois do quarto. Ouvi passos na escada. Não foi preciso esperar muito porque em menos de um fósforo ele estava novamente a sentar-se na cadeira à minha frente. Segurava uma moldura de maiores dimensões. Virou-a para mim.
  -Esta foto é de há cinco anos atrás. Nesta ponta estão os meus tios com os meus primos mais velhos, aqui no meio estão os meus avós Vincent e Sophie e depois Hugh, ao lado dele está a minha mãe, a seguir é o meu pai e em baixo estou eu e o Noah. Eu tinha 9 anos e o Noah 14. A Sophie nasceu no ano seguinte, e  Hugh morreu. É uma pena que não o tenhas conhecido, ele era... era tudo o que o meu avô diz sobre ele. Ele era das melhores pessoas à face da Terra. No entanto, podes conhecer o meu avô, e estás com sorte porque ele está lá em baixo. A seguir apresento-vos.- declarou ele. Observou-me por momentos. Estaria suja?- Mas queres saber a melhor? Tu fazes lembrar-me a minha avó.
  Fiz uma expressão confusa.
  -Ok, isto soava melhor na minha cabeça. Não é da forma que estás a pensar. Vocês as duas são mulheres lindas, muito diferentes e de realidades completamente opostas. Mas vocês têm uma força e alegria inesgotáveis, qualquer coisa que vocês se proponham a fazer vocês conseguem, e lutam tanto pelos vossos objetivos, de uma forma que os outros são inspirados por vocês. Ela começou com o pequeno negócio da comida sueca para fora e, com muito trabalho e esforço da parte dela conseguiu montar o seu próprio restaurante. Hoje em dia, são dois. Eu tenho a certeza, que tal como ela, qualquer coisa que tu desejes fazer, tu vais fazê-lo e vais ser a melhor. Eu... eu gosto tanto de ti e, meu Deus, eu tinha isto há tanto tempo entalado aqui dentro e nunca conseguia encontrar a maneira e o dizer sem parecer esquisito.
  Sem me aperceber já estávamos a uma distância mínima. Os meus olhos estavam fixos nos dele e dois grandes sorrisos estavam estampados nos nossos rostos. Uma madeixa do meu cabelo descaiu e ele imediatamente pô-la atrás da minha orelha. Senti por momentos que estava num filme, daqueles que o avô dele fazia, e que aquela seria a cena preferida dos espectadores.
  Estávamos na nossa pequena bolha, quando...
-MACKENZIE!- ouvi alguém gritar numa voz fininha. Afastei-me de William e no segundo seguinte um ser humano pequenino atirou-se para o meu colo.
-Sophie, querida!- a irmãzinha de William abraçou-me enquanto eu afagava os seus cabelos loiros que faziam pequenas ondas nas pontas.
-Sophie o que é que estás aqui a fazer? Não devias estar na sala com os avós e com a tia?- inquiriu o Hale do meio. A mais nova, no entanto, estava atenta e já tinha resposta pronta.
-Eu estava mas depois eles começaram todos a falar naquela língua estranha. Eu não percebia nada. Fui ter com a mamã à cozinha e ela disse que a Mackenzie estava cá. Subi as escadas e vim para aqui.
-Sophie, é sueco. E tu estás a aprender não te esqueças.- informou William.
  -Já? Mas ela só tem 4 anos.-perguntei ligeiramente espantada.
  -Eu sei. Eu e o Noah também começámos cedo. Os nosso pais ensinaram-nos inglês e sueco ao mesmo tempo, para não perdermos as raízes. Eu planeio fazer o mesmo com os meus filhos.
Sophie, que até ao momento tinha permanecido calada, chamou-me:
-Mackenzie posso contar-te um segredo?
-Claro.- fiquei intrigada. O que é que uma criança daquela idade iria querer segredar.
-Quando eu entrei, o mano ia dar-te um beijinho como o papá dá à mamã. Aqui?- perguntou num tom não muito alto mas audível o suficiente para William também conseguir escutar, e apontou para a sua boquinha. Eu e ele rimos.
-Sophie isso não são perguntas para meninas da tua idade!- repreendeu-a William.
  -Mas o Noah disse que eu podia! Eu já tenho estes.- afirmou a pequena Sophie e levantou quarto dedos da sua mãozinha.
  -Eu não sei Sophie. Eu gosto muito dele mas não sei se o suficiente para lhe dar um beijinho aqui.- disse eu e apontei para a minha própria boca. Ela olhava para mim com um ar sério. Para criança de 4 anos recém feitos, era muito inteligente e perspicaz.- Mas quem sabe, um dia quando formos grandes.
  Houve um pequeno silêncio, William estava notoriamente a conter o riso, mas entretanto a irmãzinha dele declarou de uma forma decidida.
-Eu quero que a Mackenzie seja a minha irmã! Depois podemos brincar às bonecas juntas. -Eu ri.
-Hey, como se eu já não fizesse isso!- exclamou William indignado.
-Tu não brincas bem!- ripostou Sophie sem rodeios. Como eu adorava aquela criança.
——
-Vocês ouviram a nova fofoca que anda aí?- perguntou Sarah sentando-se no banco.
-Não, mas agora quero saber!- respondeu Kathy prontamente.
-A Erica da turma C declarou-se ao William hoje.- disse Sarah de rompante. Três olhares recaíram sobre mim.
-O que foi? Eu sabia tanto como vocês.- afirmei. Aparentemente elas ficaram convencidas.
-Acho que não é preciso contar qual foi a resposta dele.... todas sabemos que o Hale está completamente caído aqui pela nossa amiga Mackenzie.- acrescentou Sarah num tom malicioso. Revirei os olhos.
-Nós somos só amigos ok? E mesmo que ele quisesse alguma coisa agora, não ia dar. Não ia mesmo, por causa desta história de R.L.... eu não o iria querer envolver mais do que já está.
As três voltaram a olhar-me mas desta vez com descrédito.
-Imagina a situação hipotética de que o rapaz de quem tu gostas há mais ou menos um ano vira-se para ti e diz que gosta de ti. Vais dizer que não?- questionou Summer.
-Eu... eu não sei bem. Mas...- refleti um pouco, sobre sábado e sobre o que estava prestes a dizer, mas elas são as minhas amigas, elas merecem saber.
-Mas...- encorajou Kathy.
-Eu e o William quase nos beijámos no sábado. A irmã dele meio que nos interrompeu.- contei de rompante. As bocas delas pareciam a da figura do famoso quadro "O Grito".
-A lata desta rapariga... diz que não sabe se queria alguma coisa com ele, no entanto quase anda aos beijos com ele. Muito sinceramente Mackenzie...
  Preparava-me para ripostar algo mas fui travada por uma figura que passava.
  -Olá!- cumprimentou Sean, o melhor amigo do William. O facto curioso é que este dirigia o seu olhar (e provavelmente a saudação) apenas a Summer. Olhei imediatamente para Kathy e a Sarah. Estávamos todas a pensar no mesmo.
  -Olá!- respondeu Summer de volta. Nós as três limitámo-nos a observar tudo.
  -Vejo-te mais logo?- perguntou ele. Ok aquilo estava a ficar cada vez melhor. O olhar malicioso de Kathy podia sentir-se à distância.
  -Sim, em princípio. Obrigada pela ajuda já agora!
   -Podes agradecer depois.- finalizou o rapaz e depois disso virou costas.
Seguiu-se um momento de silêncio e 3... 2... 1...
-Desculpa Mackenzie mas parece que a tua fofoca vai ter de passar para segundo plano porque.... O QUE É QUE ACABOU DE ACONTECER AQUI SUMMER PARKER?- Kathy (para variar) foi a primeira a abrir as hostilidades.
-Sim, o que é que a nossa amiga anda a fazer fora do horário de expediente com um dos rapazes mais giros do nosso ano?- perguntou Sarah com um ar manhoso.
-Não é nada do que vocês pensam pelo amor a Deus... Mackenzie ajuda-me, tu estás habituada a estas reações.- quase implorou Summer bastante atrapalhada.
Refleti por uns segundos e com o ar mais sério do mundo disse:
-Vá lá meninas... não vêem como a rapariga está...? Nós conseguimos ser tão mexeriqueiras até dá dó.
-Obrigada pela tua compreensão pelo menos Ma...- ia agradecer Summer. Porém...
-Mas isso não impede que contes às tuas amigas o que se passa entre ti e o pedaço de mau caminho do Olsen...- declarei e pisquei o olho a Kathy e Sarah. Kathy estendeu a mão para lhe dar um high five.
-Vocês são pessoas terríveis quando querem! Não se passa nada daquilo que vocês pensam entre mim e o Sean.- afirmou Summer. Fizemos sinal para que ela continuasse.- Ele está a ajudar-me com a minha música.
  -Explora melhor essa ideia...-disse Sarah.
  -Foi na quinta-feira passada, depois das aulas. Eu estava numa das salas de música a trabalhar numa das minhas novas canções. Segundo o que o Sean me disse, ele estava a passar e gostou da melodia e da voz também. Na verdade, ele ficou bastante surpreendido quando descobriu que era eu quem estava a tocar e cantar. Ele perguntou se era eu quem compunha e eu respondi que sim e que tinha mais canções. Ele pediu que tocasse algumas. Assim o fiz.- contou Summer. Fez uma breve pausa.- Ele disse que eu tinha potencial e que me podia ajudar. Eu perguntei-lhe "Como? Afinal não és mais um clichê que anda por aí armado em super-estrela do basket?"
  -Essa deve ter doído.- comentei.
  -Sim, ele ficou bastante ofendido e não perdeu tempo. Disse que "para minha informação" a irmã mais velha dele tinha estudado música e por isso "ele sempre esteve muito envolvido no meio" e que "conseguia sentir talento a milhas"
  -O que é que tu fizeste?- perguntou Sarah.
  -Ri da cara dele e depois aceitei a ajuda. Hoje vou ao estúdio onde a irmã dele trabalha gravar uma demo.... estou bastante ansiosa na verdade.
  -Oh meu Deus Summer parabéns!!- exclamei.
  -Sim, parabéns!! É um passo muito importante ti!- acrescentou Sarah.
  -Estamos todas muito felizes por ti Summer! Mas sabes como é que ainda ficávamos mais? Tu, Sean Olsen e um estúdio sim... imagino perfeitamente.- disse Kathy. Todas rimos (até Summer).
-Kathy a sério? Ainda mais ele agora namora com a Madison.
  -E...? Quando fores uma cantora e compositora de sucesso quero ver se ele vai estar assim tão interessado na Madison.- afirmou Kathy. Summer revirou os olhos.
-De qualquer das formas, gostava muito que vocês viessem comigo. Não precisam de fazer nada, só mesmo dar apoio moral.
-Claro que vamos Summer! Certo meninas?- perguntou Sarah. Tanto eu como Kathy acenámos afirmativamente com a cabeça.
-Ótimo! Então depois das aulas vamos todas para minha casa e depois para o estúdio.
-Ok! Preciso só de avisar os meus pais.- disse Sarah. Todas concordámos. Peguei no telemóvel para escrever uma mensagem para a minha mãe.
-Olá meninas!- saudou William, aproximando-se.
-Olá!-respondemos eu, Summer e Sarah.
-Olá pinga-amor! Então mais outra para a lista.- disse Kathy num tom trocista.
  -Oh coitada K!
  -Coitados são os mortos Sarah. Aqui o nosso amigo William est dans l'autre, e por isso não tem olhos para mais ninguém.- respondeu Kathy. Ele riu-se. Eu lembrei-me do teste de francês que iríamos ter a seguir.
-O! Teste!- exclamou Summer de repente.- Com a história toda da música esqueci-me completamente. Eu estou tão tramada!
-Bem-vinda à Terra!- brinquei eu.- Ainda dá tempo de rever a gramática. Toma os meus resumos.
Disse e tirei o caderno de estudos da mochila.
-Bem, só para terminar aquela conversa...- começou William.- Eu fiquei aliviado que a Erica tenha vindo falar comigo. Ela é boa pessoa e custa-me pensar que, mesmo sem querer, podia estar a criar-lhe expetativas de algo que nunca iria acontecer.
-Pobres das raparigas que andam a suspirar pelos cantos por ti... a sonharem com um amor impossível... Aposto que têm um boneco de vodu da Mackenzie.- respondeu Kathy sempre no seu tom irónico.
-Parece que até já te esqueceste... que até há pouco tempo eu era uma dessas raparigas.- corrigi eu timidamente.
-Mas já não és, nem poderias ser para sempre. Porque tu és diferente, tu és tão mais especial que elas e esta pessoa iria acabar por descobrir isso.- declarou Sarah num tom sincero e afetivo.- Além disso, tu és terrível a mentir.
  -Ela tirou-me as palavras da boca.-acrescentou William.- Mas na verdade o que eu vim aqui dizer-vos era...
  E nesse momento todos os nossos telemóveis apitaram. O meu e o do William múltiplas vezes mais do que os das restantes.
  -Pessoal... isto não parece ser bom. Nada bom na verdade.- disse Sarah com os olhos postos no ecrã.
Quando me apercebi do que se tratava olhei fixamente William nos olhos. Ambos tínhamos a mesma expressão e sabíamos perfeitamente o que se estava a passar. E tal como Sarah havia dito não era nada mesmo de bom.
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  Oláaaa Queridos Leitores e Feliz Páscoa (com muitos ovos e amêndoas de chocolate, de preferência!)!!
  Depois de uma pausa bastante prolongada estou de volta com um mega capítulo! Desculpem imenso a demora em postar mas aconteceram imensas coisas e este capítulo exigiu imensa pesquisa, por isso, o vosso apoio é fundamental para continuar motivada a trabalhar.
  A trama está cada vez mais intensa apesar de estarmos quase a chegar à reta final! O que será que tanto preocupa Mackenzie e William? E Summer e Sean trabalho, amizade ou algo mais *olhar malicioso da Kathy*?
  Espero que continuem a gostar da história, porque eu adoro escrevê-la!! E mais uma vez OBRIGADA por acompanhá-la e espero que permaneçam desse lado porque ainda há imenso por vir!
Não se esqueçam de deixar um like e comentar caso gostem!
Como sempre vejo-vos na próxima
iTwelve

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