As àrvores abanavam docemente. As folhas eram varridas no chão para diferentes direções. A brisa suave que pairava no ar refrescava o ambiente quente e seco. As flores abriam-se quando os primeiros raios de sol atingiam a terra e fechavam com o pôr do sol como pequenos botões de diferentes cores e texturas. A água caía no regato rapidamente, salpicando as pedras alojadas à sua volta. Os passarinhos faziam-se ouvir nos telhados e nos parapeitos das janelas. As mulheres passavam na rua com cestos cheios de roupa prontos a serem lavados nos tanques cobertos de água e espuma. A terra era expessa e fértil, sendo fácil crescer legumes e vegetação. Eu, Jane vagueava por entre o bosque robusto, sozinha. Levava comigo um ramo de uma àrvore partido do chão. Marcava todo o caminho e todas as passagens para não me perder naquela imensidão. Brincava com as borboletas sorrindo-lhes e gesticulando com as mãos, apanhando-as e depois deixando-as voar. Os meus loiros cabelos corriam com o sopro do vento e as minhas narinas inspiravam os suaves cheiros do campo. Eu com os meus dezasseis anos adorava a natureza. Vivia em Desejo, este local tão acolhedor. Anos entregues a ar puro, isolamento profundo, amor verdadeiro. Eu venerava Desejo. Afastava as folhas e arbustos, escondendo-me atrás das àrvores após ouvir um barulho. Seria um lobo ou algum javali? Eu sabia que era possível aqueles animais existirem naquele local, mas embora fosse destemida, tinha um certo receio. Preparava-me para saltar em cima do animal apoiando-me no frágil e solto ramo. Saí de trás da àrvore saltando. A projeção do salto foi incrível.
- Ai! Calma, sou apenas um rapaz! – soou uma voz calma que me transmitia segurança.
- Quem és tu?
- Isso pergunto-te eu. Não devias andar aqui sozinha.
- Não me faças rir. Conheço este bosque tão bem como a palma da minha mão – afirmei seriamente.
- Não disse o contrário, mas eu não sou nenhum lobo ou javali para saltares com toda a tua força.
As minhas bochechas ficaram rosadas e a vergonha tomou conta de mim naquele momento. Estaria eu a exagerar? O rapaz era alto e os seus caracóis acastanhados davam-lhe um ar natural e subtil. O seu rosto era calmo e sereno e os seus traços era bem definidos. Acordei da paralísia de pensamentos quando senti alguém berrar aos meus ouvidos.
- Podias ser mais gentil – ordenei.
- Estou há horas a perguntar o teu nome – sorriu.
- Jane.
- Belo nome, condiz contigo! – o seu olhar percorreu-me de cima a baixo.
- Já paravas de olhar! – repreendi friamente.
- Gosto das difíceis – ele piscou-me olho com um sorriso de orelha a orelha.
- Não sei do que estás a falar – tentei disfarçar.
- Então vais-me dizer que não te perdeste, certo?
- Eu não me perdi – disse firme.
Ele olhou-me com um ar de riso que era abafado pela ventania que corria pelos ares.
- Está bem, eu estou perdida! – admiti.
- Vem, eu levo-te a casa! É perto da clareira?
Acenti com a cabeça e seguimos os dois até minha casa, silenciosamente todo o caminho. Eu perguntava-me porque o rapaz estava a ser simpático comigo. Eu perguntava-me pelo seu nome, pela sua idade, pela sua infância. A ansia de conhecer mais sobre ele estava a deixar-me louca. Eu sabia tanto quanto ele que agia friamente, pois tinha medo de ser magoada e usada. Afinal quem nunca se sentiu assim? Era apenas um rapaz, com boas intenções, tentava eu encaixar isso na minha mente.
- A tua casa é esta? – perguntou o rapaz com os seus olhos verdes cheios de curiosidade.
- Sim. Foi herdada pelo meu pai. Era dos meus tetra tetra tetra avós, mas levou umas boas remodelações.
- Muito bonita!
O rapaz aproximou-se e segurou a minha mão, transmitindo-me segurança. Os seus lábios foram de encontro à minha bochecha. Corei. As minhas faces estavam rosadas e um calor subia por mim acima. O rapaz desajeitadamente passava as mãos no cabelo, despenteando-se.
- Até mais ver – disse o rapaz.
Pela primeira vez naquele trajeto, sorri e abri o grande portão branco. Saltitei entre passos desajeitados enquanto o meu cabelo esvoaçava. Parei junto do jardim e cortei uma rosa cuidadosamente. Cheirei-a e depois de enxergar o seu perfume envolvente e delicioso coloquei-a no cabelo. A porta principal foi aberta. Os meus pés passearam por uma carpete preta e vermelha situada no hall de entrada. Esperava encontrar meus pais para jantar.
- Mãe? Pai? Estou em casa.
- Chegaste tarde. Quero-te em casa antes do pôr do sol, sabes que esse é o combinado, hoje é lua cheia – contestou o meu pai.
- Desculpe, perdi-me.
- Perdeste-te? Mas como te perdeste? Eu já te avisei que não quero que atravesses o muro que separa o bosque da floresta negra – disse o pai irritado.
- Perdi-me no tempo. Eu estive no bosque, apenas. Não tem com que se preocupar.
Jantamos entre bons modos e um silêncio constrangedor se fez como em todas as noites de Lua Cheia se fazia.
Mas afinal o que havia na floresta negra? Haveriam homens que se transformavam em lobisomens? Haveriam vampiros que sugavam todo o sangue de um ser humano sem piedade e até à última gota? Seria apenas tudo um mito? A minha curiosidade era aguçada, por um lado, mas, por outro, não queria desobedecer às ordens de meu pai. Simplesmente não podia. Não me era permitido.
Depois de ensaboar os pratos e passa-los pela água fria, subi para o quarto. Abri a porta enfeitada com pétalas de rosa. Peguei numa roupa interior e num pijama fresco e tomei um rápido banho. Após me refrescar, peguei na escova e sentei-me no tronco que tinha na minha varanda, a pentear os cabelos, como sempre fazia. Clarões de lua iluminavam o meu rosto dócil e meigo. O que esperaria deste Verão? Seria monótono ou cheio de aventuras? Eu costumava passear por entre os campos, fazia coroas de flores e apanhava borboletas que de seguida libertava. Dava de comer aos pássaros e observava as rãs que dormiam no charco. Sempre fui ligada à Natureza e ela era o meu lar. Era impossível sentir-me sozinha, mas bem que gostava de um companheiro para as minhas pequenas aventuras e descobertas. Fechei as portadas e corri as cortinas e em seguida caí na cama. Puxei os lençóis e aconcheguei-me na almofada. Caí no sono com um sorriso no rosto. Tinha a certeza que algo bom viria.
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« O lado obscuro da Lua »
FantasyJane é uma rapariga normal que sempre viveu em Desejo. Conheceu Harry num dos seus passeios pelo bosque e apaixonaram-se. O que ambos não sabiam é que corriam perigo. Ela como doppelganger, ele como lobisomem e, mais tarde, transformado em vampiro...