Parte 11

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Parte 11

***

Harry passara as suas últimas noites na floresta negra. O seu instinto indicava que ele estivesse ali. Ele conseguia ouvir e ver coisas a milhas de distância. Ele ouvia o batimento cardíaco de um alce que estava escondido, ele focava a sua atenção numa ave e conseguia ver as experiências que ele viveu. Conseguia vê-la voar e à procura de alimento. Eram novas habilidades para ele, mas que não conseguia perceber o porquê de as ter. A verdade é que ele era um lobisomem. Todas as mudanças físicas de que falei se encaixam na pefeição. E hoje, era lua cheia.

- Eu sei o que tu és – soou uma voz.

- Quem está aí? – rugiu.

- Sou a Caroline, alguém como tu.

- Como eu...? – levantou uma sobrancelha.

- Tenho-te observado à alguns dias, és um lobisomem tal como eu. Quer dizer, estás em transição para um – olhava-o com carinho – Eu posso contar-te tudo o que quiseres sobre isso.

Harry olhava-a lentamente tentando perceber o seu ponto de vista. Os seus cabelos eram ruivos e os seus olhos claros, era uma figura atraente, sem dúvida.

- Isto é algo que nasce connosco. Não podes mudar o teu destino, desde que nasces todo ele te é traçado. Sei que parece confuso tudo isto, mas com o tempo vais perceber que o mundo não é tão seguro como parece – inspirou um pouco de ar.

- Eu já não sou humano, pois não? Também bebo sangue como os vampiros?

- Estás mais avançado do que eu pensava – passou a mão no seu cabelo ruivo – Nós continuamos a ser humanos, mas com características sobrenaturais. Os vampiros já não são humanos, apesar de terem o aspeto de um. Nós podemos procriar, eles não. Eles são nossos inimigos naturais, somos uma espécie que luta contra eles, que protege a humanidade. Nós somos os bons – sorriu de leve.

- Como é possível um monstro como nós ser bom?

- O aspeto físico não interessa. Aliás, nós só nos transformamos assim uma vez por mês durante a Lua cheia, excepto as mulheres, como eu, que se transformam duas.

Harry olhou-a com pena.

- Dói?

- O que dói?

- A transformação.

- Não te vou mentir, são dores horríveis, mas com o tempo habituaste. Nos primeiros tempos, vais ter de ser algemado contra fortes correntes para não saires por aí a matar toda a gente. Os humanos têm de continuar sem saber da nossa existência ou caçadores virão atrás de nós.

- Caçadores?

- Sim. Nós não podemos ser mortos com simples balas ou simples facadas. Apenas uma bala de prata ou uma faca de prata espetada no nosso coração é capaz de nos matar. Os vampiros só podem ser mortos por algo igual, mas nós com as nossas presas, podemos rasgá-los a meio e depois queimá-los.

- Isso é ser bom? – perguntou confuso.

- Eles são uma espécie inimiga. Eles matam pessoas. Daqui a poucas horas começará a tua primeira transformação, vais querer ou não a minha ajuda?

***

Ariadne correu para mim assustada. Trouxe com ela nuvens de chuva e um vento feroz que correu todas as folhas do chão.

- Vamos para dentro, o tempo está horrível – tentei puxá-la.

- Tu não entendes, isto sou eu – disse ela.

- Eu conheço essa expressão, pensas que és tão azarada que o mau tempo vem contigo. Vá, vamos para dentro, está frio.

- Espera, não estás a entender. Fui eu que fiz isto – arregalou os olhos.

 - Mas... – fiquei pensando em todos os diários de antepassados que li  – tu és uma bruxa? – disse em estado de choque.

Ela acenou e pequenas lágrimas começaram a caír. O céu ficou azul de novo, as nuvens desapareceram, as folhas pararam de rodopiar. Abraçei-a, tentando consolá-la. Afinal, tudo aquilo não eram simples histórias de terror.

- A minha avó tem vindo a preparar-me para isto. Ela diz que eu tenho um poder especial, consigo ver as auras das pessoas e através da sua cor, perceber o seu estado de espírito.

- De que cor é a minha aura? – olhei-a.

- Cinza. Estás triste, desanimada, em confusão mental.

Olhei-a de lado e pude perceber que tudo o que ela dizia era verdade. Eu tinha diversos nós na minha cabeça que não conseguia soltar e isso estava a apavorar-me.

- Pertenço à linhagem familiar das «Horan». Uma família de bruxas muito conceituada. A minha avó diz que eu sou uma reencarnação de Queleut, Mona Queleut.

- Quem é Mona Queleut? – perguntei já sentada no sofá de minha casa.

- Uma das bruxas mais poderosas do mundo. A minha avó diz que os seus poderes encarnaram em mim e eu tenho em minhas mãos uma força incontrolável, mas também um poder forte muito obscuro.

Ariadne vasculhou a sua mala e tirou de lá um livro.

- Este livro está cheio de feitiços que eu tenho vindo a praticar. Não são nada demais, aqueles básicos e eu vou ser obrigada a seguir este caminho.

- Não te podem obrigar a nada – protestei.

- O mundo está nas minhas mãos, Jane.

***

A Lua era visivelmente cheia no céu negro. Harry e Caroline estavam numa cave de uma casa funda e velha. As correntes em que Caroline amarrou o corpo suado de Harry eram muito resistentes, suportando cerca de mais de 50xs o seu peso. Caroline ficou dando indicações de como ele se havia de comportar.

- Quando as dores começarem a surgir agarras nesta mordaça e mordes com toda a tua força. Tenta respirar fundo várias vezes e pensa em algo ou alguém que te faz feliz, desvia o teu pensamento de qualquer raiva existente.

- Tu não te vais transformar? – perguntou Harry olhando-a nos seus olhos claros.

- Vou, mas eu já estou habituada. Hoje, vou tomar conta de ti. Estou na cela em frente – disse correndo para ela e fechando-se.

Harry contorceu-se com as primeiras dores. Ele sentia os seus ossos a partirem-se e a serem moídos por uma força sobrenatural incontrável. Os seus gritos eram fortes e viravam uivos em pequenos instantes. Ele fazia força e mordia a mordaça com avidez. Queria rebentar as correntes, mas elas eram muito fortes. A sua respiração falhava, apesar das tentativas de uma respiração lenta e pausada. A sua mente vagueou por sítios distantes. O seu pensamento elevava Naomi. Os seus cabelos loiros e levemente encaracolados, os seus olhos esverdeados e inocentes e o seu sorriso sincero e afável. Ambos nadavam na água fresca da cachoeira e roubavam beijos um do outro. De repente, tudo ficou preto e uma raiva se apoderou dele. Ele tinha uma sensação de matar não antes conhecida, queria dilacerar a garganta de seu pai e de pai de Naomi por a ter levado com ele. Sentia-se mais forte que nunca e queria matar o criador de tudo aquilo por o fazer sofrer daquela maneira. Ele precisava de Naomi, mas agora também precisava de Caroline e isso fazia com que ele se odiasse também. Os seus olhos verdes constratavam com o amarelo raiado que agora era visível e os seus musculos tinham crescido de tamanho a cada dia. Ele caiu fraco no chão, após horas de sofrimento. Estava nu, pois tinha rasgado todas as suas roupas. Caroline caíndo vulnerável também no chão da cela da frente, vestiu roupas novas que tinha guardadas e correu até Harry acalmando-o e cobrindo-o.

- Está tudo bem, já passou – ela abraçou-o – já não sentes mais frio, o teu corpo de agora em diante é quente – vai correr tudo bem – ela olhou no profundo dos seus olhos.

***

 Obrigada pelas leituras e pelos vostos. Vocês são um máximo.

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