Parte 4

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Parte 4

Era o segundo mês do verão. Apesar disso, chuvas de verão afetavam o clima tornando-o tenso e aborrecido. Eu olhava pela janela observando cada gota de água caír. A chuva deprimia-me e eu rotulava-a de palavras cheias de tristeza que me deixavam melancólica e pensativa.

Saí do quarto e desci a enorme escadaria. Os meus pais estavam na cozinha, conversando, com ar de preocupados.

- O que se passou? – perguntei inocentemente.

- Nada querida. Vamos ter de ir à cidade, mas não te preocupes, chegaremos antes da hora de deitar – disse minha mãe afagando os meus cabelos.

- Promete-me que não sais de casa – falou meu pai autoritário.

- Prometo – disse cruzando os dedos por de trás das minhas costas.

Eu nunca tinha desobedecido uma ordem dos meus pais, mas talvez estivesse na hora de o fazer, de me tornar um pouco rebelde. A minha curiosidade sobre o que aquela casa tinha de tão especial era imensa. Havia uma razão para a casa passar de geração e geração e apenas levar leves remodulações para não caír aos bocados de velha.

- Os pais foram à cidade, logo é uma oportunidade ótima para descobrir mais sobre esta casa – sorri.

Subi a escadaria até ao primeiro piso onde se situava o quarto dos meus pais. Abri a porta devagar como se estivesse a assaltar uma casa. Olhei ao meu redor e vi-a coisas normais: uma cama, um armário, uma enorme varanda, uma cómoda, tapetes. O quarto dos meus pais parecia ser um quarto normal para um casal daquela idade.

Lembrei-me então, dos livros de ação que costumava ler. As coisas estavam sempre escondidas em locais seguros, impossíveis de se notar. Abri o armário a muito custo e passei a cabeça entre todas as peças de roupa penduradas nas cruzetas. Avistei uma caixa e tirei-a para fora. Abri a caixa e vi certidões de nascimento escritas. Vasculhava entre os estranhos nomes. As certidões estavam velhas, mas preservadas. Isobel Petrova, Tatia Petrova, Jane Petrova. Parecia a espécie de uma linhagem familiar, engraçado era que a última certidão era minha, pois a filiação coincidia: Filha de Evelyn Rose Petrova e Matt Brooke Bomer.. Dentro daquela caixa estava uma chave. Não sabia que porta ou armário abria, mas estava determinada a descobrir, uma vez que já tinha quebrado as regras.

Guardei as certidões de nascimento comigo e coloquei a caixa de volta no fundo do armário, fechando e saíndo do quarto sorrateiramente, deixando tudo em ordem. Naquele piso, apenas tinha o quarto dos meus pais, um quarto de banho e uma porta castanha de madeira que raramente era aberta. Peguei na chave que tinha na mão e inseri na fechadura voltando-a. A maçaneta da porta abriu-se. A divisão tinha um cheiro característico a mofo que me fez espirrar quando entrei. A poeira era visível nas estantes cheias de livros e nas folhas pousadas em cima da secretária de madeira, recurso natural, proveniente da região. A cadeira era de pele de jacaré e quando a minha mão passou por lá, um arrepio no meu corpo se fez como uma descarga elétrica. As portadas entreabertas deixavam raios luminosos penetrar as paredes caiadas. Olhei as estantes espantada. Eu tinha uma biblioteca em casa e nunca me tinha apercebido e nunca ninguém me tinha falado disso. Diversos livros antigos estavam dispostos por temas e alfabeticamente. Temas de «ciências ocultas», «crimes», «biografias», «àrvores geneológicas», «romances» e «invenções». Demasiados temas, demasiados livros, demasiados emoções. Tirei um livro sobre «àrvores geneológicas». A capa dizia «Família Styles». Abri o livro e esfolheei-o. O ano era de 1345. Diversos homens e mulheres estavam presentes e as suas fotografias desfiguradas, antigas e sem brilho estavam coladas. Pergunto-me se naquele tempo haviam máquinas fotográficas. Certamente não porque a maioria eram retratos pintados. Descobri que a família Styles era uma das mais temidas pela região. Eram demasiado ambiciosos e ligados ao mal. Foram responsáveis por diversos crimes nos séculos 13 e 14 enforcando e queimando pessoas acusadas de praticar bruxaria, elaborar anéis ditos mágicos. Fechei o livro assustada. Poderia Harry pertencer a uma família tão maluca quanto aquela? Ou as gerações teriam mudado? Abri novamente o livro, nas últimas páginas que estavam em branco e esfolheei em sentido contrário. Vi que tinham sido acrescentadas pessoas à enorme àrvore geneológica. Anne e Jeremy Styles eram casados e os mais recentes membros da família. Eram pais de Harry Styles. Tantas perguntas, casos bizarros. Fechei o livro e coloquei-o de volta na estante. O meu olhar voltou a percorrer a sala e parou diante dos papéis que estavam em cima da secretária. Vasculhei-os e encontrei fotografias antigas. Umas eram da minha avó, Bonnie. Outras eram de caras ainda mais antigas, impossíveis de eu reconhecer. Fui revirando as fotografias e peguei em uma que me chamou a atenção. Eu parecia estar a ser refletida num espelho. A fotografia era minha. Mas, era impossível. Eu não usava aqueles vestidos compridos do tempo medieval, não tinha os cabelos tão compridos e cacheados como a rapariga da fotografia. Os meus olhos arregalaram-se quando observei outra fotografia de uma rapariga exatamente igual à anterior. Poderiam parecer gémeas e eu parecia uma gémea delas também. Isobel Petrova com cabelo cacheado em 1325. Tatia Petrova com cabelo extremamente liso em 1652. Seria possível elas serem sósias e eu ser uma sósia delas também? Os nossos rostos eram iguais, os nossos narizes eram extremamente arrebitados, os nossos lábios eram finos, os nossos olhos eram grandes e as pestanas longas. Não conseguia perceber a cor do cabelo ou de pele, mas pela textura parecia ser clara como a minha. Dirigi-me à estante das «àrvores geneológicas» e retirei o livro que tinha escrito na capa «Família Petrova». Esfolheei-o e pude observar minha mãe, Evelyn Rose Petrova casada com Matt Brooke Bomer tendo Jane Bomer Petrova. Porque eu sou exatamente igual a duas raparigas da mesma linhagem familiar que eu em anos completamente diferentes e distantes? Seria eu reencarnação delas? Haveriam reencarnações por toda a parte? Mas, se assim fosse, em todas as àrvores geneológicas que vi haveriam pessoas iguais a outras no passado e não só com ligeiras parcencas. Mas apenas a família «Petrova» tinha pessoas iguais porque «Styles» , «Malik» , «Cornutt» não tinham semelhanças tão reais. Algo não batia certo, mas não iria ser inocente e perguntar a meus pais, queria desenvencelhar-me sozinha, sem que ninguém soubesse, apenas eu e Harry, meu melhor amigo.

« O lado obscuro da Lua »Onde histórias criam vida. Descubra agora