Parte 6

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Parte 6

O sol iluminava o dia que nascia, mas era fraco. A luz não era poderosa o suficiente para atravessar todas as altissímas àrvores. Acordei tremendo de frio. Os meus olhos ardiam e as minhas pernas doíam. Virei-me e não avistei Harry. Levantei-me e baguncei os meus cabelos, penteando-os com os dedos. Ajustei a roupa ao meu corpo e procurei pelos meus sapatos.

- Bom dia dorminhoca! – saudou Harry.

- Que horas são?

- Não tenho propriamente um relógio, mas devem passar das 10h.

- Como sabes?

- Posição solar, boneca – piscou-me o olho.

Passamos o resto da manhã tentando desenvencelharmo-nos pelo meio da encruzilhada e encontrar alguns alimentos pelo caminho para tomarmos o pequeno almoço. O meu humor era afetado pela corrente abafada que soprava e pelo ar tenso da floresta negra.

- Como vou explicar aos meus pais tudo isto? – disse nervosa.

- Se quiseres, eu vou contigo.

- É simpático da tua parte, mas eu não posso chegar ao lado dos meus pais e dizer-lhes “mãe e pai: atravessai o muro que separa o bosque da floresta negra e acabei por passar lá o resto da noite com um rapaz”. Acho que me arrancavam a cabeça – ri da situação que imaginava agora na minha cabeça.

- O meu pai deve estar preocupado também. Ele tem tido umas conversas esquisitas de que alguém tem planos para mim. 

- Pelo menos não te mente. Eu pertenço às «Petrova» uma família cheia de segredos –– sussurrei.

Depois de longos minutos de gargalhadas, conversas e pés a caminho começamos a avistar uma luz mais brilhante vinda do céu. As àrvores não eram mais tão altas, o trinar das andorinhas fazia-se ouvir, a água ouvia-se caír freneticamente pela cascata abaixo. O sol penetrava os campos de milho, deixando-os doirados e a espigar. Desejo estava acordado. Rasguei um sorriso alegre. Desejo transmitia-me segurança, harmonia, liberdade. Harry sorriu de lado e depositou um grande beijo na minha bochecha. O meu corpo virou-se para ele e os meus abraços envolveram seu pescoço. Os seus lábios encaixavam perfeitamente nos meus como se fossem per(feitos) um para o outro. A sua mão balançava a minha cintura e um sorriso cúmplice entre o beijo fez-nos olhar diretamente nos olhos. A minha mão viajou até ao seu cabelo, penteando seus caracois suaves antes de os apertar entre os dedos. Harry continuava a pressionar o seu corpo no meu e acabamos por cair os dois na grama verde e levemente regada.

- Ahahahaha! – eu ria descontroladamente.

- Ahahahaha! – ele ria também.

As nossas gargalhadas formavam uma melodia formidável e os nossos sorrisos eram constantes. Eu suportava o peso do seu corpo por cima do meu e quando reparei que ele estava completamente por cima de mim, baixei o olhar envergonhada.

- Jane – disse.

O seu braço puxou o meu levemente ajudando-me a levantar. Os nossos olhos fixaram-se um no outro novamente. A sua mão agarrou a minha e juntos corremos para a famosa casa que estava sendo construída. A varanda continuava sem proteção.

- Jane Bomer Petrova – gritou para o horizonte de braços abertos.

- O que estás a fazer? – arregalei os olhos.

- Estou a mostrar ao mundo que és minha – sorriu – Queres ser minha namorada e fazeres-me feliz sempre? – disse gentilmente.

O meu lábio prendeu-se entre os meus dentes contendo as lágrimas. Acenei a cabeça e gritei:

- Sim.

- Não ouvi bem – colocou a mão no ouvido.

- Sim – gritei mais uma vez sorrindo.

- Continuo sem ouvir – gargalhou.

- Sim Sim Sim! Eu quero ser a tua namorada e fazer-te feliz sempre! – gritei mais uma vez.

- Ouviram? Ela é minha. Minha namorada! – gritou para o horizonte rindo.

Os nosso lábios juntaram-se de novo e as lágrimas escorriam pela minha face. Ele foi tudo o que eu sempre desejei desde criança.

Estava na hora de voltar. Estava a fazer-se tarde e o nosso estômago roncava. Como iríamos encarar nossos pais? Descemos o carreiro de terra que ficava perto da clareira. Dali,conseguia ver minha casa. A pedra polida e as portadas entreabertas. O jardim florido e subtil. Abri o portão e despedi-me de Harry. Ele apertou a minha mão em sinal de coragem. Atravessei o pátio e abri a porta principal. Tentei fazer o menor barulho possível, podia ser que nem tivessem dado pela minha falta. Vi meus pais desesperados na cozinha. Evelyn, minha mãe, correu para me abraçar chorando. Meu pai, apenas ficou olhando-me intacto e autoritário. Os seus olhares desciam sobre mim desapontados.

- Estavamos tão preocupados contigo. O que te aconteceu? Onde estiveste Jane? – perguntou minha mãe penteando os meus cabelos.

- Eu vi-te chegar com aquele rapaz – falou meu pai sério.

Engoli em seco.

- É meu amigo.

- Os Styles não são amigos. São inimigos naturais das.. – calou-se.

- Força! Diga! São inimigos naturais das Petrova – desafiei-o – é bom saber que tenho uma família cheia de segredos e uns pais que me escondem coisas.

- Esse rapaz já te anda a virar a cabeça. Vês porque eu não quero que ela ande por aí, Evelyn?

- Não sejas assim Matt, por favor – respondeu minha mãe.

- Onde passaste a noite?

- Isso não lhe interessa – mordi meu lábio.

- Eu sou teu pai – agarrou no meu pulso com força – Apareces-me nesse estado em casa sem dar explicações e esperas que eu te receba de braços abertos? – apertou novamente meu pulso.

- Está a magoar-me, pare! – mordi meu lábio com toda a força para suportar a dor.

- Vou formular novamente a pergunta: Onde passaste a noite?

- Passei a noite com Harry.

Meu pai largou o meu pulso empurrando-me cheio de fúria.

- Matt! Pare – repreendeu minha mãe.

- Passaste a noite com aquele traidor idiota? Eu não quero que sejas uma vadia. O que vão pensar os outros do alto nível social?

- O problema é esse. Você só pensa no alto nível social. Não se importa de ser hipócrito com as pessoas porque a única coisa que quer é dinheiro.

Meu pai, perdendo o controlo, deu-me uma bofetada. As lágrimas caiam pela minha face e a minha mão pressionava o vermelho marcante. O sorriso sincero de felicidade que eu fazia à minutos atrás transformava-se agora em terríveis lágrimas que eu lutava para não caírem.

- Estás de castigo! Não sais mais desta casa até voltarmos para a cidade.

- Eu odeio-o!

Subi a escadaria correndo. Entrei no meu quarto e deslizei pela porta conforme as lágrimas deslizavam pela minha cara abaixo. Tinha sido humilhada. Olhei no espelho. Meus cabelos bagunçados, meus olhos inchados, meu rimel borratado, minhas roupas esfarrapadas. Despi-me e entrei na banheira, acabando por me refrescar. Depois de pentear os meus cabelos e de vestir o meu pijama deitei-me. As lágrimas cessaram, mas a fúria era enorme. Escrevi no meu diário como todas as noites. Estava feliz por ter encontrado alguém que gostasse de mim, mas triste porque tinha sido proibída de o ver e de contactar com a Natureza. Meus pais sabiam que esse era o meu pior castigo, mas eu pretendia continuar a quebrar as regras.

 deixo-vos aqui o meu ask http://ask.fm/AndreiaSilva589 para que possam fazer perguntas e assim.. quero mais leitores :o

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