Ficávamos quase todos os dias juntos. Minhas amigas começaram a se incomodar. Sentiam minha falta, diziam que eu sumi. Mas pra mim eu tinha me achado mais do que em qualquer outro tempo.
Não que eu tivesse me desfazendo das outras pessoas, mas quando estávamos juntos ninguém entendi nossos assuntos, nosso jeito de falar, nossas brincadeiras, isso incomodava as pessoas.
Meus pais amavam nossa amizade, super apoiavam nossa convivência. Mas infelizmente isso não durou muito tempo.Meu pai achou mais apropriado que eu me concentradas nos estudos, ele achava que o Antoni fosse me atrapalhar de alguma forma, pensava que ele poderia se tornar uma ameaça a minha segurança. Com tempos tão difíceis e pessoas de cor sendo mortas e levadas a força pros campos de exterminio, fora tantas ameaças de guerra, ele decidiu que o melhor para mim era estudar no exterior. Ele usaria todo dinheiro que tínhamos guardado pra financiar meus estudos fora do país, já havia enviado minha irmã para America. Mas eu nao queria ir, eu estava feliz estudando na melhor universidade de Varsóvia. Eu tinha lutado muito por aquela bolsa e não queria perder. Meu pai entendeu que minha recusa era pra ficar com Antoni. E me fez um ultimato. Me mudaria pra outro país pra estudar fora e ficaríamos numa boa ou me mandaria pra fora de casa e não me trataria mais como sua filha. Eu não tinha outra opção, então decidi obedece-lo.
Ja estava tudo decidido, em duas semanas iria pra casa dos meus tios no Brasil. Era um dos países a parte da guerra. Lá meu pai disse que ficaria em segurança.
Estava decidida a ir. Até que em 1 de setembro de 1939 a Polônia foi invadida pela Alemanha Nazista. A Universidade foi fechada por medida de segurança e a guerra mais terrível da história começou.
De noite.
Antoni bateu em minha janela insistente, abri e ele me segurou pela nuca e me beijou, desceu pelo beiral e foi embora. Fui surpreendida, jamais esperava que ele fosse agir assim. Mas naquele momento, nas circunstancias em que me encontrava aquele beijo mudou tudo. Eu nunca tinha visto ele como homem, para mim era apenas um amigo, mas agora tudo tinha mudado. E eu ja não sabia mais o que fazer.
Passei a noite toda pensando naquele beijo. No que o levou agir assim. Até despertar para ver minha vida toda transformada.
Vi meus pais discutindo na cozinha. Decidindo o que íamos vender primeiro para conseguir dinheiro suficiente para sair do país. Era nossa única chance de sobreviver a guerra, já estavam começando as mudanças no nosso país. Éramos proibidos de entrar em alguns comércios e os Judeus eram obrigados a andar com uma estrela amarela nas vestes, para se identificarem.
Meu pai queria usar tudo o que tínhamos pra me mandar pra longe, mas havia esquecido de pensar que minha mae e ele precisavam sair do pais tambem. Tivemos uma discussão na cozinha e meu pai atirou os pratos em cima de mim. Eu corri e sai de casa as pressas.
Da janela Antoni viu tudo e foi atrás de mim. Me encontrou e me abraçou forte. Eu precisava daquele abraço, mais do que qualquer outra coisa. Ele olhou fundo nos meus olhos e disse:
- Já sei que você vai embora do pais, não é o melhor momento pra essa conversa, eu sei. Eu não queria deixar voce ir. Mas sei que é o melhor para você, para sua segurança. Eu só queria que soubesse que me importo com você e que esse tempo que passamos juntos fez nascer em mim um sentimento muito especial por você e eu faço qualquer coisa pra ver você feliz. Eu jamais quero te ver chorar assim, eu te amo. Descobri que não é mais como amiga e se você estiver disposta a me dar uma chance, eu vou com você pro Brasil. Eu quero viver com você. Mesmo que seu pai não queira, estou disposta a sermos eu e você contra o mundo se for necessário!
..
Não consegui dizer nada, apenas o abracei forte e chorei compulsivamente. Mas nao precisava de palavras. Ele entendeu tudo.
Seríamos eu e ele contra o mundo.
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Um Pouco de Nós
RomanceKarol e Antoni se conheceram em meio uma época difícil, viraram amigos inseparáveis, descobriram o amor um no outro. Mas seu país entrou em guerra e quase foram separados. O que um Judeu e uma negra poderiam fazer? Estávamos condenados a morte! Adol...