Um pouco de fé

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Nos dias seguintes planejavamos o que fazer para ficarmos juntos. E ele como sempre muito carinhoso e atencioso, me trazia flores e me falava o tempo todo que tudo ficaria bem, que independente de qualquer coisa permaneceriamos juntos.

Nossos planos estavam para  ser frustrados.

Logo após a invasão/ocupação  da Polônia começaram a planejar o isolamento dos grupos de pessoas que consideravam a parte da sociedade. Criaram um local exclusivo aonde segundo eles, seria habitação para Judeus, negros e todos aqueles a quem desconsideravam na sociedade. Começou então a criação do famoso gueto de Varsóvia.

Fomos todos obrigados a ir morar la. E logo em seguida os nazistas providenciaram a construção de um muro ao redor do gueto em 16 de Novembro de 1940, para nos isolar, segregando completamente os judeus.

Permanecemos juntos o tempo todo. Sofremos muito. Tivemos que deixar tudo o que tínhamos e irmos para o gueto. Sabendo que dali em diante nosso destino seria muito pior.

Durante o ano e meio seguinte, judeus de cidades e vilas menores foram trazidos para o gueto. Doenças — como o tifo — e a fome (as rações para judeus eram oficialmente limitadas a apenas 184 kcal por dia, ao contrário das 1800 para polacos e 2400 para alemães em Varsóvia) alastravam-se em enormes proporções.

Os doentes eram levados pra fora do gueto. Com promessas enganosas de que estariam sendo levados para serem tratatados. Infelizmente enganados, eram todos executados.

Algumas mulheres eram abusadas sexualmente. Eu tive Antoni cuidando de mim o tempo todo. Ele me livrou de várias vezes que achava que iria ser morta ou estrupada, estava se preparando para um levante com outros rapazes do gueto. Meu pai estava liderando o levante, mas foi descoberta suas intenções e ele foi morto para servir de exemplo que não poderíamos reagir sem morrer. O medo nos aprisionou.

Tinha perdido meus pais e não podia fazer nada. Para minha sorte eu não estava em casa quando invadiram e mataram meus pais. E não vieram atrás de mim. Antoni me consolou e me abrigou em seu apartamento, seus pais tinham morrido, contrairam uma doença no gueto e não resistiram. Não tínhamos mais ninguém além de um ao outro.

A cada dia que passava as coisas ficavam piores. Nossas esperanças de sobreviver aquilo tudo ficavam menores a cada dia. E ele continuava sussurrando em meu ouvido que iríamos escapar, que tudo iria acabar bem. Eu cultivava minha fé. Era a única coisa que tínhamos. Um outro dia de luta pela vida e um pouco de fé.

Um Pouco de NósOnde histórias criam vida. Descubra agora