Cheiro de morte

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Nos 52 dias seguintes, até 21 de Setembro de 1942. cerca de 300 000 pessoas foram levadas para o campo de exterminio de Treblinka ou assassinadas mesmo em Varsovia. Os suicidios tornaram-se então muito frequentes.

A situação dos restantes habitantes melhorou ligeiramente. A fome acabou e as casas superlotadas tornaram-se agora vazias. Os judeus, que ali puderam permanecer, trabalhavam (dentro do gueto) como escravos para fábricas alemãs ou, então, viviam em fuga, eu era uma delas.

Durante os 6 meses que se seguiram, aquilo que restava das diferentes organizações políticas foi unido sob um mesmo nome. Os membros da União dos combatentes Judeus lutavam contra os opressores alemães, não tinham ilusões sobre os planos dos alemães e preferiam morrer lutando. O seu armamento consistia sobretudo de pistolas, bombas caseiras e coquetéis molotov; o ŻZW era o grupo melhor armado da resistência, graças a seus contactos com a resistência polonesa, fora do gueto. Eles me ofereceram abrigo e proteção, em troca da minha força de trabalho. Fazia sopas e caldos pros combatentes. Eles traziam pao e o que conseguiam roubar dos inimigos. Vivíamos fugindo, nossos amigos eram mortos todos os dias. Era uma vida sofrida. E eu so pensava em como estava Antoni. Se estava vivo. Se o veria outra vez.

Estava fazendo sopa para o pessoal do grupo, quando uma amiga chegou. Tinha sido resgatada de um dos campos de extermínio. Estava muito ferida e faminta. Ela foi uma das poucas que conseguiu fugir com vida. Me disse que viu Antoni lá. Minhas pernas começaram a tremer e eu fui desesperada fazendo centenas de perguntas. Fui acalmada e ela me confirmou que ele estava vivo. Estava trabalhando na como garçom dos inimigos. Acho que por ser loiro de olhos claros, bem diferente da maioria dos Judeus, foi dado a ele um serviço melhor. Saber disso me deixou tranquila. Havia uma chance de voltar a ve-lo. Já fazia meses que não o via. Estava com a barriga grande, com aproximadamente 6 meses. Tinha esperança de reencontra-lo com vida. Nos dois corriamos riscos, mas tínhamos chance de sobreviver se nossa situação se mantesse igual.

Orava todas as noites para que Deus permitisse que ele visse o filho (a) nascer, para que ele ficasse bem e voltasse para nós.

A única coisa que me restava era a fé. Que só aumentava dia após dia. Pois eu sabia, algo falava dentro do meu coração que, até ali o senhor nos sustentou.

Era como se pudesse ouvir a voz dele me dizendo que ia ficar tudo bem, que ia dar tudo certo. Eu até sentia seu afago nas minhas bochechas. Sempre que eu perdia o controle ele me trazia de volta. Me falava sobre o Deus dele e como ele nos abencoaria e eu cria, eu pude conhecer sua fé e agora era minha fé.

Fugindo com o grupo, se escondendo, sendo surpreendidos, escapando, foi assim que foi minha vida até que meu grupo foi capturado e morto. Mas eu consegui escapar. Deitei sobre a pilha de corpos e me cobri de sangue. Pela minha sorte não deram atenção para mim. Estava toda suja de sangue e cheirando mau. Acreditaram que eu estava morta.

Começaram a juntar as pilhas de corpos e jogar querosene em cima. Uma a uma as pilhas de corpos eram queimadas. Eu orei muito aquela noite. O cheiro era muito forte e eu comecei a vomitar. Não me contive. Um dos guardas viu e eu saí correndo. Ele mirou em mim e atirou.

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