Liberdade

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O bebê nasceu!

Semelhante ao pai. Cabelos de anjo e olhos azuis. Era um menino lindo!

A senhora fazia questão de cuidar dele. Dizia pra eu descansar quase que o tempo todo. Na hora de amamentar eu ficava com ele, em outros momentos ela pedia ele. Eu deixava. Tinha muito carinho por ele. Mas depois de um tempo comecei a desconfiar das intenções daquela senhora.

Bateram forte na porta. Tremi de medo. A senhora pediu que eu me escondesse. Era Antoni na porta. Todo machucado, mas a senhora não deixou ele entrar. Ela começou a gritar, chamando pelos militares. Antoni não pensou duas vezes e deu lhe um soco. Ela desmaiou. Pegamos comida e água e saímos da casa dela fugidos. Voltamos para o gueto. Restaram poucos moradores la.

Quando chegamos no apartamento. Eu o abracei tão forte. Choramos muito. Ele viu nosso filho, chamou-o de Josué, o envolveu nos seus braços e se declarou por horas para ele.

Me deu muita pena de seu estado. Estava com os dedos das mãos todo machucados, parte do seu rosto estava deformado. Perguntei o que ele tinha suportado. Ele não quis dizer, parecia doloroso se quer falar no assunto.

Depois de alguns meses a guerra estava quase no fim.
Nós não tínhamos mais medo. Estava quase terminando. Os Estados Unidos estavam tomando controle da situação com os aliados.

A guerra estava terminando.
Quando o exército alemão viu que seria vencido quis eliminar o máximo dos judeus que conseguiam. Invadiram nosso apartamento e mataram a mim e Antoni.

Nosso filho estava dormindo.
Sobreviveu.

A senhora que sempre nos vigiava, esperou que terminassem o serviço, entrou pegou o bebê para cuidar dele.

Mesmo tendo mas intenções ela foi boa. Era uma senhora solitária e deu muito amor para nosso Josué.

Em Janeiro de 1945 a guerra finalmente terminou.

Muitos morreram, mas muitos sobreviveram e lutaram para que se fizesse justiça a memória dos mortos.

Nosso Josué se tornou, anos mais tarde, membro da ONU e lutou muito pelas pessoas perseguidas. Fazia questão de lembrar de tudo o que sofremos pra fugir dos nazistas. Lutou fervorosamente para que se fizesse justiça. E fez parte do julgamento dos militares sobreviventes.

Nosso sangue derramado até os dias de hoje clamam por justiça! Até que se faça.

Um Pouco de NósOnde histórias criam vida. Descubra agora