No dia seguinte os militares começaram invadir os apartamentos. Tirando as pessoas a força. As que se recusavam eram alvejadas de tiros la mesmo. As que obedeciam, entravam nos caminhões, semelhantes a paus de arara e eram levados, sem nem poder perguntar pra onde.
Fugimos pro telhado e nos escondemos em baixo de uma lona. Esperamos os barulhos de tiros e todo barulho acabar. Decemos as escadas correndo e fomos pro prédio do lado, invadidos um apartamento que estava vazio. Ficamos lá por alguns dias. Totalmente em silêncio.
De semana em semana trocávamos de apartamento, sempre pela madrugada. Para não sermos pegos.Depois de dois meses nesse ritmo ouvimos em um dos apartamentos, pelo rádio, que a guerra eclodiu. Estava em seu ápice. E as pessoas estavam sendo levadas para campos de concentração nazista, fábricas de tijolos e bigornas, entre outros lugares, aonde eram forçadas a trabalhar até a morte.
Para minha surpresa, em meio àquela situação perigosa que nos encontrávamos eu descobri que estava grávida. Fiquei desesperada. Antoni apesar de assustado, ficou muito feliz e ainda mais preocupado com minha segurança.
Saímos do apartamento, descemos as escadas bem devagar, mas uma vizinha era contra os Judeus e gritou:
- Judeus aqui! Judeus aqui!
Corremos desesperados e nos abrigamos dentro de caçambas de lixo. Conseguimos passar daquela noite. Mas eu senti por algumas horas que fosse morrer. Estávamos cercados de guardas.
Pela manhã já não tinha mais guardas. Saímos da caçamba e fomos para outro prédio. Subimos as escadas e Antoni tocou uma das campainhas.
Era o apartamento de um amigo da faculdade. Assim que abriu a porta nos puxou para dentro desesperado!- Você está louco Antoni? O que estão fazendo aqui? Se te virem aqui eles te matam e me matam!!
- Por favor Harry nos deixa ficar aqui. Pelo menos dois dias? Ela está grávida e estou fazendo o possível para protege-la! Me ajuda amigo, estou desesperado!
Olhei para ele com os olhos cheios de lágrimas e não disse nada. Me sentia tão humilhada. Estávamos sendo tratados como animais fugidos de um matadouro. Eu ja fui humana.
- Tudo bem, podem ficar. Mas não façam barulho. Cuidado pra ninguém ver vocês, não saíam, não falem, andem descalço quando eu não estiver. Ninguém pode saber que estão aqui. Se não vamos todos morrer!
- Tudo bem. Fique tranquilo, não vamos causar problemas. Muito obrigado meu amigo. -E o abraçou emocionado.
Passamos dois dias em total silêncio. Por sorte o amigo dele tinha condições financeiras. Tivemos dois dias de fartura. Mas estava na hora de ir embora. Antoni pediu mais alguns dias, mas seu amigo temia pela própria vida e nos mandou ir embora.
Era madrugada quando saímos. Estava chovendo. Saímos correndo de beco em beco, nos escondendo atrás de latas de lixo e sob a escuridão como sombras. Os militares apontavam lanternas próximos a nós. Mas pra nossa sorte não fomos vistos por nenhum deles. Escapamos mais um dia.
Estávamos próximos a fronteira para a cidade ao lado, estávamos perto de escapar daquele pesadelo.
Corremos como dois desesperados para sair. Conforme nós aproximamos vimos que a divisa das cidades estava cercada por uma cerca toda engradeada. Guardas de ponta a ponta, recuamos na mesma hora.
Quando estávamos voltando percebemos que estávamos sendo seguidos. Antoni me jogou pra uma mata fechada e me mandou correr. Eles o pegaram. Mas nao mataram. Jogaram em um caminhão e vieram atrás de mim.
Corri o máximo que pude até achar um buraco em baixo de um pequeno barranco. Me escondi dentro dele. Estava cheio de pequenos insetos nojentos. Contive meu choro e segurei o ruído. Os guardas estavam em cima de mim. Ouvi a conversa deles. Dizendo que se me achassem iam me matar. Porque eu era negra. Se referiam a mim com os piores nomes. E eu me continha em minhas tristezas.
Meu amor tinha sido levado. Pra onde? Eu não sei. Agora estava sem a pessoa que me mantinha forte. Mas precisava ser forte, pelo bebê.
Mas nao fazia ideia de por onde começar.
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Um Pouco de Nós
RomanceKarol e Antoni se conheceram em meio uma época difícil, viraram amigos inseparáveis, descobriram o amor um no outro. Mas seu país entrou em guerra e quase foram separados. O que um Judeu e uma negra poderiam fazer? Estávamos condenados a morte! Adol...