Maio de 1938 - Varsóvia (Polônia).
Pov Karol
Tinha 21 anos, cursava Zootecnia na Universidade de Varsóvia, foi la aonde o conheci Antoni. Ele sempre foi muito bonito, tinha um sorriso lindo que me deixava toda boba. Ele estava no último ano de Biomedicina, com 23 anos. Meu pai e o pai dele trabalhavam juntos, éramos vizinhos.
Ele alto, ombros largos, loiro e de olhos cor de mel. Eu magra, negra, de olhos escuros. Ele não era rico, mas tinha boas condições economicas e eu era de uma família de classe média, mas era uma bolsista. Nem tentei me aproximar. Achei que nunca conversariamos, até que as aulas foram suspensas, por razões políticas, algo sobre estarmos ameaçados de guerra, a Alemanha Nazista estava tentando invadir a Polônia. Aos poucos os jovens estavam sendo convocados para campos de treino, se preparando para uma possível guerra.
Minha família e eu estávamos super preocupados. Meu pai tinha ouvido boatos que os negros e judeus estavam correndo risco de vida. Como nossos vizinhos eram judeus se juntaram a nós para o jantar e discussões sobre esses boatos, Antoni era o filho mais novo dos vizinhos e veio junto. Eu fiquei toda sem jeito.
Estava lendo na sala quando ele chegou. Sentou-se no sofá e ficou me olhando por um longo tempo, até eu finalmente perguntar:
- Posso ajudar em alguma coisa?
Ele sorriu.
- Só queria saber o que está lendo, só isso. Fiquei curioso, pela forma que está intertida, deve ser bom. - Me olhou nos olhos.
Fiquei toda sem jeito.
- O Sonho de um homem ridiculo.
- Quem é o autor?
- Dostoiévski.
- Parece ser bom.
- Ainda estou lendo, quando terminar eu posso responder.
- Responder?
- Se o livro é bom.
- Ah entendi. -Sorriu sem jeito.
Ficamos nos olhando em silêncio por um tempo. Até nossos pais saírem da cozinha e virem pra sala onde estávamos.
- Filha porque não vai dar uma volta com Antoni? Eu e Jônatas precisamos conversar em particular. - Disse meu pai. Parecia estar bem preocupado. Nao fiz perguntas, apenas obedeci.
- Tudo bem papai. Vamos Antoni?
- Sim, achei ótima a ideia.
Fomos caminhar.
No início eu meio sem jeito não disse muita coisa, mas ele fazia questão de puxar assunto, não permitiu que houvesse tempo para o silêncio. Comecei a me sentir a vontade com ele e conversamos muito. Falamos sobre muitas coisas. Ciência, política, história, entretenimento, até de nossas vidas pessoais. Criamos naquele dia um vínculo de amizade, era muito boa a companhia dele. Era fácil conversar com ele e ele também se sentia assim comigo.
Sentamos no banco de um praça e observamos duas crianças brincando, estavam apostando quem dava o maior salto no balanço. Observamos e rimos lembrando de nossa infância. Até as crianças irem embora e ele decidir me puxar pelo braço até o balanço, me dizendo que o salto dele era maior que o meu, eu toda competitiva apostei que não. O parque estava deserto, já era fim de tarde, umas 18h. Nós, dois tontos sem noção, balançando e rindo, despreocupados, não imaginávamos o que estava por vir.Me senti tão livre, tão leve, sentia como se fosse voar a qualquer momento. Só sorriamos. Até saltarmos do balanço e cairmos no chão. Rimos muito naquele dia.
Ao voltarmos para casa combinamos de nos vermos de novo. E foi assim durante muitos dias. Nos víamos todos os dias, conversávamos e fazíamos quase tudo juntos. Estávamos tão próximos que tínhamos que nos falar todo dia, se nao sentíamos que faltava algo. Quando estava muito frio, ficávamos conversando pela janela. Nossas janelas eram de frente uma para outra, o que facilitava. Todo dia de manhã ele me acordava com bilhetinhos, que ele lançava pela minha janela, num barbante que improvisamos para mandarmos recados, que ia da janela dele até a minha. Pareciamos dois adolescentes.
Nos gostávamos tanto. Daquele ano em diante nos tornamos inseparáveis. Éramos melhores amigos.
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Um Pouco de Nós
RomansaKarol e Antoni se conheceram em meio uma época difícil, viraram amigos inseparáveis, descobriram o amor um no outro. Mas seu país entrou em guerra e quase foram separados. O que um Judeu e uma negra poderiam fazer? Estávamos condenados a morte! Adol...