Simplesmente Acontece

Vamos nos dar outra chance?

Entramos e ele ficou em pé na sala olhando pra tela do celular.

— Pode sentar Felipe, você já é de casa, né... - falei em um tom irônico, pegando as chaves e as pendurando na porta.

Ele sentou-se e ficou me encarando, com um olhar de culpa.

— Que foi Felipe? Quer beber algo? Uma água? Coca? Vodka? - o encarei enquanto dizia.

— N-não obrigado! Eu vim aqui pra nos resolvermos de uma vez, né? - disse sério, porém gagueijando e cabisbaixo.

Estranhei o jeito dele, mas não liguei muito, já que a madrugada não foi fácil pra nenhum dos dois.

— Depois do que aconteceu hoje de madrugada é o mínimo que podia fazer, né? - dei um gole de vez no copo d'água, lavei o copo e pus no escorredor.

— Monica! - me encarou com um olhar de coitado. - Eu sei o que eu fiz, você não precisa jogar na minha cara não. Vamos conversar ou não?

— Ainda bem que você está ciente do que fez. Mas eu só queria saber o porquê você sempre faz isso com a gente, Felipe? Caramba meu! Porque não podemos ser simplesmente um casal feliz de verdade?

— Você não é feliz comigo, Monica? - levantou pasmo, me olhou com os olhos lacrimejantes e depois virou-se olhando fixamente para a janela.

— N-não, Felipe. Calma! - saí da cozinha com passos largos, segurei em seu braço, coloquei a mão em seu rosto e o olhei no fundo dos olhos - Não foi isso que eu quis dizer. Eu sou feliz, mas não o suficiente, sabe? Eu quero me sentir realizada por ter você ao meu lado. Quero viver um relacionamento sem cobranças, briguinhas bestas ou desconfianças... - falei com a voz travada ainda acariciando seu rosto.

Ele olhou no fundo dos meus olhos, colocou sua mão sobre a minha que já estava em seu rosto e me abraçou fortemente e eu retribuí.

— Eu quero ficar com você. Mas não assim, não desse jeito. - falei secando as lágrimas com o indicador.

— Me perdoa? Vamos nos dar outra chance, por favor! Eu te amo e eu não quero te perder.

— Eu também não quero te perder. E eu te perdoo Fê, e também te peço perdão. Vamos tentar outra vez? - sorri e lhe dei um selinho demorado.

Ele assentiu e eu o abracei forte novamente.

...

Ficamos ali juntinhos, passamos a noite abraçadinhos no sofá intercalando entre beijos e carícias enquanto assistíamos um filme de comédia romântica na Netflix. E eu estava muito feliz. Eu só queria ficar ali, com ele, abraçada por horas pra tentar esquecer todos os nossos problemas e nada mais.

— Mô, vou ao banheiro tá? Já volto! - disse, tirando o braço de cima de mim e se ajeitando.

— Tá bom! - sorri.

Logo que ele saiu seu celular que estava em cima da mesinha de centro, vibrou e a luz da tela acendeu. Me levantei e quando eu ia entregar a ele, ele já estava no banheiro. Olhei de relance e era uma mensagem de um número não salvo no WhatsApp. A princípio fiquei instigada, pestanejei bastante entre olhar ou não de quem era aquela tal mensagem. Desbloquiei a tela e vi uma mensagem que fez meu coração apertar já nas primeiras palavras. Senti meu corpo gelar e meus olhos lacrimejarem...

WhatsApp Felipe

x 9999-9999:
Oi Fê, tudo bem? É a Bruna!
A gente se esbarrou no bar hoje de madrugada. Depois que a gente se beijou, você saiu todo atordoado de lá e nem se despediu. E sua namorada ou ex, sei lá. Vocês já se acertaram? Se não, quero te ver de novo, pra podermos continuar a nossa conversa e poder, quem sabe, dar replay naquele beijo! Beijos, me liga 👄

Escuto a porta no banheiro se abrir e rapidamente coloco o celular no mesmo lugar, seco as lágrimas que instiram em cair e me deito novamente.

— Pronto! Voltei, amor! - falou pronto pra se sentar ao meu lado.

— Mas já vai ir embora! - falei, me afastando e ainda olhando pra tv.

— Hã? Eu vou ficar essa noite aqui contigo, doida. Vamos dormir, vamos! - disse rindo e me puxando pelo braço pra mais perto dele.

— ME SOLTA, FELIPE! EU QUERO QUE VOCÊ VÁ EMBORA DA MINHA CASA AGORA! VAI LÁ PASSAR A NOITE COM A BRUNA, VAI! - olhei e apontei pro celular na mesinha de centro já chorando enquanto gritava e ele olhou sem entender. — VOCÊ SEMPRE ESTRAGA TUDO ENTRE NÓS, SEMPRE! - gritei, me levantando e chorando muito.

Ele saiu de perto de mim ainda tentando entender, olhou pro celular na mesinha, o pegou e viu a primeira frase da mensagem na tela.

— Você estava vasculhando meu celular, Monica? Sendo que agora a pouco você disse que queria um relacionamento sem desconfianças? Eu não acredito nisso... - disse, decepcionado.

— Eu não tava mexendo nessa merda do seu celular! Nunca mexi, Felipe! E você sabe muito bem disso. Eu peguei porque ele vibrou e eu ia te entregar, mas quando olhei você já estava dentro do banheiro. Desbloquiei sem querer e vi isso. Acha mesmo que eu queria que fosse assim?

— Isso não é desculpa! Você desconfiou de mim, e ainda quis cobrar de mim aquilo que nem você tem. Eu conheci a Bruna hoje de magrugada depois que você me mandou embora, sim. Mas foi sem querer, nos esbarramos na entrada do bar e ficamos conversando por um tempo, apenas isso.

— Apenas isso? Você beijou ela Felipe e ainda deu seu número pra ela. Pra quê? O que você quer que eu pense disso, querido "Fê"? Vai rolar um remember, talvez? - enfatizei o Fê em tom irônico, lembrando de como ela se referiu a ele na mensagem, cheia de intimidade.

— Senta aqui, deixa eu te explic...

— Eu não quero ouvir mais nada, Felipe! Vai lá se esbarrar com essa mulherzinha de novo, vai repetir a dose vai! Vocês se merecem!

— Monica, para com isso... A.gente acabou de se acertar.

— E acabamos de terminar!

— Monica, me escuta por favor! - insistiu...

— Tchau, Felipe!

— Mon...

— Vai embora, eu já disse! Eu quero ficar sozinha.

— É isso mesmo que você quer? - olhou no fundo dos meus olhos.

— Foi isso que VOCÊ escolheu pra gente, Felipe! Eu tentei, juro que eu tentei! Eu estava totalmente disposta a fazer de tudo pra ficar tudo bem entre nós, pra ser tudo diferente. Mas você não pensou nisso quando se agarrou com essa mulherzinha ai, né? - não consegui conter as lágrimas.

— Me desculpa, por favor! Eu sou um idiota! Eu só faço merda, mas eu te amo, Monica! - falou andando de um lado pro outro com as mãos no rosto.

— Tivesse pensado nisso antes... Preciso dormir, por favor vai embora e não volta mais, Felipe.

— Tudo bem, eu saio. Mas não se esqueça nunca, que apesar de eu ser um idiota, eu ainda te amo, muito. E apesar de tudo, eu quero te ver feliz. E que o amor triunfe sobre todas as coisas...

Sequei minhas lágrimas, olhei pra cima pra poder fazer com que elas cessassem, respirei fundo e fui em direção a porta, a abri e fiquei de cabeça baixa esperando ele sair.

— Tchau Monica, eu te amo. Se cuida...

— Você também... - funguei o nariz e limpei as lágrimas enquanto via ele sair.

Fechei a porta aos poucos, a tranquei em seguida e ali mesmo me encostei e chorei a noite toda.

Depois de alguns longos minutos ali chorando, me levantei, desliguei a tv, também o meu celular e fui tomar um banho pra relaxar. Entrei no box e fiquei ali durante 30 minutos, só sentindo a água quente cair sobre o meu corpo. Eu não sabia o que pensar, eu só queria ficar ali, abraçada comigo mesma e chorando.
Sai, coloquei um pijama, desliguei as luzes da sala e cozinha, entrei no quarto e deixei só o abajur ligado. Chorei por mais alguns minutos abraçada ao meu travesseiro e adormeci...

***