Capítulo Oito

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O que eu vou fazer?, pensava Sarah consigo mesma, enquanto apertava o corpo ensanguentado de Emma contra si. Ela sabia que teria o mesmo destino, senão pior. A criança havia dito que queria transformá-la numa delas... e, lá no fundo, Sarah sabia o que isso implicava: uma morte lenta e dolorosa.

Ela havia vencido a batalha anterior. Ela vencera. Ficara viva. Não Emma. Emma estava morta, e Sarah não podia fazer nada. Ela tentava decidir o que fazer, se deveria luar ou acabar com tudo, quando ouviu risadas infantis vindas da sala. Apavorada, mas com vontade de saber se a situação realmente podia piorar, ela levantou-se e caminhou em direção aos sons. Se piorasse, que diferença faria? Ela já estava ferrada, já estava a ponto de desistir.

Se escondendo atrás da parede, Sarah observou a sala de estar. A menininha estava de costas, e na sua frente, haviam mais duas... crianças. Dois meninos, de mais ou menos nove anos. Suas expressões, uma época inocentes, eram mascaradas pela crueldade. Sarah recuou, levando a mão à boca para não gritar.

Ela estava mais que ferrada. Já estava morta.

Tentando não fazer barulho, ela entrou no quarto dos pais, que ficava longe da sala, e procurou por uma folha. Encontrando-a, ela pegou uma caneta do criado mudo e sentou-se, a folha apoiada no chão frio. E... começou a escrever.

Queridos mamãe e papai,

Sinto muito por não estar mais aqui quando vocês chegaram. Escrevo isto adiantando o fato de que vou morrer, e sei disso. Pode parecer algo mórbido de se dizer, mas é a verdade. Não tenho chance contra aquelas Crianças Assassinas. E, bem, eu sei que vocês não estão entendendo o que leem, então, tentarei explicar rapidamente, pois devo ter mais quinze minutos antes que aquela menina continue a caçada, onde a presa sou eu.

Antes de tudo: eu não sou louca. Sei o que está acontecendo. Tudo começou com aquele DVD idiota, e, caso vocês o encontrem, NÃO ASSISTAM. Esse é meu último pedido, pois, caso vocês assistam, elas virão atrás de vocês também. Tinha um aviso na caixa do DVD, mas eu o ignorei. Isso custou a vida de Johanna, e vai custar a minha também. Não é uma brincadeira; é a realidade. Eu as chamo de Crianças Assassinas. Não sei o que elas são, mas sei de uma coisa: são vingativas, cruéis e maldosas. Matam por prazer, e querem me transformar numa delas. Mas eu não vou permitir isso. Não vou.

Agora que vocês mais ou menos entendem o que está acontecendo, eu queria me desculpar por não ter abraçado vocês quando tive a oportunidade. Por não ter dito "eu te amo" pra vocês, por não ter demonstrado meu amor. Não é a mesma coisa, mas eu amo muito vocês.

Mamãe, nunca vou esquecer daquela vez que eu cai de bicicleta, e você veio correndo, preocupada. Eu estava aprendendo a pedalar, e perdi o equilíbrio. Era algo normal, cair, mas você correu pra mim como se eu pudesse morrer num tombo desses. Na época, achei bobeira, e até ontem, não dava muita importância a isso. Mas agora... sinto muito por não ter beijado seu rosto, quando você beijava os meus machucados e dizia que ia ficar tudo bem. Sinto muito por não ter te abraçado como você merecia - e ainda merece. Você cuidou de mim toda minha vida, e agora, percebo que nunca agradeci por isso.

E papai, me desculpe por não ter lhe dado toda a atenção que deveria. Me desculpa por nunca te dizer "tchau" antes de você sair ou de eu mesma fazer isso. Sinto muito por não falar contigo quando estava em casa. Agora, percebo que deveria ter feito isso, que deveria ter te abraçado como uma filha tem que fazer. Me desculpa por não falar contigo quando você e a mamãe brigavam, e eu me colocava do lado dela. Sinto muito mesmo. E, bem, agora eu também percebo que deveria ter dito "eu te amo" pra você mais vezes.

Não tenho como voltar atrás nas minhas escolhas, mas, se pudesse, teria amado mais os dois, com certeza. Espero que me perdoem por isso, e por morrer também. Será que poderiam dizer a Melanie que ela é sim minha melhor amiga? Que não voltei para casa com ela porque estava com medo das Crianças virem atrás de mim? E, se não for pedir muito, poderiam dizer para o Noah que eu amo muito ele? Nós terminamos o namoro faz uma semana, e ele acha que eu não o amo mais. Por favor, corrijam isso, pois sou totalmente apaixonada por ele.

E, bem, para finalizar esta carta, apenas digo isto: muito obrigada por não estarem aqui agora, pois eu não quero que vocês tenham o mesmo destino que eu. Se mudem de casa, de cidade, de estado, mas por favor, vão embora deste apartamento. Por favor.

Sarah parou de escrever quando batidas na porta começaram a soar. Ela havia trancado a porta do quarto dos pais, mas este tinha uma saída para a sacada. Ela levantou-se, parando ao lado do criado mudo e finalizando a carta rapidamente:

Elas estão vindo. Amo vocês, e sinto muito,

Sua Sarah

Depois, deixou o bilhete abaixo dos travesseiros, para as crianças não o encontrarem. E, com toda a coragem que pode reunir, correu para a sacada, bem no momento que a porta foi arrombada, e os menininhos entraram, a pequena garota seguindo atrás deles.

Sarah recuou, as crianças se aproximando. Faltavam poucos passos para que ela chegasse ao parapeito quebrado, derrubado pelo corpo de Emma, que ainda estava na sacada. A garota conteve a ânsia de vomito ao recuar mais um pouco. Ela sabia que ia morrer, e dependia dela escolher como. Poderia se jogar da sacada, assim se poupava do destino como Criança Assassina. Sim, com certeza essa era a opção mais fácil, e mais segura. Mas... e se ela não morresse? E se as crianças a pegassem antes dela conseguir se jogar?

Mas não havia tempo para pensar. Era se jogar, ou morrer nas mãos das crianças. Sarah respirou fundo. Contando até três, ela murmurou desculpas para os pais, para Emma, Melanie, Noah... e correu em direção à sacada.

***

Oiii, pessoal! E aí, estamos quase no final da história! Quem curtiu até aqui? Ou melhor, só eu que chorei com a carta que a Sarah deixou para os pais encontrarem? Bom, uma sujeira entrou no meu olho enquanto eu escrevia, então a culpa não é minha ahahahah

Capitulo longo pra vocês terem o que ler até eu acabar o próximo rsrs

Bjs!



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