Uma hora e meia depois, o filme já estava no final, e Sarah tremia da cabeça aos pés. Estava agarrada à Johanna, como se a vida dependesse disso. Quem teria a ideia de criar um filme desses? Na embalagem do produto, não dizia nada sobre diretores e elenco. Não dava créditos à ninguém. Era estranho.
Mas o pior era a história em si, que se passava nos anos 1950.
Um grupo de crianças brincava numa campina. Elas gritavam e riam, alheias ao perigo do mundo. Não deveriam ter mais de sete anos. Tudo estava bem, até que um grupo de homens com expressões cruéis entrou no espaço de brincadeiras.
As criancinhas começaram a correr, fugindo, mas não conseguiram se salvar. Três meninos e duas meninas. Elas foram assassinadas de forma sádica e violenta, cortadas em pedaços, para a diversão dos homens. Uma das garotinhas foi estuprada antes de encontrar seu fim. Ela era loira, com olhos escuros. Seus berros ainda estavam na cabeça de Sarah.
Algumas semanas depois, os assassinos morreram misteriosamente, os corpos dilacerados. Não encontraram o culpado.
A lenda do filme dizia que as Crianças Assassinas ainda vagavam por aí, a procura de qualquer crianças ou adolescente que fosse irresponsável o suficiente para desperta-las. Elas eram vingativas, querendo causar aos outros o mesmo mal que sofreram. Suas mortes eram violentas e terríveis; a única maneira de tornar a vítima uma delas.
Depois de assistir ao filme, Sarah agradeceu, silenciosamente, por não estar sozinha em casa. Por ter Johanna ali com ela.
– Se eles queriam me assustar, conseguiram! – murmurou, mais para si que para a mulher mais velha.
– Filme estúpido, esse... – Johanna resmungou. – Coisa mais ridícula! Existem uns beeem melhores que esse!
– Rá, rá! – Sarah estremeceu.
Elas ficaram em silêncio por alguns minutos. A mais nova não conseguia parar de pensar na história, no aviso no verso da caixa do DVD. Por mais que soubesse que nada daquilo era real, ela estava com um mau pressentimento. Não era estranho, o fato de um carteiro desconhecido e assustador, ter-lhe entregado esse DVD de terror? Assim, do nada?
Ela deu um pulo, quando um trovão soou lá fora. Respirou fundo. Argh, ela parecia uma criança de oito anos, depois de ver um filme assustador! Era bem provável que ela estivesse agindo pior que uma...
Falando em crianças... Sarah pensou consigo, antes de bater na próprio testa. Pare de pensar nisso, droga! Que momento, numa noite de tempestade, para ter um pensamento desses...
– Vá dormir, Sarah. Amanhã, vamos nos divertir um pouco e queimar esse DVD idiota... – Johanna falou, escondendo o sorriso.
– Isso, vamos "queimar bem queimado"! – murmurou a outra, levantando-se do sofá e indo para seu quarto, que era amplo, com banheiro junto, e decorado com pôsteres de todos seus ídolos e fotos dela com as amigas.
Arrumou-se para dormir, e, com aquela sensação de medo corroendo as entranhas, deixou a luz do seu banheiro ligada. Ela se sentia pequena, e aquela camisola curta a fazia se sentir exposta, coisa que nunca acontecera. Sarah adorava aquelas mini camisolas cheias de rendas.
– Dorme, dorme, dorme, dorme – ela ficava repetindo para si, os olhos cerrados, os cobertores até o queixo. Qualquer barulhinho, da tempestade ou não, a faziam se encolher em posição fetal. Era por isso que ela não assistia a filmes de terror! Porque, depois, ela morria de medo!
Minutos, que pareceram horas, se passaram, e Sarah, finalmente, conseguiu cair num sono inquieto, repleto de pesadelos com crianças de olhos negros e cheios de dor.
***
A garotinha observava a adolescente dormir de forma inquieta. Se pudesse sentir algo além de vontade de vingança, teria pena da garota que dormia. Talvez, poupasse sua vida desse tormento eterno. A menina afastou esse pensamento.
Era necessário. Precisava tirar a vida da garota, como fizeram com ela, décadas atrás. Além do mais, Sarah – esse era o nome da garota que dormia, percebeu a menininha – as despertara. Lera os avisos e os ignorara. Agora, pagaria por isso. Era só uma questão de tempo.
Antes de tudo, a menininha precisava deixa-la fora de si, instável, para apenas depois matá-la. Era parte do ritual. Ela conteve a risada quando Sarah soltou um gemido baixo em seu sono. Com que será que ela sonhava? Com certeza, não era com unicórnios.
Respirando fundo, o espirito reerguido da menina assassina começou a colocar seu plano em pratica.
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Crianças Assassinas
Korku"As Crianças Assassinas não estão aqui para brincar. Elas estão para matar. Vingativas, elas irão te caçar. Ainda as quer libertar?" Sarah é uma garota de dezesseis anos. Uma semana antes do Halloween, seus pais decidem viajar a trabalho, e horas de...