Capítulo Um

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Havia duas horas desde que os pais de Sarah, Erik e Lysandra Lanier, saíram para a viagem "a trabalho". Eles voltariam em dois dias. Então, Sarah deveria estar contente, pelo fato de ficar sozinha e poder dar uma festa sem que seus pais soubessem. Mas ela não estava feliz.

A mulher que trabalhava havia anos em sua casa, que fora sua babá muito tempo antes, estava vindo para ficar com ela. Com dezesseis anos, seus pais achavam que ela ainda precisava da supervisão de um adulto por dois malditos dias.

Ainda fervilhando de raiva, Sarah tinha o controle da TV em mãos e o notebook no colo. Estava sentada no sofá desde que os pais se foram, tentando encontrar criatividade para continuar a história que escrevia havia algumas semanas.

A sala de estar onde se encontrava era grande e decorada, o tapete felpudo no chão fazendo cócegas em seus pés. Mas nem isso a distraia do ódio que tinha por não poder ficar sozinha em casa e chamar as amigas para uma festa.

No silêncio do apartamento – ela ainda não tivera vontade de ligar a TV, apenas estava com o controle na mão – a campainha a assustou. Era um ruído estridente, e ela adoraria rasgar o pescoço de quem a tocara.

Bufando, levantou-se, calçando os chilenos decorados com pedrinhas e enfeites. Pelo olho mágico, viu que era o carteiro quem estava ali. O que? Por que ele subiu até o quinto andar, quando podia pedir para o porteiro me chamar?

– Já vai! – a voz de Sarah, meio roca devido à gripe que pegara na semana passada, saiu mais alta que o normal.

Correu até a mesa, no centro da sala, e encontrou as chaves da porta. Destrancou-a e esperou pacientemente que o carteiro revirasse dentro de sua bolsa enorme, procurando o que, ela não sabia.

Trinta segundos depois, Sarah começou a bater o pé, impaciente. Qual o motivo de tanta demora?

– Ah, aqui está – o carteiro ergueu o rosto, seus olhos cruéis. Sarah recuou alguns passos.

Só então viu que o homem lhe estendia uma pequena caixa, embrulhada em papel pardo. Os selos não eram comuns, e ela nunca os vira na vida.

– Eu não pedi isto – ela murmurou, e viu que seu nome estava no lugar do destinatário, no embrulho. Ignorou isso. – Acho que é engano.

– Ah, não. Eu penso que alguém lhe mandou de presente – e piscou. Sarah podia jurar que os olhos dele brilharam em vermelho. – Poderia assinar aqui? – e lhe estendeu uma prancheta.

Com as mãos tremendo um pouco, ela fez como pedido. A tinta da caneta era de um vermelho escuro, anormal. Parecia... sangue. Sarah sacudiu a cabeça, violentamente. Qual era a necessidade de pensar uma besteira dessas? Argh!

– Obrigada, senhorita – a voz dele ficou áspera, com um tom estranho, e Sarah fechou os olhos com força, brigando consigo mesmo.

Quando abriu os olhos outra vez, alguns segundos depois, o carteiro havia sumido. Xingando, ela fechou a porta com força, observando o pacote que tinha em mãos. Parecia uma caixinha, do tamanho de um livro grosso, mas não muito pesado.

Curiosa, ela sentou-se no sofá, rasgando o papel. Conteve o suspiro entediado ao perceber que era um DVD. Crianças Assassinas, dizia o título.

– Nossa, que engraçado! – murmurou Sarah, para si mesma. – Falta uma merda de semana para o Halloween, e já começaram as brincadeirinhas?

Mas algo dentro dela dizia que não era uma brincadeirinha.

Suspirando, Sarah voltou para o notebook, jogando o Crianças Assassinas do outro lado do sofá. Ligou a TV, para preencher o silêncio macabro que se instalara no local.

Uma meia hora depois, o som de notificação do Skype a fez saltar no lugar. Com uma tremedeira exagerada, ela abriu a rede social, deparando-se com uma mensagem de um usuário irreconhecível na tela.

"Gostou do presente?"

Ela congelou. O que? Como? Em desespero, ela tentou bloquear esse usuário. O que seria ele? Um stalker? Ou algum amigo idiota tentando pregar-lhe uma peça? Afinal, todos sabiam que ela era uma medrosa.

Bloqueando quem quer que fosse aquela pessoa, ela desligou o notebook. Não queria levar outro susto.

Começou a passar pelos canais da TV, procurando algo para assistir. Os especial de Halloween já haviam começado, mesmo não passando das quatro da tarde. Inconformada com os filmes idiotas que eram exibidos, ela botou no canal de músicas. Se acalmou um pouco ao ouvir as melodias conhecidas, tomando, até, coragem para dançar.

Mal percebeu quando deram cinco horas, e o ruído de chaves e a porta se abrindo a assustou. Ela deu um gritinho, antes de levar as mãos ao peito. Mas que cagona!, os colegas zombariam.

Mas era apenas Johanna, a empregada de cabelos longos e loiros. Sarah suspirou, tentando manter a calma. Pronto, agora não estava mais sozinha. E não havia nenhum outro carteiro com olhos vermelhos para assustá-la.

– Ah, que bom que é você! – a garota exclamou, conduzindo a mais velha para o sofá. A mulher deveria ter uns cinquenta anos, mas seus cabelos ainda tinham um belo brilho e eram da cor natural dela: o loiro, e sua personalidade a fazia parecer uma garota de vinte.

– As piadinhas de Halloween já começaram? – a voz sábia da mulher a acalmou instantaneamente. – O que aconteceu dessa vez?

Então a menina contou, desde o carteiro à mensagem estranha no Skype. Johanna riu.

– Mostre pra eles que não se assusta fácil. Vamos assistir a essa DVD idiota!

Sarah riu, e pegou-o. Leu o verso e estremeceu. Em negrito, a seguinte frase se destacava:

"As Crianças Assassinas não estão aqui para brincar. Elas estão para matar. Vingativas, elas irão te caçar. Ainda as quer libertar?"

– Uhhh, alguém não tinha criatividade para escolher um filme melhor! – provocou Sarah, engolindo em seco.

– Rá, rá, pare de enrolar e coloque a porcaria do filme logo – pediu Johanna.

E, respirando com dificuldade, a garota de dezesseis anos obedeceu.


***

Oiii, genteee! Estão gostando até este primeiro capítulo, sem contar o prólogo? Eu gostaria de saber:  vocês gostariam dos capítulos da história mais longos (umas mil palavras) ou mais curtos (seiscentas ou setecentas palavras)? 

Bem, é isso... rsrs 

Bjs!


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