XXXVII

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"Rastejando dentro da minha pele Estas feridas,elas não curarão
Medo é o que me derruba, Confundindo o que é real" Crawling, Linkin Park.

Não consigo me mover.
Escuro. Tão escuro.

Contei 3 dias.

3 dias presa no meu inferno pessoal.

De dia é tão quente que sinto minha pele arder e formar bolhas dolorosas.

A noite é o oposto.

O frio faz com que meus dentes batam tão forte que sinto dor em meu queixo.

Além da fome...

Olho depressivamente para o pequeno buraco em minha frente.

Como em um sonho , vejo-me la fora, meu rosto sorridente enquanto corro feliz para os braços de Jeff. Ele me levanta em seus braços e rodando-nos me beija.
Mas a imagem some de repente e sei que foi apenas uma miragem. Um produto de minha imaginação.

Estou enlouquecendo...

Não consigo mais chorar. No primeiro dia eu chorei tanto que acreditei que morreria.

Mas agora me sinto anestesiada. Não há mais espaço para autopiedade.

Já aceitei meu destino.

Sem o jeff minha vida não tem sentido e com o Jeff minha vida é um inferno.

Como diz aquele ditado "não se pode viver sem eles, não se pode viver com eles... "

Ele poderia ter me matado naquela noite.

Eu pensei que ele estava sendo piedoso quando não o fez.

Como eu fui idiota.

Teria sido melhor que ele tivesse atirando em mim do que me deixar aqui morrendo de fome e sede, em um lugar tão minúsculo que me sinto cada hora mais próxima da insanidade.

~~~~~~~~~~~~

Abro os olhos ao ouvir o barulho inconfundível de um carro.

Coloco meus olho na pequena abertura de ar para ver o que pode ser.

Uma viatura policial.

Não pode ser...

Devo estar alucinando novamente.

Meu coração... meu pequeno coração acelera em expectativa.

O que estão fazendo aqui?! Será que vieram por minha causa? Será que foi o David?! Ele está vivo! Ele irá me salvar...

Minha mente viajava em várias possibilidades possíveis.

Um homem fardado, um policial, sai do carro em direcão a porta.

De onde eu estou não consigo mais ver nada e sinto um arrepio.

Ele não sabe quem é Jeff... Ele não me pareceu armado.

Meu coração afunda com a realização de que ele não é páreo pra Jeff.

Ele irá morrer. Ele irá morrer e eu continuarei aqui para sempre.

Este será o meu túmulo.

Não não não...

Minutos se passam e nada acontece.
As garras cruéis do desespero me cercam ameaçando minha sanidade.

Ainda em choque, percebo um leve movimento dentro da viatura.

Há... outra pessoa la dentro.

Há outra pessoa lá dentro!

Outro policial sai após seu parceiro não ter voltado.

Eu tenho que fazer algo...

Abro muito os olhos e decido que não quero morrer assim... não aqui.

Com os punhos fechados bato na parede com toda a força que ainda resta em meu corpo.

Berro para chamar sua atenção, mas minha voz rouca não está totalmente sarada, consequência dos meus gritos noites atrás.

O homem estava indo em direção a porta quando subitamente ele vira seu rosto para trás.

Bato ainda mais forte até meus pulsos sangrarem.

O policial continua olhando em minha direção sem entender.

Ele caminha devagar e pega sua arma.

Quando ele chega em direcao a parede, a adrenalina inunda em minhas veias.

---- Socorro! Socorro! -

----... Onde você está? -

---- Estou presa... dentro da parede. Há um compartimento... por favor -
--- Puta que pariu! - Ele exclama - Onde? - Ele começa a tatear a parede em busca da parte secreta e em um momento eu vejo suas mãos nitidamente perto do pequeno buraco.

---... Aqui! por favor, rapido! -

Ele consegue encontrar o compartimento e puxa o pedaço de parede falsa.

Uma rajada de vento entra em minhas narinas, e inspiro forte me livrando da terrível opressão em meu peito dada por a ínfima quantidade de ar que eu possuía naquele lugar.

--- Meu deus! Venha mocinha... você está machucada? - Ele me ajuda a sair.

Estou tremendo da cabeça aos pés.

Olho para o homem, sem reação .

Se estou machucada? Sim... de um jeito que ninguém pode me curar.

--- Quem te prendeu aí? Você deve estar em choque... venha, vamos para a viatura, você estará segura lá -

O sigo em silêncio, nao acreditando que tudo acabou.

Meus pés roçam a grama úmida enquanto ando em direcao a viatura.

O homem me coloca no banco da frente.

--- O homem que fez isso com você está la dentro? -

Aceno.

--- Ok. Você está bem agora, tudo vai acabar logo. Me espere aqui certo? Tenho que ir em busca de meu parceiro -

Escuto suas palavras como se estivesse distantes. Um zumbido em meu ouvido faz com que tudo pareça confundivel.

Assisto em câmera lenta o homem sair em direção a casa de Jeff com uma arma na mão.

Jeff não sabe que ele existe.
Deve pensar que havia apenas um deles.

Ele vai ser pego de surpresa.

Irá mata-lo.

Queria me sentir feliz por essa conclusão mas só me trouxe uma dor profunda...

Minha cabeça transpassava todos os momentos que tive com ele.

Antes de eu libertar um de suas vítimas. Antes dele tentar me matar.

Nosso primeiro beijo.

Como ele se sentia inseguro com sua aparência, pensando que eu ia repudia-lo.

Quando ele cuidou de mim.

Nossa primeira noite juntos. E as próximas que seguiram.

Ele disse que não deixaria ninguém me machucar... Ele só não disse sobre ele mesmo.

"Minha luz "

Eu fui sua luz... uma vez.

Observo o carro em que estou procurando... tem que haver alguma por aqui.

A encontro.

Seguro a arma que provavelmente pertence ao primeiro policial. O metal gelado em contanto com minha pele faz eu estremecer. Se foi de frio ou da realização pelo que irei fazer, não sei dizer.

Eu posso ser sua luz novamente.

... Pela ultima vez.

A Prisioneira de Jeff The Killer Onde histórias criam vida. Descubra agora