Meteoros

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I hope that you see right through my walls/ I hope that you catch me 'cause I'm already falling

O encanto das palavras ditas nos momentos certos despertam algo diferente dentro de nós. Despertam o incomum.

Meu tique-taque, como uma bomba relógio chamada coração, estava prestes a explodir.

A única tranquilidade no ambiente era o vinho que subia a cabeça, corria pelas veias e a música que embalava o ritmo frenético do meu coração. Ironicamente, ela havia colocado para tocar um dos meus discos favoritos, uma das minhas músicas preferidas.

I said maybe...

O que veio a seguir, todos os toques, amassos, afagos, caricias, ternuras e ritmos, foram consequência da tranquilidade que fingíamos ter enquanto não sabíamos o que estávamos fazendo.

Pelo menos, eu não sabia.

Como não sei falar de sexo, falarei sobre o universo.

Éramos dois meteoros, colidindo, explodindo, cada centímetro, milímetro e molécula dos nossos corpos. Éramos a sintonia do universo, a gravidade que sustentava galáxias e civilizações desconhecidas. Éramos galáxias inexploradas, sendo exploradas no momento em que paramos de suspirarmos e passamos a colidirmos, a expandirmo-nos.

Assim, chegando ao esgotamento, entramos no êxtase. E tudo ficou em paz.

Assim, fechei os olhos, me desliguei do pequeno caos deitado em meus braços e adormeci.

...

Acordo assustado, com dor de cabeça, me sentindo estranho.

Dou uma olhada ao meu redor, apesar de não estar enxergando nada direito, mas sei que algo está faltando. Checo mentalmente, os acontecimentos do dia anterior; então, percebo o que não está la. Ela.

Meu coração para no meio do

Ela não está mais lá. Ela foi embora.

Droga!

Droga, droga, droga, droga, droga, penso, meio desesperado.

O que aconteceu? Ela tinha se arrependido?

Porra, eu estraguei tudo!

Ela havia se entregado para mim. Ou seria apenas um desvaneio meu? Meu coração se contorcia dentro do peito, como se estivesse sendo esticado, encolhido, apunhalado, destroçado. Já era de se imaginar que eu esperaria acordar com ela nos meus braços, com sussurros de mil desculpas, com olhos contendo galáxias e coisas inexploradas. Um novo mundo, em meus braços. Seria apenas fantasia os filmes, livros e músicas de romance?

Se analisássemos minuciosamente, as canções, folhas impressas e filmagens eram, nada mais do que, resultados de corações partidos. Corações roubados. Corações fantasmas.

Conclusão: Eu sou um babaca mesmo, meu Deus. 

- O que eu faço? O que eu faço? – digo, já de pé, andando de um lado pro outro.

Ela foi embora.

- O que eu faço? – repito, sentando novamente, com a cabeça entre as mãos.

Embora.

Então, tudo volta a superfície.

Os medos, os traumas, os problemas.

A dor.

Tudo que estava guardado, volta a superfície.

A tempestade começa, primeiro aqui dentro, onde os soluços são como trovões anunciando a chegada da chuva.

Depois, as lagrimas.

Só então, lá fora, o vento começa a revolver tudo que estava parado. Escondido.

Tudo volta a superfície.

Eu aperto minhas mãos, até os nós dos meus dedos ficarem brancos. Minha respiração está falhando, não consigo mais inspirar. Tento contar até 10, mas não funciona dessa vez.

Eu estava apavorado.

Ela. Foi. Embora.

Sem dar tchau, sem dar um beijo. Sem sentimentos.

Sentimentos.

Por que eu tinha que estar tão apaixonado por essa garota? Por que sempre foram 3 colheres de açúcar, chicles de canela e girassóis?

Girassóis!

Se eu me desculpasse, ela voltaria, não é?

É, ela voltaria.

Levanto, secando meu rosto com a parte de trás da mão, determinado a pedir desculpas e vê-la de novo. Pego o telefone e disco o número dela.

Nada.

Tento inúmeras vezes. Nenhum sinal dela.

Disco, então, um número diferente. Esse funciona.

- Olá, no que posso ajudar?

- Oi, quanto custa o buque de girassóis?

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