09. Rendendo-se

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@EdileneRodriguessilva  com carinho para essa linda ^^

::ANA::


— O que está acontecendo?

Perguntei, mesmo que fosse um tanto óbvio. Ferdinan colocou a mão delicadamente sobre minha boca indicando que eu ficasse quieta. Cautelosamente ele me ajudou a levantar pondo-se diante de mim como um escudo, não resisti ao desejo de tocar-lhe as costas másculas, por mais que cada célula do meu corpo pressentisse o perigo meu coração mantinha-se calmo. Olhando em volta, vários pares de olhos vermelhos começavam a surgir na escuridão, como se medisse cada movimento, Ferdinan puxou de dentro da roupa uma espécie de espada, sua lâmina brilhava e era como se feita de gelo, em um azul intenso e meio transparente, tal qual a empunhadura.

— Não saia de perto de mim. — Instruiu ele.

Em um instante tão rápido quanto um respirar as figuras desconexas se aproximaram todas de uma só vez, vindo em todas as direções, com a claridade pálida do fogo eu mal conseguia distinguir suas formas avolumadas e escuras além dos olhos cor de sangue, minha mão prendeu a camisa de Ferdinan, amassando-a entre os dedos no momento em que ele brandiu a espada e faíscas douradas explodiram ao nosso redor juntamente com ruídos guturais e estranhos, meio como gritos ou como engasgos, agudos, intensos, obrigando-me a encolher-me com as mãos nas orelhas na tentativa inútil de abafar aquele ruído horrível.

Por um momento a voz de Ferdinan me mandando levantar sobrepôs-se aos sons agonizantes, mas eu mal conseguia me mover, bem sobre mim a espada de gelo despedaçou outro demônio e uma nova explosão de faíscas douradas choveu, o som tornava-se cada vez mais alto conforme os monstros iam sendo eliminados, como se uns aos outros eles sentissem a perda como uma parte de si que morre. Sem suportar mais — e contrariando as ordens severas e os gritos ecoados de Ferdinan — eu me lancei em meio a floresta, correndo o mais depressa que pude, tentando orientar-me pelo instinto na busca do chalé de Ana, o único lugar que me vinha à mente que buscava por silêncio, conforto.

Enquanto corria, a incômoda sensação de que algo ruim aconteceria me dominou, temia por Ferdinan, eram tantos demônios e, no entanto, ele estava sozinho, sentia-me impotente, não havia nada que eu podia fazer além de fugir. Tropecei em uma pedra e caí, o rosto de encontro às folhas secas e galhos no chão, algo quente escorreu pelo meu rosto e senti a visão ficar turva por um instante. Sons indistinguíveis me cercavam, reuni toda minha força e pus-me de pé voltando a correr, desta vez, sem saber exatamente que direção seguia.

Sussurros. Eles vinham de todas as direções e preenchiam minha mente, maldições ecoando no vazio entre as árvores como fantasmas. Cada passo desesperado parecia fazer meu corpo pender de um cansaço estranho e tortuoso, nesse momento, com todas as forças que tinha, pensei em Ferdinan, seu sorriso perfeito, sua voz máscula, seu olhar, sabia que tinha de me salvar sozinha, ele estava ocupado tentando exterminar todos aqueles demônios que, verdade seja dita, estavam atrás de mim. Em um ponto da floresta avistei fumaça, provavelmente era a casa de Ana próxima, uma ponta de ânimo me impulsionou, mas antes que eu desse mais um passo sequer a massa negra avolumou-se diante dos meus olhos. Um tremor perpassou meu corpo e eu busquei às cegas qualquer coisa com que pudesse me defender. Inútil, eu sabia, mas é próprio do ser humano lutar até o último instante.

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