8. Viagem

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::ANA::

A sensação dos seus lábios era única. No momento em que os meus os tocaram ele simplesmente descarregou paixão no gesto como se o esperasse há muito. Uma infinidade de sensações crescia em mim, subindo pelo meu corpo como um animal rastejante, coisas que eu nunca imaginei pensar ou sentir me dominaram no instante em que sua língua invadiu minha boca e ele domou meus movimentos com maestria fazendo meu coração desmanchar-se em pedaços desconexos de um universo inexistente. Não entendia como eu podia querê-lo daquela forma, ao mesmo tempo em que tinha tanto medo de amá-lo. No instante em que, ofegante, ele afastou-se de mim foi como se eu estivesse nua em meio a uma tempestade, ainda assim seus olhos levavam fagulhas de desejo por todo o meu corpo, um desejo que não parecia certo sentir.

— O que... — Ele sorriu, bobo.

— Não pense mais em nada. — Pedi acariciando seu rosto. — Só fique ao meu lado.

— Sempre, minha menina. — Garantiu ele. — Sempre.

Apesar da hesitação em seu olhar eu não queria pensar naquilo, a premonição do meu próprio fim não era algo com o qual eu queria que ele lidasse em um momento já crítico como o que nós estávamos. Mesmo que eu não pudesse apagar o que vi e ainda não compreendia totalmente até que ponto era real e um pesadelo qualquer, naquele momento eu acreditava que tudo era possível. Eu tinha medo de dormir, medo que ao fechar os olhos aquelas imagens pavorosas tomassem minha mente novamente, mas Ferdinan me abraçou suavemente e, antes que eu me desse conta, caí na paz dos sonhos de uma época em que eu ignorava todos os perigos, em que a vida era apenas correr por campos, cantar aos pássaros e contemplar as estrelas. Uma época que parecia distante, mas na qual eu era livre porque me sentia assim.

 Uma época que parecia distante, mas na qual eu era livre porque me sentia assim

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Acordei um pouco melhor disposta no dia seguinte. Ferdinan não estava mais na cama quando abri os olhos e contemplei a claridade preenchendo o quarto onde eu dormira nos últimos dias, um cômodo simples com uma cama de madeira acolchoada por um enchimento de palha, penas e pano. De frente para ela ficava um pequeno roupeiro de pinheiro e, sobre ele, perdida em meio a uma camada de poeira e teias de aranha, se encontrava um baú pequeno trabalhado artesanalmente de forma ainda um pouco rústica. Uma janela abria visão para o céu e os galhos mais altos das árvores; ficava no lado esquerdo da cama. Sob ela uma cadeira onde Ferdinan passava as noites a velar meu sono. Nada mais além disso.

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