Capítulo 14

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As coisas tinham ficado bem piores depois do que aconteceu. Eu simplesmente tentava não dirigir nenhuma palavra ao Pedro, mas ao contrário de antes eu não me trancava no meu quarto, decidi que aquela casa era minha antes dele, então sentava no sofá da sala e trocava de canal na frente dele sem perguntar nada. E acredito que ele tinha um leve pressentimento de eu ouvi a briga dele por que ele também me evitava.

Tinha combinado de encontrar a Bel no shopping para compramos uma roupa nova para tão esperada festa da ONG. Enquanto me arrumava, não conseguia parar de pensar em toda aquela revelação na noite da discussão entre Pedro e Catarina. Eu me sentia extremamente magoada e não me perdoava por ter baixado tanto a guarda para o inimigo achando, por um momento, que ele poderia ser um aliado.

Pelo menos fazer "consumoterapia" no shopping vai me deixar mais feliz e certamente mais bonita para a festa de sábado. Quem sabe eu esteja precisando mesmo é de beijo na boca! Isso! ... Ai, Rodrigo... Se você não ficasse mentindo pra mim o tempo inteiro...

Olhei de rabo de olho para o aparelho celular que ainda estava em cima do meu criado mudo. Eu não tive coragem de afogar o aparelho na privada, mas também não devolveria ao Rodrigo!

Já que ele disse que perdeu o aparelho eu estou garantindo que isso de fato aconteça!

Eu bem que tinha tentado fuçar para encontrar alguma coisa, mas não tinha nada! Nem mensagens, nem histórico de chamadas! O espertinho apaga tudo! É muito cachorro. Balancei a cabeça, na intenção de afastar o Rodrigo da minha mente. Bora partir para outra, Lia!

Assim que deixei o quarto, encontrei Pedro no sofá jogando videogame. Parece que ele também não tinha aula aquela tarde.

Porque ele não vai rastejar atrás do grilo falante em vez de ficar aqui gastando luz a toa com esses jogos idiotas? Bem...Como se eu realmente me importasse. Tentei sair sem ser notada, mas não fui bem sucedida.

- Lia, eu estava querendo conversar com você! – ele já levantou e veio na minha direção.

O que esse garoto, quer conversar comigo? Merda! Virei de costas para a porta e com uma cara de desgosto respondi.

- Fala, Pedro. O que você quer? – E porque ele ainda continua me chamando de Lia se a Bel não está por perto? Falso!

- Não precisa fazer essa cara, eu não vou te pedir para matar ninguém! – Pedro falou sorrindo.

Porque ele está me tratando bem? Dá vontade de gritar: Para de fingir!

- Fala logo, Pedro, eu não tempo. A Bel já está me esperando no Shopping. –Eu não iria ser mais agradável.

- Ela não vai morrer em olhar umas lojas até você chegar – me disse ficando serio - e é sobre ela mesmo que eu quero falar.

Será que ele vai confessar que tudo isso é um teatro e que longe da Bel a gente não precisa fingir...

-.... É que o aniversário dela está chegando e eu estava pensando em fazer uma festa surpresa! São 22 anos! Sabe como ela é com essas datas!

- ôo..eu me lembro bem – comentei irônica

- Então – Pedro continuou me olhava estranho - eu gostaria de saber se posso contar com sua ajuda para organizar tudo. Estava pensando em fazer aqui mesmo no apartamento. Eu cuido das comidas e bebidas e você me ajuda com o cardápio, os convidados e, é claro, para enrolar a Bel no dia!

Então é isso... Como pude esquecer o aniversário da Bel!?

– Claro! Eu ajudo sim. Realmente não dá pra passar em branco uma data tão importante para a Bel. Pode contar comigo. Agora eu posso ir? Já acabou?

Pedro fez uma cara de que não estava entendendo nada e disse que sim...

No caminho de ida para o shopping, fiquei pensando na mudança brusca da "minha relação" com Pedro. Parecia que um castelo de cartas de sentimentos havia desmoronado. Tinha sido difícil revelar simpatia por ele e ao descobrir que tudo era uma encenação era como se eu estivesse sendo a grande boba da corte. Mas o aniversário de Bel era muito importante e eu não deixaria a nossa não-amizade acabar com a perspectiva de minha amiga ter realmente uma grande festa!

O pior é que por mais que eu tentasse, Pedro sempre aparecia nos meus pensamentos. Viajava nas minhas lembranças quando senti meu celular vibrar dentro da bolsa. Peguei o telefone e o identificador de chamadas mostrava um número desconhecido. Curiosa, atendi a ligação...

- Alô...

- oi, Gata! Como você está?

Aquela voz! Aquela voz virando o meu mundo de cabeça para baixo. Rodrigo! Mas meu subconsciente gritava: Não seja boba, Lia! Segura essa marimba!

- Quem está falando? –respondi como se não soubesse quem estava do outro lado da linha. Como se já não estivesse com as pernas bambas

- Rodrigo!! Já esqueceu de mim? – sua voz tinha um charme a mais e um pitada de cinismo.

- AH! Rodrigo! Você ainda existe? Achei que tivesse sido abduzido ou algo assim...

Uma gargalhada no outro lado da linha. Eu quase não respirava. Porque eu não consigo ser dura?

- Nada! É que eu tive que comprar um celular novo, como você sabe eu perdi o antigo... – no meu quarto.

- AHAM...

- ... E eu não consegui mais encontrar o Thiago na universidade para pedir seu número...

- SEI! – Até onde ele podia mentir mais?

- ...Mas então, você vai na festa de sábado daquela ONG lá da universidade? Recebi o panfleto da festa e imaginei que você fosse já que era sua amiga Bel junto com uns outros caras que estavam convidando a galera no campus...

Merda...mil vezes merda! Pessoalmente eu não iria conseguir resistir..

- Eu vou sim, Rodrigo. A Bel me obrigou a ir, eu não tenho opção. – falei tentando ser o mais indiferente possível e falhando miseravelmente!

-Sei... então eu posso transformar a noite em algo mais tolerável... estou com saudades... – conseguia sentir sua voz me dominando mesmo longe.

Eu não posso ceder... não de novo...Respirei fundo, tentando recobrar a consciência.

- Não acho que seja uma boa ideia, Rodrigo. Na verdade acho que a gente não deveria mais se ver! Você não está com saudades de mim de verdade, você só está sozinho e quer uma boca pra beijar! – Soltei de vez!

- Porque você acha isso? Não acha que os momentos que passamos foram especiais? – Rodrigo tentava argumentar com sua voz persuasiva...

Amostras grátis do paraíso, Rodrigo... Se mantenha séria, Lia, não vá fraquejar.

– Mas foram só momentos, Rodrigo... Eu estou cansada de ser alguém que só aproveita momentos com você...

- Eu nunca te prometi nada diferente, Lia... - Agora eu não era mais gata?Agora ele não gostou de ser pressionado?

- Eu sei que não. E eu não te culpo por isso... Eu só não quero mais, Rodrigo. – disse no final como um desabafo - Me deixa em paz!

Desliguei o telefone na cara dele. E resisti bravamente enquanto o telefone vibrava na minha mão. Mas não dava mais pra me sentir um lixo a cada vez que Rodrigo me abandonava no dia seguinte aos tais momentos maravilhosos. Eu não queria ser a "amizade colorida" de ninguém.

Mas eu também não poderia fazer feio. Agora sabia que Rodrigo estaria lá então teria que mostrar a ele o que ele perdeu!

Preciso estar linda nessa festa! Vou deixar Rodrigo bem arrependido!

O Reverso do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora