Capítulo 3

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Minha cabeça girava. Pedro, não... tudo menos Pedro... Foram séculos até eu finalmente conseguir não ter que conviver com ele durante as férias de verão ou não perder a minha melhor amiga para ele nas férias de verão...

Ele é insuportável, arrogante, implicante e tem um cabelo horrível... Sem falar naquele aparelho freio de burro! Se bem que faz alguns anos... e na ultima vez que o vi usava apenas o aparelho fixo... Tudo bem ele provavelmente não usa mais aparelho... Mas com certeza não mudou nos outros aspectos, deve continuar o mesmo garoto imbecil de sempre.

Meu ódio pelo Pedro começou há muito tempo, desde SEMPRE... E o sentimento era recíproco. Odiava o fato de ele ser o primo preferido da Bel, odiava a forma como ficava em segundo plano quando ele estava junto. Mas o pior mesmo, o pior de tudo, era a forma debochada com que ele pronunciava cada sílaba do meu nome.

 "Au-ré-lia...é o seu nome não é? Quantos anos você tem? 300?" dizia ele atrás de seu freio de burro horripilante.

- Imbecil! – e saia correndo chorando para me esconder em algum lugar onde ninguém me visse e eu tivesse que explicar o porquê de tudo.

Fiquei gelada só de lembrar do 11º aniversario da Bel. Ela sempre teve essa coisa meio esotérica, meio alternativa. Quando fez 11 anos resolveu que sua festa tinha que ser extremamente planejada porque como ela dizia:

- Lia, 11 anos é uma data significativa e deve ser algo muito importante já que são dois números iguais e isso só vai acontecer de novo daqui a 11 anos!

Bel obrigou os pais a promoverem uma festa na fazenda dos avós no interior porque o tema escolhido era, obviamente, os bichos da floresta e ela queria que todas as crianças tivessem contato com bichos de verdade e não aqueles de papel ou E.V.A. que eram colocados nas festas das outras crianças. Foi uma confusão danada conseguir autorização dos pais de todas as crianças do condomínio e colocar elas todas num ônibus para passar um dia inteiro na fazenda comemorando os 11 cabalísticos anos de Bel.

Mas a festa foi, por fim, muito divertida! Acho que os pais de Bel nunca haviam visto ela sorrir tanto! A cada minuto ela encontrava um bicho diferente e queria que todos os amigos vissem e tocassem.

Mas a festa não contava apenas com a presença dos nossos amiguinhos do condomínio, mas também com todos os primos de Bel que moravam no interior, o que fez o aniversário se transformar num big evento! A fazenda era dos avós paternos de Bel e o pai dela tinha seis irmãos, cada um com pelo menos dois filhos! Eram muitos primos!

Mas só um primo incomodava... Só o mais detestável de todos: PEDRO, o piolhento! Tá ele não tinha piolho, foi só uma história que eu inventei. Mas toda grande mentira vira verdade, né!? E ele me detestava também! Ficava dizendo que as minhas pernas eram tortas. Ele era um metidinho, além de tudo, feio de morrer com aquele aparelho "freio de burro" que segurava aquele monte de dentes horrorosos que ele carregava na boca. Eu sempre tive a sensação que ele cuspiria um litro de baba em mim a cada palavra que pronunciava! Isso sem contar naquele cabelo estranho que ele mantinha sempre despenteado. Tenho certeza que ele não lavava aquele cabelo a séculos.

Estava tudo bom demais para ser verdade! Então as coisas começaram a piorar quando alguns garotos mais avançadinhos, liderados por Lucas, que já era cafajeste naquela idade, resolveram agitar um "pera, uva, maçã, salada mista".E todos foram obrigados a participar!

E porque eu sempre tenho que ser metida a mais esperta? Quando percebi já estava vendada!

- "É esse?" "E agora? É esse!"

- Sim! – nessa hora já estava suando e desesperada querendo sair daquela situação logo, mas quando tirei a venda dos olhos meu coração parou. Me deparei com ninguém mais ninguém menos que Pedro!

- NEM MORTA eu beijo o monstro da baba! Eu vou me afogar na baba dele! - Soltei um grito de horror em alto e bom som.

O som das risadas de todos ocupou o espaço eu só sentia o olhar de ódio dele em mim.

- Eu que NUNCA iria beijar você AU-RÉ-LIA nem que você fosse a ultima mulher da Terra - Pedro gritava por cima do barulho das risadas.

Ele se aproximou de mim, olhou bem no fundo dos meus olhos e disse baixo: - Você vai me pagar Aurélia, nem que dure 1000 anos!

Pronto! Guerra Declarada. Desde daquele dia Pedro fazia questão de transformar minhas férias de verão com Bel na fazenda em um grande tormento, colocando bichos na minha cama, enchendo a minha comida de pimenta, me empurrando no lago completamente vestida e mais um monte de outras coisas.

Já faziam tantos anos, mas mesmo ali no meu quarto com o vento quente que entrava pela janela, sentia meu corpo gelar com a simples lembrança dele e a sensação de que os próximos meses seriam péssimos! Principalmente por que Bel já havia avisado: no sábado ele estaria ali! Só mais dois dias livre dele, só mais dois dias de sossego... Eu precisava fazer alguma coisa.

O Reverso do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora