Capítulo 31

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Seis meses depois...

Já fazia seis meses desde a nossa noite no celeiro da fazenda, e nesses últimos meses minha vida tinha sido mágica. Era difícil acreditar que algo assim pudesse acontecer na vida real. Me faz lembrar de Aurélia, a de José de Alencar que achou que pudesse esquecer do amor, se vingar dele pelo que tinha feito com ela mas no fim percebeu que nada do que fez valeu a pena e que não poderia viver longe da pessoa que ela amava.

Assim que voltamos para nosso AP nós três estávamos parecendo umas crianças em época de Natal. Mal conseguíamos conter o sorriso no rosto. Pedro e eu por não precisar esconder de mais ninguém o nosso namoro e Bel por enfim ter nós dois ao lado sem brigas e implicâncias.

Catarina nunca mais me procurou. Esse era um grande medo meu ao voltar para a cidade universitária. Mas acredito que a vergonha de ter mentido e dissimulado uma história fizeram com que ela se afastasse completamente. E como a universidade era muito grande, era relativamente fácil ficar afastado de uma pessoa, principalmente sendo ela de um outro curso completamente diferente do nosso. Bel chegou a cruzar com ela nos corredores dos laboratórios algumas vezes, mas Catarina sempre a ignorava, fingia que não conhecia. Melhor assim.

Pedro tinha conseguido uma bolsa de pesquisa, o que acabou gerando bons contatos para ele dentro da universidade. Eu também estava dedicada a ter outras opções na minha vida universitária, virei assistente em um laboratório, o que me ajudava a receber uma graninha extra e também a desenvolver planos futuros com pesquisas.

Naquela tarde o AP estava animado, corríamos para todos os lados, carregando roupas e definindo os últimos detalhes, afinal era a colação de grau do Pedro.

Entrei no quarto de Pedro segurando sua beca e o encontrei abotoando sua camisa social em frente ao espelho.

- Ei – disse entrando, já vestida para sair - trouxe sua beca e sua gravata – Pedro parou e meu olhou.

- Você está linda – Eu realmente estava, modéstia a parte. Tinha perdido horas de passeio no shopping para encontrar o vestido perfeito para a ocasião, apesar de boa parte da família do Pedro me conhecer, eu ainda era a nova namorada. A menina que veio depois da "Barbie todos os fios de cabelo no lugar". Estava com um vestido fluido, lilás, sem muitos decotes, mas que deixava meu colo à amostra na medida certa, e com um cinto douradinho que marcava minha cintura. Deixei o cabelo solto com cachos discretos na ponta e fiz uma maquiagem bem light. Tudo para passar uma boa impressão.

- Será que a sua família vai gostar? – disse ainda tensa – estou tão nervosa, eu sei que sua mãe me odeia!

- Ei! Pode parar! – ele chegou perto de mim e colocou as mãos na minha cintura – ela não te odeia, além do mais ela já esta conformada com a notícia.

- Ah sim, ela não me odeia – eu disse fazendo biquinho – ela só odeia o fato de eu fazer o filho dela não voltar para casa.

Desde o fim de semana passada, quando os pais de Pedro descobriram que ele não voltaria para casa e não ocuparia a vaga de emprego na empresa do amigo do seu pai, as coisas não andavam muito bem. A verdade é que com a pesquisa que ele havia desenvolvido no ultimo semestre e a excelente nota na prova do programa de mestrado, Pedro havia conquistado uma bolsa de Mestrado, e assim ele poderia continuar sua vida acadêmica, ali mesmo, continuaria morando em nosso apartamento por mais dois anos.

No inicio fiquei a apreensiva porque não queria que ele mudasse seus planos por mim. Não queria ter o peso de que ele deixou tudo para ficar comigo. Mas ele me convenceu que isso não tinha haver comigo, que ele realmente queria fazer o mestrado, e não estava a fim de ir trabalhar com o amigo dos seus pais, e que o fato de eu estar ali era só um bônus. Mas os pais dele não aceitaram tão fácil assim, eles tinham acompanhado de perto o sofrimento do filho no tempo que passamos separados, e para eles a escolha de ficar na cidade universitária parecia uma repetição de decisões passadas.

- Eles já aceitaram – seus olhos verdes ainda estavam em mim – alem do mais quando perceberem que não vão ter que desembolsar mais tanto dinheiro para me sustentar aqui, eles vão cair na real. Com a bolsa eu vou poder me virar sozinho. Não dá pra ter luxos, mas dá pra sobreviver até eu conseguir meu título.

- Acho melhor você terminar de se arrumar – disse beijando – não quer chegar atrasado para pegar seu diploma, hein, meu Engenheiro?

- Ei! Pode tirar essa mão da minha irmã – Pedro me largou e olhou para a pessoa parada atrás de mim.

Era Torquato. Meus pais mais uma vez estavam viajando na 3.589.695.625 lua de Mel e meu irmão veio para ir a formatura do Pedro representando a família. Ao contrario da família de Pedro, que veio em um mutirão e ficaram em um hotel, Torquato ficou conosco no AP.

O que tinha tornado a cabeça do Pedro um inferno, já que essa era a primeira vez que nós víamos desde minhas férias em NY e Pedro tinha absoluta certeza que Torquato o detestava.

- Torquato! – disse – Pode parar!

- Ei! Eu tento tá – disse rindo – mas esse cara não consegue deixar as mãos longe de você! Bel e eu estamos esperando vocês na sala, não demorem. – Torquato então retornou para a sala nos deixando a sós.

- E você tem medo da minha mãe! – Pedro disse colocando a gravata – Seu irmão é assustador!

A verdade é que a culpa era toda minha, primeiro ter chorado nos ombros de Torquato boa parte das minhas férias, e depois por que eu tive a brilhante ideia de dizer que Pedro havia ficado com medo quando disse que Torquato viria nos visitar.

- Ele vai ficar aqui em casa mesmo né? – ele me disse assustado - Sei não Aurélia, acho que ele vai querer me matar!

Torquato tinha adorado, e desde hora que tinha conhecido o Pedro tentava fazer o papel de irmão mais velho protetor. Eu sabia que era brincadeira dele e falava para o Pedro relaxar, mas ele não conseguia. Continuava achando que meu irmão iria entrar no quarto dele enquanto dormia com uma serra elétrica. Ao contrário dos meus pais, que já estavam tão apaixonados pelo Pedro como eu.

Minha mãe sempre que falava comigo, só perguntava dele e ficou muito feliz quando disse que ele ficaria para fazer o mestrado.

- Ai Lia, que bom! – disse com carinho – Não consigo imaginar Pedrinho longe de você.

Às vezes tinha até ciúme de tanto que ela o paparicava. Ciúme mesmo! Sou ciumenta fazer o que?!

O namoro de Bel e Alberto estava cada dia mais sério, ele tinha se mostrado um ótimo amigo, cada dia mais próximo de nós. No dia dos namorados ele fez uma surpresa e apareceu com a cabeça raspada. Quase morri quando o vi sem os dreads e a Bel Ficou radiante com isso.

Thiago, como sempre, está apaixonado. E a bola da vez era uma menina da republica da Catarina, o nome de dela era Mirella, fazia medicina, e mesmo parecendo apaixonadinha, sabia que o namoro não iria muito para frente. Mas o fato de Mirella morar com a "Barbie Médica" acabou me dando informações privilegiadas. Não que eu me importasse com o que aconteceu com ela. Ai para quem você esta mentindo, Lia? Eu queria saber sim!

- Lilizinha... Você não sabe a fofoca da Catarina... – Thiago já me contava com o sorriso na cara.

- Fala Thi... – sim eu estava mega curiosa

- Ela esta namorando uma carinha que esta formando em medicina – disse – parece que é filho de um cardiologista famosão. A Mirella disse que ninguém na república suporta mais ela falando do namorado novo!

- Ai que bom – sinceramente queria que ela fosse feliz – será que ele aguenta o tanto que ela fala? O cara vai ser médico né, tem que ser paciente! Boa sorte para ele!

Pedro e eu continuávamos a nossas vidas, sem promessas a serem cumpridas, a não ser continuar a fazer nosso amor crescer. A gente tentou não ficar bolando um milhão de planos para o futuro. A gente não tinha medo do que poderia acontecer nele. Sentíamos uma paz enorme em estarmos um com o outro. Nós sabíamos que aquilo não se quebraria facilmente. Eu sentia que o amor que eu tinha por ele era grande. E me sentia amada mais que tudo.

Eu era feliz assim, na nossa casa, no nosso sofá, no nosso mundo. E agora no painel de fotos em cima da cama do Pedro tinha uma foto minha no celeiro, no dia do nosso jantar. E no meu pulso uma pulseira com uma pequena borboleta pendurada.

FIM 

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