Capítulo 5

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Apenas um nome me vem à cabeça. Julie. Seria a explicação mais plausível, mas isso sempre me pareceu tão impossível. Eu tinha certeza que isso aconteceria, talvez, em um universo paralelo, sei lá...

Será ela? Aqui na minha frente, a menos de um metro de distância? Não... não! Qual a probabilidade de isso acontecer? Uma em um bilhão ou algo parecido.

Meus olhos encontram um colar ao redor de seu pescoço. Não tenho mais dúvidas, seria muita coincidência. Ela tem a outra metade do Supremo Fundamental Chinês, o lado Yin, que simboliza a escuridão, a razão.

Ela já entendeu, consigo ver em seu olhar que ela sabe quem eu sou. O que eu faço agora? Nunca nem imaginei nosso encontro, muito menos o que eu iria fazer. Eu apenas pensava nela, em como ela seria. Somos realmente muito parecidas, porém imensuráveis detalhes nos fazem diferentes.

Julie usa o cabelo preso em um coque firme; lembro que meu pai nunca me deixava usar o cabelo assim, porque mamãe adorava prender o cabelo daquele jeito. Agora sei por que era tão difícil para ele. Se Julie sorrisse agora, seria a cópia exata de nossa mãe. Sua pele é mais bronzeada que a minha, o que a deixa com uma bela aparência. Tem os ombros largos, a postura correta, talvez praticasse algum esporte. Seu corpo é esbelto, um exemplo de saúde. Ela tem os mesmos olhos que eu, os mesmos olhos de papai. Verdes e brilhantes.

Não sei o que eu esperava. Um abraço, talvez. Um aperto de mãos, possivelmente. Um sorriso, quem sabe. Tudo que eu ganho é um sorriso falso.

— Então você sobreviveu — diz ela, sem demonstrar nenhum sentimento.

— Ainda estou tentando — respondo.

— Pelo que minha tia dizia, achava que, depois do fim do mundo, alguém criada pelo Albert jamais chegaria até aqui.

Eu devia imaginar. Era de se esperar que nossa tia fizesse Julie acreditar que nosso pai era um homem ruim. Assim como papai me fez acreditar que tia Yolanda era uma cobra.

— Nosso pai me criou muito bem.

Seu pai. Eu não tenho nenhum! — rebate.

— Não sabia que acreditava em cegonhas.

Quero voltar no tempo, retirar o que disse. Ela se aproxima e ficamos cara a cara. Não gosto de briga, mas, diferentemente do que eu faria, não recuo. Eu a encaro de volta, sem medo. Apesar de ser mais forte e robusta, Julie tem a mesma altura que eu.

— Não caçoe de mim, garota.

— Não me dê motivos para isso.

O cara grandão nos separa e conversa com ela.

— Lembra o que conversamos sobre controle? — diz ele.

— Você escutou o que ela disse.

— Mas você também não foi muito legal.

Dou uma olhada para trás e vejo Thiago com os olhos arregalados, totalmente surpreso com a situação. Bob e Carol estão concentrados em olhar um para o outro de forma ameaçadora, aposto que ela quer pular no pescoço dele e vice-versa.

— Depois que essas coisas se dispersarem, vocês vão embora. Não precisamos de vocês — ao dizer isso, ela vira as costas e vai embora antes que eu possa dizer mais alguma coisa.

— Não ligue pra ela, vocês podem ficar se quiserem — avisa o grandão.

— Boa sorte em tentar convencer a Julie — Bob passa por nós e segue a colega.

— Desculpe, mas me parece que não vai dar certo — digo a ele.

— Lamento por isso — ele faz uma pausa. — Eu sou o Terry.

Morte aos LobosOnde histórias criam vida. Descubra agora