Capítulo 8

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Deixo as cartas de Carrie exatamente onde estavam, talvez outra pessoa que passe por aqui tenha a oportunidade de conhecer esta história.

Volto para a sala e encontro Carol, ela está escrevendo algo em seu caderno. Thiago logo aparece.

— É um bom lugar pra passar a noite — diz ele.

— Parece bom. Até porque não daria tempo de voltar pra estrada principal ainda hoje — lembro.

— Eu vou procurar alguma coisa pra fazer a fogueira — avisa Thiago.

— Caroline, pode me ajudar a tapar as janelas?

Ela está muito concentrada lendo algo no caderno, e como Thiago saiu, eu fico no vácuo. Eu me viro com as janelas sozinha, e ainda é cedo para isso. Sigo na mesma direção para onde Thiago foi. Eu o encontro na cozinha, com algumas revistas na mão e ainda vasculhando os armários.

— O que está procurando? — pergunto.

— Algumas panelas, pra apoiar a grelha.

— Vai usar a do fogão? — é a primeira ideia que me ocorre.

— Sim — responde sorrindo —, ainda bem que ninguém se preocupou em levar o forno dele.

Sorrio junto com ele, é inevitável.

— O que Carol está fazendo? — pergunta.

— Lendo alguma coisa em seu caderno, ou escrevendo — digo.

— Ela está muito concentrada?

— Demais — respondo pensativa.

— Odeio quando ela fica assim, ela esquece de tudo e de todos.

Eu nunca havia presenciado a relação de Carol com aquelas anotações, e penso que talvez ela saiba o que está fazendo para se dedicar tanto a isso.

— Às vezes fico preocupado com isso, sabe? Eu sei da capacidade dela, é claro, mas não acho que consiga algo de útil com isso — diz ele.

— Mas o quê exatamente ela escreve ali?

— Coisas sobre o apocalipse, sobre as pragas, o seu comportamento, absolutamente tudo.

— E por que você acharia isso inútil? — arrisco perguntar. — Não me parece uma má ideia.

Ele põe as revistas na bancada e suspira. Olha para mim com seriedade, e essa é a primeira vez que o vejo completamente sério.

— Amy, mesmo que ela faça algum tipo de descoberta, o que acontece depois? Ela cria uma cura e o mundo volta ao normal? — ele pára para que eu possa acompanhar seu raciocínio. — Ela não pode fazer nada sem medicamentos, equipamentos, energia e treinamento. Carol passou pra faculdade de medicina, e é muito inteligente, mas, você sabe, não teve tempo de estudar pra profissão de médica.

Eu acabo ficando em silêncio, totalmente envergonhada por não saber o que responder. Ele tem toda razão, mas ainda assim eu queria ter um argumento pra defender as motivações de Carol para isso. Mas eu não tenho.

— Eu só queria te pedir pra não comentar sobre essas coisas com ela — continua. — Nem sobre o que ela faz. Eu quero que ela tenha alguma esperança, mas não desse tipo.

Thiago volta para a sala e me deixa sozinha com meus devaneios. Carol está mesmo tão errada assim? Errada talvez não, mas equivocada em achar que isso chegaria a algo. E ele também tem razão em não querer que alimentem as esperanças dela, seria muito ruim ela esperar tanto por uma coisa que nunca terá: a solução para o mundo.

Morte aos LobosOnde histórias criam vida. Descubra agora