Capítulo 2

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Observo Helena durante todo o caminho até o tal acampamento. Ela tem aproximadamente 29 ou 30 anos, morena, olhos claros; realmente muito bonita. Ao olhar para suas mãos firmes no volante, percebo algumas feridas cicatrizando nos nós de seus dedos. Helena provavelmente quebrou a cara de alguém, a mais ou menos uma semana. Fico mais nervosa do que já estava, me parece que por trás deste rostinho bonito existe uma mulher ameaçadora. Ela possui músculos notáveis e é bem corpulenta, talvez fosse praticante de alguma arte marcial. Ou até mesmo fosse do exército ou algo parecido. Tomo nota mentalmente: "Nunca me desentender com Helena".

— Chegamos – avisa.

Rapidamente salto da caminhonete. Olho para os dois lados da pista, e nenhum sinal de abrigo. Meu coração acelera, e minha mão direita pousa involuntariamente em uma de minhas facas. A primeira coisa que penso é que fui trazida para algum tipo de armadilha. Porém, quando Helena sai do veículo, seu olhar permanece calmo e, ao perceber o que pretendo fazer, ela levanta as mãos e dá um belo sorriso.

— Calma, Amy. Precisamos adentrar um pouco na floresta para chegar. Garanto que não farei nada contra você.

Algo em seu comportamento me chama a atenção. Helena se fez de vítima, dando a entender que o problema aqui sou eu, e que ela só quer ajudar. Afinal, quem trataria mal uma linda mulher que sente-se culpada por não ter correspondido às suas expectativas? Apesar de participar de seu joguinho, sei que ela não é boba.

— Desculpe – digo nervosamente.

— Tudo bem, pode vir atrás de mim se você preferir.

Afirmo com a cabeça, e ela segue na minha frente, não sem olhar para trás de vez em quando, querendo ter sob controle cada um dos meus passos. Helena é mais perigosa do que eu imaginava.

Vejo o local antes que ela tenha tempo de avisar, e não posso negar que fizeram um bom trabalho. Há homens e mulheres cercando o lugar, portando diversas armas brancas. Uma pequena minoria têm armas de fogo. Eles protegem dezenas de barracas, que estão espalhadas desordenadamente. Pequenos varais foram levantados, assim como tendas que servem de refeitório e enfermaria. Mas outros detalhes chamam minha atenção.

Todo o perímetro está sendo vigiado por pessoas que não aparentam estar cansadas ou com sono. Ou seja, eles têm gente suficiente para trocar de turno quando quiserem, e com freqüência. Existem muitos vestígios de fogueiras apagadas, por todos os lados. Vejo voluntários servindo comida para as pessoas. Tudo indica um padrão.

Isso significa que eles estão aqui há muito tempo, tempo suficiente para criar uma rotina. O que não é nada bom. As pragas rastreiam com facilidade acampamentos que permanecem na mesma localidade. Eles vêm sentindo os cheiros das pessoas que hoje encontram-se aqui, provavelmente há semanas. Como alguém pode não ter pensado nisso antes? Talvez achem que estão bem armados e, com isso, protegidos. Mas se um bando os pegasse desprevenidos, seria o fim. Finalmente decido que não irei ficar. Mesmo que demore, as pragas já estão no encalço deles, e eu não quero estar aqui quando chegarem.

— Você pode ficar aqui, por enquanto.

Helena havia me guiado até uma pequena tenda, onde encontra-se uma grande mesa e algumas cadeiras.

— Vou pedir para alguém trazer um pouco de comida para você e depois levá-la à uma barraca que esteja disponível.

— Obrigada.

Sento-me e Helena vai embora. Ainda no meu campo de visão, encontra com dois caras. Mas dá toda a sua atenção somente para um deles. Ele tem um sorriso travesso, é alto e bem magro; talvez tenha uns vinte e dois anos, pele clara e seus olhos escuros brilham mesmo de longe. É engraçado como seu cabelo se movimenta por causa do vento, ele precisa de uma aparada. Eles conversam animadamente e ela aponta com a cabeça para mim, ele faz que sim com a cabeça , despede-se dela e vem em minha direção. Ela agora fala com o outro cara, mas continua olhando para o outro mesmo quando ele está de costas. E então eu entendo. Ela está caidinha por ele. Ela perde a pose de durona quando ele está por perto, e me admira que ela prefira homens mais novos. Mas ao menos eles têm a mesma altura, eu devo ter a idade dele, mas sou bem menor.

Morte aos LobosOnde histórias criam vida. Descubra agora