Não faço ideia de que horas eram quando fui dormir ontem, mas sei que foi bem tarde, provavelmente de madrugada. Bob colocou diversas músicas para nós, e dançamos uns com os outros, revezando os pares. Suamos tanto que o frio não mais existia. Ficamos tão cansados que simplesmente nos jogamos no chão e dormimos.
Abro os olhos, ainda sorrindo com a lembrança. O sol aparece lá fora e já são mais de sete da manhã. Eu sou a única que já acordou. Recosto-me na parede, olhando para todos. Thiago dorme do meu lado esquerdo, e Julie está perto do meu pé, do lado direito. Terry dorme mais afastado, perto da janela, assim como Zac. Mas a surpresa é Carol e Bob. Eles não estão sob o mesmo cobertor, cada um está usando o seu, mas estão praticamente colados. Apesar de não terem se dado muito bem quando se conheceram, agora parecem bem próximos.
Há alguns dias, Thiago me disse que eu tinha uma família, e que eles eram essa família. Sinceramente, duvidei muito daquilo, principalmente por causa de Julie. Mas hoje, depois do apoio que me deram quando perdi o dedo, depois dos sorrisos de ontem, tenho certeza de que eles são a minha família. Não existem mais dúvidas quanto a isso. Antes, eu sacrificaria minha vida apenas por Carol e Thiago, mas agora eu faria isso por todos eles. Até mesmo Zac, que se mostrou tão gentil quando o conhecemos.
Thiago se mexe ao meu lado, ameaçando acordar. Olho para onde Bob e Carol estão dormindo, e decido acordar Bob, porque não sei qual seria a reação de Thiago se visse a cena que estou vendo. Ele sempre me pareceu um irmão muito ciumento. Levanto-me devagar e sigo até eles. Cutuco Bob levemente, e espero que ele acorde. Depois de alguns segundos, em que ele acorda de fato, vê Carol ao seu lado e parece envergonhado.
— Desculpa te acordar assim — falo baixinho. — Thiago ia pirar se visse vocês.
— Obrigado — diz sem jeito. — Mas eu juro que não foi proposital.
— Ah, é claro que não — digo enquanto sento no chão.
— Ei, estou falando sério.
— Não precisa ficar preocupado, Dom Juan. Não vou contar pra ele — digo indicando Thiago com a cabeça.
Bob olha para mim e, de repente, franze o cenho, numa expressão de surpresa.
— O que foi? — pergunto.
— Você parece... diferente.
— Diferente como?
— A sua terrível feição sombria — diz sorrindo. — Ela sumiu hoje. É por que um pouco de música sempre faz bem, eu acho.
— Feição sombria? — pergunto deixando transparecer minha mágoa.
— Tudo bem, desculpa. Não foi bem o que eu quis dizer — explica ele. — É que você te essa expressão de ódio constante, como se fosse dilacerar qualquer pessoa a qualquer instante.
— Quando nos conhecemos, você também usou um olhar nada amigável — replico.
— Me dá um desconto: ver você ali, igualzinha a Julie, me deixou um pouco maluco. E depois de lá, eu fui ruim pra vocês?
Não demoro a responder:
— Não. Mas eu também não fui uma má pessoa com vocês.
— Realmente. Porém — enfatiza —, esse seu semblante ameaçador nunca mudou enquanto esteve com a gente. Hoje, agora, eu vejo a Amy, e não a personificação do mal dela.
Eu não imaginava que toda a desconfiança que sentia para com que eles ficou assim, tão visível. Sinto-me péssima.
— Desculpe por isso — é o que consigo dizer.
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Morte aos Lobos
FantascienzaO mundo que conhecemos já não é mais o mesmo. Grandes e importantes países foram derrubados, verdadeiras fortalezas não suportaram perder o seu tão precioso mundinho que girava em torno do dinheiro. Os cientistas não conseguiram cumprir suas promess...