Capítulo 13

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No momento em que o garoto atinge o solo, escutamos o barulho ensurdecedor da porta sendo quebrada, juntamente com os móveis que a bloqueavam. O rapaz leva o dedo indicador aos lábios, pedindo silêncio. Ninguém ousa fazer o oposto. Olhamos para a janela, apreensivos.

E lá estão eles, farejando o local de onde pulamos, sedentos por carne humana. Vejo suas narinas dilatando-se de prazer por sentirem nosso cheiro. O vento sopra fortemente, entregando nossa localização. Um deles sobe no parapeito. Meu coração acelera. Mas, ao invés de pular para nos alcançar, inclina-se para frente, encontrando apenas o vão entre os prédios. Seus companheiros, acreditando em seu êxito, fazem o mesmo. O que escutamos a seguir é uma série de sons grotescos, tanto de ossos quebrando quanto de membros sendo esmagados por conta do impacto. Quando o último salta, o garoto vai até a beira, conferindo o estrago. Ele vira-se para nós, e sua cara de nojo entrega o que viu.

— Acho que nos livramos dessa — diz ele.

O silêncio que se instala entre nós é constrangedor. Troco olhares com Julie e Terry, e percebo que todos estão tão incrédulos quanto eu.

Ele aparenta ser mais velho, talvez 30 anos, e não está tão acabado. Seus olhos são azuis, mas, mesmo de longe, consigo ver algo em sua pupila, como uma marca de nascença. O cabelo e a barba, negros como o céu noturno, escondem suas feições. Sua blusa azul, de manga curta, não oculta as dezenas de cicatrizes em seus braços. É difícil dizer, mas não parecem ferimentos causados por pragas, pois estão mais para queimaduras do que para cortes. Não dá para saber se essas marcas estão também presentes em suas pernas, já que ele está de calça comprida e tênis, mas suas mãos estão repletas de manchas parecidas.

Cubro a boca com as mãos quando vejo suas unhas, antes normais, transformando-se em garras, idênticas às das pragas. Como em um movimento ensaiado, eu e meus companheiros empunhamos nossas armas, prontos para atirar. Mas o tremor em minhas mãos é notável, e ele percebe isso, pois está olhando para mim. Quem é ele? E como consegue fazer isso?

— Por favor — começa —, isto não é necessário.

Ainda assim, mantemos as armas na mesma posição. Meu dedo está firme no gatilho.

— Elas só apareceram porque fiquei nervoso — explica.

Ele levanta as mãos, em sinal de rendição. Suas garras somem novamente.

— Como consegue fazer isso? — pergunta Bob com perceptível horror na voz.

O garoto suspira receoso. Será que teme explicar sua situação?

— Eu fui um das cobaias dos experimentos do governo.

Meus braços falham e caem ao lado do meu corpo. Bem ao meu lado está Carol, já guardando a arma em seu cinto. Ela olha para ele, com um risinho irônico no rosto.

— Eu sabia — diz ela. — Você foi vendido ilegalmente para o governo, não é?

— Sim — responde.

— Ele precisa vir com a gente — pede Caroline.

— Ficou maluca!? — diz Julie. — Se ele tem as garras das pragas, provavelmente vai querer nos devorar na primeira oportunidade.

— Meu gene lupo é bem limitado — diz ele. — Eu jamais machucaria um ser humano.

— Quem nos garante? — indaga Thiago.

— Eu garanto — lembra o rapaz.

— Não é o suficiente — devolve Thiago.

Os dois se encaram de um jeito nada amistoso.

Morte aos LobosOnde histórias criam vida. Descubra agora