Capítulo 11

26 4 2
                                    

Meus olhos estão tão pesados que não consigo abri-los de imediato. Não faço a mínima ideia de onde estou, mas sinto que estou deitada em algo macio, muito provavelmente um colchão. Também não sei como vim parar aqui, a última coisa de que realmente lembro é de Thiago olhando fixamente para mim. Meus sentidos voltam a funcionar aos poucos, e finalmente escuto vozes. A primeira que identifico é a de Julie e, surpreendendo até a mim, sinto um alívio enorme ao saber que ela está viva. Em seguida, ouço os outros, conversando sobre algo que não consigo identificar. Mas acho que ouvi meu nome.

Finalmente consigo abrir os olhos. Estou deitada ao lado de uma parede, no quartinho de uma casa bem velha. Fora o colchão, o cômodo tem uma mesa e um banquinho. Uma grande janela permite que a luz do sol adentre o local. Creio que tenhamos parado aqui por pura urgência. Faço um esforço e sento com a costa apoiada na dura parede. Sinto uma dor aguda nos dois braços, mais como um forte formigamento. Olho para eles: ambos os lados estão enfaixados um pouco acima dos cotovelos, e manchas de sangue nas ataduras são visíveis.

Então vejo minha mão esquerda. Uma grande faixa a cobre por inteiro. O cotoco do meu mindinho está coberto, mas é impossível não ver que eu realmente perdi um de meus dedos. Uma onda de horror me atinge, lembrando-me das coisas terríveis que hoje acontecem no mundo.

Pela primeira vez desde que meu pai morreu, eu choro. Um choro incontrolável, que eu guardo há muito tempo. Todas as minhas angústias dos últimos meses são lançadas para fora de mim. Abraço meus joelhos e afundo a cabeça entre eles. Escuto um leve ruído e levanto o olhar. Thiago está entrando no quarto. Quando vê minha situação, fecha a porta atrás de si e vem até mim. Ele senta ao meu lado no pequeno colchão e me abraça. Eu me apoio em seu ombro. Ao invés de finalmente me controlar, choro ainda mais.

— Eu não devia ter deixado você sozinha, Amy. Por favor, me perdoe.

Tenho vontade de dizer a ele que não há motivo para pedir desculpas. Ele não teve nada a ver com isso. Queria dizer que a culpa foi daquela praga, e somente dela. E que se ele não tivesse chego naquele instante, eu estaria morta. Afinal, cada segundo é precioso. Mas eu não consigo dizer nada, pois minha voz não sai, e fico ainda mais triste em não conseguir dizer nada a ele.

Conforme os minutos passam, o choro diminui, e eu fico mais calma. Em nenhum momento Thiago desfaz nosso abraço, portanto, adormeço em seus braços.

**

Depois do que me pareceram algumas horas, acabo acordando. Thiago não está mais aqui, e eu fico sem saber o que fazer. Gostaria logo de sair deste quarto, voltar para a estrada. Mas não me sinto nada bem, então permaneço deitada e imóvel. Eu não sou o tipo de pessoa que espera a solução dos meus problemas caírem do céu, mas não tenho a mínima disposição para nada. Nem mesmo para pegar a garrafinha d'água que está sobre a mesa, juntamente com uma caixinha de cereal.

A porta abre novamente e olho em sua direção na esperança de que seja Thiago, mas é Julie quem entra. Ela vê a água e o cereal intocados e dá um longo suspiro de frustração. Eu sento novamente, fazendo de tudo para que ela não perceba o quanto estou frágil. Ela é uma mulher tão forte e destemida, que é um pouco vergonhoso ser tão fraca na frente dela. Ela com certeza enfrentaria esta situação melhor do que eu. Ela tira uma cartela de comprimidos do bolso de sua jaqueta preta, e senta ao meu lado, não sem antes apanhar a água da mesa.

— Tome, você precisa de mais analgésicos para dor.

Não respondo. Não necessariamente por que não quero, simplesmente porque não consigo.

— Pegue logo, você vai precisar para quando Carol vir trocar o curativo — diz calmamente. — Infelizmente, vai doer muito.

Quando processo as suas palavras em minha mente, acabo dando um sorrisinho irônico. Então respondo:

Morte aos LobosOnde histórias criam vida. Descubra agora