Capítulo VI - Beijos Roubados

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Ana sabia que as pessoas tinham certo receio de falar com ela, talvez porque a menina andava com Carolina, ou talvez pelo fato de seu melhor amigo ser o representante do Grêmio Estudantil e jogador de basquete, e ela também se retraia às vezes na presença dos amigos mas sabia que ela brilhava tanto quanto os outros dois corações pulsantes que ela caminhava alegremente para cima e para baixo.

- Cara, mas você tem que ver como esse filme foi uma bosta! Como você pode simplesmente ignorar o filme mais comentado do ano? - Pedro faz uma careta de reprovação para Carol, que por sua vez, mostra o dedo do meio para o garoto, que engasga com o próprio sorvete.

- Por que eu deveria assistir? Eu não gosto de filmes de super-heróis, e não apoio a indústria cinematográfica querendo tirar cada centavo seu com continuações infinitas de filmes que poderiam muito bem rodar em uma película só. - e a morena saboreia mais uma colherada de seu açaí com granola.

- Carolina, esse é o tipo de coisa que eu nunca pensei em ouvir de você, minha querida futura atriz. - e o garoto alarga seu sorriso.

- Pedro, eu já lhe disse que seu sorriso parece o do Cheshire¹, não? - Ana finalmente entra na conversa. Eles estão em uma sorveteria muito conhecida na cidade, por ser o centro de encontro dos estudantes da Saint Claire, a famosa escola mista elitista de Plutão.

Ambos haviam parado ali depois da escola, pois alegaram que as provas haviam queimado seus neurônios. Afinal de contas, a escola estava acabando, e todos esperavam que eles se saíssem muito bem.

Os três se serviram de generosas porções de sorvete, e se sentaram nas mesinhas do sentido da rua, e estavam ali conversando havia horas. Resolveram depois de muito tempo debatendo sobre a indústria do cinema e sobre suas embaraçosas ações que iriam assistir a Como Eu Era Antes de Você, mesmo concordando que a indústria queria apenas o dinheiro deles.

Agora, na fila dos ingressos, Pedro e Ana aguardavam os diversos casais em suas frentes para que pudessem comprar o ingresso.

- Bem, pelo menos a Carol resolveu ir na frente e comprar as pipocas. - diz o menino, pegando uma nota de vinte reais do bolso.

- Pedro, deixa que eu pago a minha e a da Carol, okay? - e Ana tira também uma nota de vinte reais do bolso.

- Não, semana passada a Carol pagou todas, hoje eu pago. - diz o garoto, pegando os vinte reais da mão da menina e colocando em seu bolso da calça.

- Pedro, eu já disse, eu pago essa semana. Parece criança manhosa, para de bobeira, hoje eu que pago. - e novamente, a garota pega a nota do bolso e segura.

Então o menino bufa, e em um momento de infantilidade dá a língua para a garota loira ao seu lado.

- Ah Pedro, Pedro, o senhor não fez isso, fez? - diz a menina serrando os cílios e fazendo cara de brava.

- Ah, fiz, dona Ana, vai fazer o quê contra isso? - diz ele, copiando a pose dela.

E então, em um ataque súbito, Ana ataca o garoto com cócegas em sua cintura, e o garoto no meio das risadas segura a cintura de Ana e a puxa mais para perto, fazendo-a parar.

Suas respirações pesadas e olhos brilhantes se encontram, e por um segundo Ana cogitou beijar seu melhor amigo, mas antes que concluisse o raciocínio, o garoto colocu uma de suas mãos em sua nuca e tomou uma atitude: beijou Ana. Aquele beijo poderia ser apenas um de vários beijos, mas era o primeiro de Ana, e estava sendo especial, até ouvirem a voz de Carolina vindo em direção a eles junto de Leonardo.

- Aeeeeee, finalmente os dois pombinhos se assumiram! - diz Carolina, sorrindo abobadamente e batendo palmas.

- Cala a boca Carolina, fica quieta, o cinema inteiro já está sabendo. - diz Pedro, com as bochechas vermelhas e com as mãos ainda na cintura da garota.

Ana, que não havia entendido o que aconteceu até agora, ficou com o rosto vermelho e abaixou os olhos, fixando-os ao chão e apenas assim conseguiria arrumar a bagunça que estava em seus pensamentos.

Enquanto isso, no mundo fora de sua mente, os amigos brincavam e sorriam, enquanto a garota tentava entender as borboletas em seu estômago e as imagens que se passavam em sua cabeça a cada segundo relembrando o toque suave dos lábios do garoto ao seu lado, que agora segurava sua mão.

Quando entraram na sessão, Pedro e Ana sentaram-se lado a lado, enquanto Carolina e Leonardo estavam na fileira da frente.

Ana agora olhava para o garoto ao seu lado, que apertava sua mão de leve para chamar sua atenção.

- Ana, me desculpa por ter feito aquilo - começa o garoto-, se você estiver brava comigo, tudo bem, eu só fiz aquilo porque foi um impulso e eu apenas queria dizer que... - e o garoto se calou de repente ao sentir o sabor de morango do batom de Ana novamente penetrando sua boca.

Por Um FioOnde histórias criam vida. Descubra agora