Capítulo IX - Sorvetes Inacabados

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Anabella abriu a janela do carro, e deixou seus cabelos balançarem ao vento, sentindo a brisa fria arrepiar os braços e intimidar sua acompanhante que ria descaradamente.

- Ô peste, dá pra você fechar essa janela? Eu vou morrer congelado aqui e virar picolé. Ai vocês não precisam pagar doze reais em um picolé meia boca. - reclamou Jonathan.

- Que ótimo! Ai eu não preciso pagar o sorvete! - exclamou Sabrina, dando mais risada e abrindo sua janela ao máximo também.

- Ana, fala pra sua amiga louca que ela vai pagar o meu sorvete de qualquer jeito, só por causa que tive que perder meu precioso tempo trazendo vocês até o centro. - diz Jonathan, olhando pelo retrovisor e encarando Ana com um sorriso travesso nos lábios.

Ana havia decidido chamar Sabrina para sair havia alguns dias, mas a garota estava sempre ocupada demais ou com algum compromisso marcado fazendo Ana quase desistir. Mas em uma tarde qualquer, de repente, a menina dos cabelos multicoloridos apareceu em sua porta com um moletom de patinhos e bolsa dizendo que iriam sair para tomar sorvete e jogar boliche, mesmo estando frio e que era bom ela se arrumar logo. Ana levou mais do que imaginava, pois a cada roupa que experimentava se sentia nervosa e mudava denovo até que Sabrina entrou no quarto enquanto ela vestia apenas sutiã e jeans e enquanto Ana corava fortemente, Sabrina pegou uma blusa de manga comprida que estava jogada na cama e um casaco vinho e jogou a para a menina que ainda tentava tampar o decote do sutiã, e então depois de mais algumas chantagens à Jonathan alegando que o pagariam um sorvete se as levasse, ele finalmente havia aceitado a proposta das garotas e ali estavam.

- Sabe o que eu mais gosto nessa música? - diz Jonathan, aumentando o som do carro.

- Você gosta de músicas desse tipo? Não está un pouco velho demais para isso? - diz Sabrina, com um olhar malicioso, se dirigindo aos irmãos ali presentes.

- Bem, eu não sou tão velho assim, só tenho vinte anos, okay? Posso até ter cara de carrancudo, mas eu realmente não acho que isso me deixe tão mais velho assim. - diz Jonathan, gargalhando alto e fazendo as meninas rirem junto.

E a conversa foi tão descontraída que não repararam que já estavam chegando no shopping da cidade. Quando chegaram, eles desceram do carro e foram até a loja de sorvetes de massa que ali havia e Sabrina pagou um sorvete para Jonathan, que saiu sorrindo com a boca toda suja de sorvete de flocos. Os irmãos se despediram e Sabrina deu um tchau rápido para Jonathan que continuava com a casquinha em mãos, quase melando a bochecha da menina, ambas foram em direção a entrada do shopping e ele foi embora sorrindo e comendo sua casquinha.

- Sabe, achei que você iria me ignorar pra sempre, você não me respondeu desde o dia treze. - diz Ama, fazendo uma careta para a garota ao seu lado que saltitava animadamente.

- Bem, a culpa não é minha, a droga do meu celular caiu na piscina de casa e parou de funcionar, apesar de "ser a prova d'água". Fora o trabalho que tive pra encontrar a sua casa, né linda? Tive que ir na Carol e pedir pra ela me passar seu endereço. Fora a etapa de convencer ela a me dar o seu endereço. - A garota sorriu, como que relembrando.

- Bem, então você deveria ter mais cuidado com as suas coisas, não é? - Ana diz chocada.

- Meu pai compra outro, de qualquer jeito. Ele nunca fica em casa, ele só vai mandar o dinheiro ou colocar na minha conta do banco. - diz a menina, com uma naturalidade extrema e dando de ombros.

Ana estranhara que a garota parecia mesmo um pouco avoada apesar de não saber o porquê. Bem, agora ela sabia.

Ana e Sabrina passam a tarde conversando, tomando sorvetes e errando bolas na pista de boliche, e quando erravam, caiam na gargalhada, dizendo coisas idiotas uma a outra. Depois de risadas, sorvetes e alguns drinks surrupiados de uma loja de conveniência às escondidas as garotas resolvem ir ao pequeno parque que fica na parte reservada do shopping.

O céu já escureceu e as garotas se sentam nos banquinhos de madeira do lugar arborizado. As luzes que ali estavam apenas servia para iluminar o caminho, sendo que os bancos ficavam a maioria em partes mais afastadas do pequeno caminho de pedras que serpenteava pelas árvores e flores.

- Aninha, quer deitar no meu colo? - diz Sabrina, ligeiramente alterada e risonha.

- Claro! - diz Ana, e se deita no colo da garota do cabelo de algodões.

As duas se encaram, sob o céu estrelado e Ana vislumbra uma passageira chama de desejo nos olhos da garota, que aproxima seu rosto cada vez mais do da menina em seu colo. Ana sentia seu coração bater forte no peito, as mãos suavam e os olhos estavam quase se fechando, se deixando entregar ao desejo que percorria por suas entranhas e fazia sua cabeça parecer prestes a explodir. O que aquela garota a causava era pior do que qualquer droga conhecida, e ela não sabia como se curar dela.

E Anabella surpreende a garota que estava a poucos sentimetos dos seus lábios cor de rosa, se levantando rapidamente e correndo em direção ao estacionamento sem nenhuma explicação. A garota de cabelos coloridos fica ali, observando a outra menina ir embora, com um arrependimento que poderia matar a mais pura das pessoas.

Por Um FioOnde histórias criam vida. Descubra agora