Capítulo 1(Sem Revisão)

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Março de 1839

Aiden sentiu o gosto metálico do sangue em sua boca, a dor havia passado. Estava morrendo, tinha certeza. Ainda podia ouvir ao fundo os gritos desesperados de lady Evelyn Remington, o motivo de ele estar naquela deprimente situação. Viu tudo o que o levara aquilo passando diante de seus olhos, como um flash. Fazia quatro meses que havia sido apresentado a bela loira de olhos verdes e sorriso fácil no banquete da Condessa de Sildanburg. Eve, como a chamava na intimidade, havia sido uma constante em sua cama desde então. Uma amante bem experiente, ele fazia a lembrança, mas tudo o que é bom dura pouco. Após a dura descoberta, o irmão gêmeo da moça e responsável por cuidar da mãe viúva e dela, veio furioso até sua porta, demandando um duelo de vida ou morte em reparação pela "honra" perdida. Aiden se engasgou com o sangue ao tentar rir. Não deveria ter passado aquele dia tão importante enchendo a cara no pôquer. O estado de semi torpor induzido pela bebida confundiu seus sentidos e o jovem defensor da irmã obteve a vantagem, acertando o tiro logo abaixo do coração. Ah... A ultima imagem que levaria consigo para o além era Linton, seu afetado empregado lhe segurando nos braços com uma expressão de pavor marcada no rosto discretamente empoado. Já não sentia mais dor. Estava morrendo, tinha certeza...

Um forte calor inundou o corpo de Aiden, forçando-o a abrir os olhos para se descobrir deitado em uma cama de dossel, com cortinas rústicas amarradas a cada poste do móvel. Sentou-se sem dificuldade, percebeu. Tocou a área do peito onde a bala havia penetrado e se surpreendeu ao não achar nenhum vestígio de sangue, apesar do conjunto da roupa estar danificado por um furo proeminente e manchado com um pouco de pólvora. Levantou-se para esquadrinhar os aposentos. Estava quente, mas ele não suava. O quarto não tinha janelas, apenas uma porta de madeira entalhada com flores de lis e trepadeiras. As paredes eram forradas com um papel de parede vermelho escuro e a única fonte de luz era de um castiçal que brotava de uma delas. A luz bruxuelante da vela não deixava ver muito mais do que isso e uns quadros com paisagens escuras de penhascos enevoados e árvores com galhos secos e retorcidos. Concluiu ter se salvado de alguma maneira e agora repousava na casa de alguém, mas não reconhecia a decoração pavorosa. Tentou chamar por Linton, mas não obteve resposta. Não se surpeendeu com isso. O homem constantemente estava perdido em seu próprio mundo da lua. Apesar de ser sempre confiável e prestativo era um tanto lento e orgulhoso por demais. Aproximou-se da porta e tentou abri-la. A maçaneta estava surpreendentemente quente, em brasa. Soltou depressa e deu uns passos para trás, foi quando ouviu a voz mais horrenda que já havia entrado em seus ouvidos:

-Jovem conde de Hampshire, não é assim que as coisas funcionam por aqui. Aliás, você deveria estar aliviado pela chance que lhe foi dada. Geralmente as acomodações aos novatos não são tão ...confortáveis...

Aiden se virou assustado e encarou uma velha senhora, com um antiquado vestido totalmente negro. Estava sentada em uma cadeira de balanço que ele tinha certeza que não estava ali antes. A velha tinha o rosto muito sulcado pelas rugas que infestavam sua testa e bochechas, como pregas. A pele ressecada tinha manchas escuras e algumas verrugas e o nariz grande e curvado lhe davam a aparência de uma bruxa saída de contos de fadas dos irmãos Grimm.

-Como assim? E quem é a senhora? Por acaso é dona desta propriedade? - Aiden se aproximou com cautela, forçando as vistas para tentar reconhecer o rosto na penumbra. Ela lembrava um pouco a velha duquesa de West, mas não poderia ser ela. Faltava-lhe a enorme mancha cabeluda no meio da testa. - Devo agradecê-la pela hospitalidade, estou me sentindo muito bem, a propósito. Mas agora gostaria de encontrar o meu mordomo Linton, alto e falastrão como um papagaio. Provavelmente deve estar perdido pelos cômodos da casa. Preciso saber onde ele está para que possamos voltar a nossa casa imediatamente.

A velha soltou uma risada macabra, se engasgando com a própria saliva. Aiden temeu que a mulher caísse dura ali mesmo, mas ela logo se recompôs para soltar a conversa mais louca que ele já havia ouvido. Algo que mudaria sua vida para sempre.

O Conde Diabólico(Concluída - Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora