Capítulo 19 (Sem Revisão)

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O sol acertou diretamente o rosto de Yolande. Ela apertou os olhos antes de abri-los e contemplar o homem que respirava tranquilamente do seu lado. Tinha o lençol cobrindo apenas da cintura para baixo. Ela agora pôde perceber os detalhes da cicatriz estampada no peito dele. Era vermelha, ainda irrigada por sangue , cortada por marcas de pontos. Yolande tocou-a afim de traçar sua extensão mas no momento em que seus dedos atingiram a pele da região um calor intenso foi transferido para sua mão, como se tivesse a enfiado no fogo. Interrompeu rapidamente o contato, mas não antes que as extremidades do indicador e médio ficassem avermelhadas e ardidas. Meu Deus, o que teria provocado aquilo? Ela comentaria o estranho acontecimento com ele mais tarde. Beijou-o na curva do pescoço, orelha e bochecha e no momento que chegou na boca foi surpreendida pela abertura abrupta da porta.

- Aiden, já passa das dez da manhã! Não se esqueça do carregamento de açúcar e...SANTO DEUS! - Linton entrou apressado e se assustou ao ver Yolande ao lado de um também assustado Aiden, o lençol cobrindo-lhe os seios. Desconcertado, o mordomo baixou a cabeça, virando-se de costas. - Um guaxinim selvagem aqui! - Saiu, fechando a porta. - Recomponham-se!

Aiden e Yolande se entreolharam e riram juntos da situação inusitada.

- Bom dia, meu amor... - Ele sussurrou, retirando os cabelos desgrenhados dela do rosto e prendendo-os atrás da orelha delicada. -Espero que tenha dormido bem.

- Foi uma noite maravilhosa. Dormi como um anjo. - Ela confidenciou. - Mas agora sinto a fome de um dragão! - Levantou-se recolhendo suas poucas peças de roupa do chão e vestindo-as, apressada.

Aiden viu no lençol a mancha comprovante de que ele havia sido o primeiro homem da vida dela. Isso fez com que um orgulho bobo se inflasse dentro dele.

- Eu vou para meu quarto e já desço para tomarmos o desjejum. Ande seu paspalho, não fique aí me olhando com esta cara boba ou não sobrará nada para você! - Saiu do quarto, espiando antes por uma fenda na porta, deixando para trás um sorridente Aiden.

Ao chegar em seu quarto Yolande deu de cara com Giana. A menina organizava roupas no armário.

- Aha! Pois aí está a pequena Srta. Fugitiva! Onde esteve a noite toda? - A morena inquiriu.

Giana olhou para a amiga e suprimiu com a mão uma risadinha afetada.

- O mesmo não preciso nem ao menos perguntar, não é verdade?

Yolande corou até a raiz dos cabelos, e avançou para onde estavam pendurados os vestidos matutinos, vasculhando entre os cabides furiosamente.

- Ria bastante, mocinha! Mas me conte onde esteve. Não a encontrei na cozinha durante a madrugada. Sabe que tenho pavor de trovões!

A menina tomou a frente de Yolande, retirando de um cabide um vestido cor de goiaba com decote quadrado.

- Estive com o sr. Debois...

Yolande abriu a boca, surpresa.

- Com Linton??? Não posso acreditar que tomou coragem!

- O que? Não! Claro que não! Não é o que você está pensando! - Giana apressou a se retratar. - Acordei para procurar um pedaço de torta de amoras, sabe que tenho insônia e costumo sentir muita fome na madrugada. Pois bem, percebi que havia luz no escritório e pensei ser lorde Peterson. Fui até lá para oferecer chá e me deparei com o sr. Linton. Estava fazendo orçamentos, disse que os trovões não o deixavam dormir, pois tem o sono leve.

Yolande ouvia a tudo, atenta.

- E então?? - Perguntou, ansiosa.

- E então que me ofereci para ficar e ajudar. - Giana apanhou a escova de cabelo e pôs-se a desembaraçar as madeixas da amiga. - E passei a madrugada encaixando o orçamento. - A menina sorriu, perdida em sua tarefa. - Ele disse que sou muito boa com números... - Sua expressão mudou e seus olhos se encheram de lágrimas. - ...e que gosta de mim como uma irmãzinha...

Yolande tirou a escova das mãos do amiga e a abraçou, num gesto de amparo.

- Venha cá, minha querida! Linton é tão esperto para umas coisas, mas em outras é apenas uma criança perdida...Na verdade é mesmo um idiota!

A outra riu.

- Não se preocupe é não desista, ele irá perceber! - Yolande estava decidida a juntar os dois, seja lá o quanto custasse!

Quando a finalmente desceu para o café Aiden já estava à mesa. Se levantou e sorriu ao vê-la.

- Me desculpe pela demora. Tive assuntos a tratar. - Ela sento e foi logo servindo, se de um pedaço da incrível torta de amoras, pãezinhos de aveia recém assados cobertos com geléia de uva e uma xícara de chá fumegante.

Ele sorriu, como quem pensa coisas mirabolantes.

- Tudo bem, meu anjo. Me deu tempo de te preparar uma surpresa.

- Uma surpresa? Pois diga logo! Odeio o suspense!

- Os documentos que conseguiu, com certeza são de valia. Arquivos que apontam escravidão humana. - Aiden tomou um gole do chá, queimando a língua e soltando impropérios. - Pedi que Linton levasse os papéis a meu advogado de confiança para que ele os avalie melhor. Após isso ele poderá formular uma denúncia formal a Winterburg e futuramente uma cela o receberá!

Yolande sabia que a escravatura havia sido abolida na Inglaterra bem antes dela ou Aiden haverem nascido e não conseguia entender como um ser humano poderia se aproveitar de outro desta forma tão cruel. A cada segundo tinha mais ódio daquele homem asqueroso.

- Isso parece bom... - Disse tentando disfarçar a decepção de ter ouvido "cela" ao invés de "pena de morte". - Esperemos que não demore muito.

Logo após o almoço Linton retornou. Yolande o encontrou no hall de entrada com as mangas arregaçadas, ajeitando um bonito arranjo de flores no vaso.

- Linton, precisamos conversar...

Ele não se virou e continuou podando os caules das flores com precisão milimétrica.

- Se for sobre o que eu vi hoje de manhã...não vi absolutamente nada! - Apressou-se a explicar.

Yolande não pôde evitar de gargalhar. O mordomo parou o que estava fazendo e voltou-se para ela.

- Obviamente não é disso que está querendo falar, não é verdade? Vamos a biblioteca.

Se dirigiram ao cômodo, onde Yolande sentou-se e fez um gesto para que Linton fizesse o mesmo.

- Bem, - Ela começou. - Eu vim aqui para defender os interesses de uma pessoa querida, Giana.

Linton cruzou os braços, recostando-se.

- Oh, esta é nova agora. O que poderia você interceder por Giana?

- Linton...Ela gosta muito de você. Não acredito que não tenha percebido! E ela sofre demais com isso. Mesmo que não queira nada com ela acho que vocês dois deveriam conversar, para que ela entenda que não pode existir nada entre vocês.

Ele assumiu uma postura séria, pensativa.

- Giana é apenas uma criança, eu não posso... Além do mais, eu prometi a lady e lorde Peterson que cuidaria de Aiden até que ele encontrasse uma esposa! Ele é muito disperso, indisciplinado e... Bem, era. - Fez alguns instantes de silêncio. - Você, Yolande tem feito toda diferença na vida de Aiden, na verdade você modificou a rotina da casa inteira. É louca varrida, sem modos, rabugenta... - Suspirou. - Mas, para falar a verdade, eu não confiaria a vida do meu melhor amigo a ninguém mais neste mundo.

Os olhos dela se encheram de lágrimas, obrigando-a virar o rosto para esconder a emoção.

- Oh, Linton. Você tem um coração afinal! E não o guarda num frasco cheio de absinto como eu imaginava! - Riu ao ver o amigo torcer o nariz. - Posso lhe garantir que Aiden será muito bem cuidado por mim. Então não mude de assunto! Não precisa se preocupar mais com Aiden e, ao contrário do que você pensa, Giana é uma mulher. Uma linda e jovem mulher muito prendada e que o conhece perfeitamente. - Yolande tocou o braço dele com delicadeza. - As vezes a felicidade nos procura, mas fazemos questão de repeli-la para longe, achando que não a merecemos. Mas isto é errado, pois Deus nunca envia algo que já não nos pertence por direito. Sendo assim, agarre a sua felicidade com todas as forças antes que ela voe pela janela.

O Conde Diabólico(Concluída - Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora