Algumas verdades

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Quando adentrei a tenda, ela estava sentada me olhando, estava a me esperar para falar comigo.

Depois do que tinha acabado de ouvir, eu precisava, eu tinha que descobrir se... o que ela havia dito era verdade. O que Helena queria dizer? Por que ela disse isso? Por que agora?

Essas perguntas pairavam minha cabeça e não tinham solução, e mesmo tentando, eu não conseguia entender. Meus pensamentos foram interrompidos quando ela fez um gesto com o braço, sugerindo que eu sentasse, e assim o fiz.

Então ela começou a dizer:

- Não se preucupe Beatrice, não há mais ninguém aqui para nos interromper.

- Não diga coisas Helena, eu quero saber do que você está falando. Isso é tudo. - respondi

- Claro, esclarecerei tudo agora. Primeiro quero que me ouça depois pode falar e fazer o que quiser. - ela dizia de forma tão seria que parecia algo assustador.

Assenti com a cabeça e assim ela continuou:

- A dezoito anos atrás, quatro crianças nasceram. Cada criança de origem de um reino, sendo mais específica, uma de cada família imperial. O conselho se reuniu e debateu sobre o que isso poderia vir a ser.
Eles concluíram que era um presságio de que o caos estava prestes a ter início. De onde essa idéia surgiu... Eu não sei lhe responder.
Assim sendo, proporam para a aliança que... uma criança fosse executada. Esse seria o símbolo do começo da guerra e também de que a aliança dos três reinos se manteria.
A criança escolhida para ser sacrificada... foi você Beatrice. Eu não pude aceitar!

- E meu pai não fez nada ? - Sem querer eu a interrompi.

- Seu pai ?
Bom na realidade, ela nunca esteve conosco. Você é fruto de uma relação que os outros reinos desaprovam...
Eu e seu pai tivemos um caso, mas nós éramos de reinos diferentes... e se isso fosse descoberto nós dois seríamos executados. Um tabu é cometido quando pessoas que não são do mesmo reino se relacionam. Eu fui do império de Ihsaurus e seu pai era de Kwoterros. - Helena havia dito isso com tanta convicção.

Eu já não sabia mais o que podia esperar, eram coisas muito estranhas para mim. Então ela continuou dizendo:

- Continuando...
Eu reenvindiquei para que você fosse polpada, no entanto todos os meus esforços foram em vão.
Então em uma certa noite, com a ajuda de Ophélia, eu fugi com você. Nossa busca pela sobrevivência havia começado.
Então Ophélia me disse que havia um jeito de te salvar, mas eu não estaria com você. Não me importava o método, eu precisava esconder você.

- E porquê você não poderia ficar comigo? - Novamente a interrompi, mas não foi minha intensão.

- Porque, um membro da família real tem seu fluxo de magia muito alto, ele ja nasce com essa capacidade. E os outros feiticeiros podem rastrear onde esta pessoa está por causa disso.
As habilidades dos magos, de Tietrastera mais expecificamente, podem rastrear magos a distâncias muito elevadas.
Por isso eu aceitei o plano que Ophélia tinha me oferecido... - ela disse olhando seriamente para mim.

- E que plano seria esse ? - Eu interrompi de novo, mas desta vez eu tinha que perguntar.

- O plano era...
Esconder você, em um lugar onde a magia não pudesse ser detectada.
Eu teria que deixar você, e também teria que me fazer de isca para que eles nunca chegassem perto, nem mesmo pensassem que você estaria em Thowlideir. - ela me respondeu, em uma pausa para tomar ar e assim ela continuou:

- Assim eu fiz, te deixei em Thowlideir aos cuidados de Liliana. Sabia que você estaria segura... mas por precaução eu levantei uma barreira que suprimia as habilidades mágicas de quem estivesse dentro. Ophélia usou seu poder para que quando você tivesse idade, podesse quebrar a cúpula que te envolvia.
Enquanto isso não acontecia, eu e ela estivemos aqui, sempre estivemos nas redondezas buscando te proteger.
E pelo visto... Eu falhei ! - Ela começou a chorar e já não podia mais continuar, no entanto, eu tinha que saber mais. Eu precisava descobrir tudo e principalmente por quê ela se culpava assim, foi então que perguntei:

- Você acha que falhou ? Não consigo entender o por que?

- Por que quase perdi naquele ataque. Eu não esperava que um Labelt, pudesse querer te ferir... na realidade eu não  entendo. - Ela respondeu.

O que você sabe sobre ele ? - Novamente me pus a perguntar.

- Ele é de uma família influente em Kwoterros, mas lá não há ninguém que saiba de sua existência. - ela respondeu mas sua voz era fraca, triste e trêmula.

Não podia mais perturba-la com esse assunto, pelo menos não agora. Então não tive outra reação se não abraçar aquela que eu aprenderia a chamar de mãe,  dei um beijo em seu rosto e então em um longo sorriso eu disse:

- Não há nada de errado Hele... mãe, está tudo bem, eu estou bem. Sei que deve ter sido difícil para você, passar esse tempo todo longe de mim.
Mas agora vamos estar juntas, até que o destino nos separe e enquanto esse dia não chegar saiba que eu...
Eu...
Eu te amo Helena Heatherphillia, ou melhor, minha mãe !

Logo as lágrimas deram lugar a uma expressão de espanto e alegria. Um pouco de cada, e novamente ela se pôs a chorar mas desta vez era por algo que eu sentia ser FELICIDADE.
Não me contive e chorei junto de minha mãe, talvez toda aquela estória fosse mentira, mas não parecia.
Ela me acolheu em seu colo e logo que isso aconteceu, um conforto, uma paz, um sentimento de segurança encheu meu peito e por algum motivo que eu não sei explicar, eu tive a certeza.
Aquela diante de mim, não era ninguém menos que a... minha mãe.

Nosso momento de ternura se encerrou assim que Ophélia entrou na tenda e ao nos ver abraçadas perguntou:

- O que aconteceu ? Por que as duas estão chorando ?

Porque eu finalmente a encontrei. - respondeu Helena.

- Já era hora, não é mesmo. Eu estou feliz por vocês estarem reunidas e que possam apreciar...
Uma a companhia da outra. - ela respondeu com tamanha ternura, era a primeira vez que Ophélia Grankaster, a companheira da minha mãe, não me assustava e então eu respondi:

- Mas é claro que sim, e espero que seja muito longa essa etapa também. Não espere menos do que isso.

As duas me olharam e então rimos.

Calmamente os dias foram passando e então pude ver como eu me parecia com Helena.
Pude notar como ela era uma mulher forte, admirável e esperta.
Espero poder ser boa em algo assim como ela.

Celada no geloOnde histórias criam vida. Descubra agora