Capítulo 1

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Eu era só uma garotinha de sete anos. Ah, esse número! Revoltadinho ele, não? Já li em muitos lugares que ele é o número da sorte para o ocidente e o número do azar para o oriente. Curioso é que justo com sete anos eu tive a minha maior perda... Poderia ser seis ou oito, mas não, era sete. Um pequeno detalhe levado em relevância.
Mas, com essa idade, eu não tinha maiores preocupações do que nenhuma. Eu tinha uma vida perfeita, sabe? Lógico, tirando o fato de que o país inteiro passava por uma grande crise. Nos encontrávamos numa monarquia absolutista (e não, eu não vou dizer que era num reino encantado), em que o rei afundou as economias do país graças a sua soberba inútil. Ele tinha um filho, mas com sete anos não era com isso que eu iria me preocupar.
Minha família era de origem humilde, e nunca tivemos muito dinheiro. Mas não é com dinheiro que se compra felicidade, não é mesmo? Eu tinha um pai e uma mãe que nunca deixariam nada faltar para mim, então não tinha com o que me preocupar.
Isso, é claro, foi até a minha mãe ficar doente. Graças a crise, não tínhamos dinheiro para tratamento. Começou com uma leve tosse e um "Estou bem", seguido de um sorriso, mas evoluiu até o momento que ela não conseguia mais andar de fraqueza e passava todos os dias em sua cama, tossindo sangue.
Posso me lembrar de como era triste e doloroso ver a minha mãe, aquela pessoa sorridente e alegre, com olhos azuis como o céu que tive a infelicidade de não herdar, ficar cada dia mais doente e pálida.
E como era mais desolador ainda ver o meu pai, que sempre teve aquele brilho no olhar castanho, perdê-lo. E ver seus cabelos castanhos ficarem cada vez mais brancos. E ouvi-lo chorando todo dia, quando achava que eu já estivesse dormindo. Ele achava que era sua culpa, sabe? Que era sua culpa não ter dinheiro para oferecer tratamentos e remédios a minha mãe. Não, pai. A culpa era da crise. A culpa era do rei.
Por fim, depois de meses doente, eu lembro de nossa última conversa. Estava numa cadeira ao lado da cama, lendo para ela. Ela sempre lia para mim antes da doença. Eu demorava um pouco pra terminar as frases, já que ainda estava aprendendo a ler, mas ela esperava pacientemente eu terminar e sorria. Eu podia ver a alegria alcançar seus olhos, e isso me deixava mais excitada a continuar. Até que ao acabar o último capítulo e fechar o livro, ela começou a conversa que nunca esquecerei.
- Filha, você sabe que eu te amo muito, não é?
Ela colocou uma mecha do meu cabelo atrás de minha orelha e sorriu.
- Sei, mamãe.
Sorri.
- Você nunca, nunca, vai duvidar disso, não é meu bem?
- Não, mamãe. Eu também te amo.
Ela sorriu.
- Bela, eu te dei esse nome por um motivo. Você é muito linda. E inteligente também. Sabe que mesmo se eu for, vou continuar aqui, não é?
Ela levou a mão até o meu peito, onde se encontrava o meu coração.
- É, mas você não vai embora, não é mamãe? - Perguntei, com os olhos faíscando de medo.
O sorriso dela vacilou.
- Filha, na vida, nós não temos só o que queremos. Eu posso querer ficar, mas isso não cabe a mim. Mas se eu for, você ainda terá o papai, não é? Não estará sozinha. E Bela, lembre-se dos livros. Neles está uma magia, que ninguém tem o poder de explicar. Essa magia pode te acalmar, e te ajudar se eu não estiver mais com você. Eu te amo muito, Bela. Não se esqueça disso.
Não tive como responder, pois ela já fechava os olhos, cansada.
- Mãe? Mãe? - O pânico crescia dentro de mim. - MÃE?? - Ela não se mexia. - MÃE, MÃE, ACORDA MÃE!
Meu pai entrou no quarto, correndo em disparada e seus olhos se arregalaram.
- Não. Não. Não, não, não. Aridane, Aridane, por favor, não se vá!
Meu pai chorava e eu também. Enquanto isso, estava indo embora, uma das pessoas mais amadas no mundo por mim. Minha mãe. Tirada de mim. Tirada de mim graças a um rei tirano e soberbo, que nunca saberia do mal que estava fazendo a uma criança indefesa.
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Oieeeee! Gostou? Não gostou? Me fale! Gostarei de saber a sua opinião! Volto com mais assim que puder! Tchauzinho!

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